Os três lançaram a música e o videoclipe nesta quarta, 20
Em meio aos tempos difíceis, com o ódio tomando conta de muitas situações e países, “América Vibra”, música da banda brasileira Natiruts, em parceria com Ziggy Marley e Yalitza Aparicio, vem como um grito de justiça, e um protesto pelo fim das barreiras - visíveis e invisíveis - que polarizam as pessoas.
Para uma música com um significado tão forte sobre amor, justiça e igualdade, o Natiruts convidou um dos maiores nomes do reggae, Ziggy Marley, e a atriz mexicana indicada ao Oscar pelo desempenho no filme Roma (2018), Yalitza Aparicio - que foi nomeada uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela revista TIME, e não só pela atuação, mas por ser uma ativista e defensora da causa indígena.
“América Vibra”, lançada nesta quarta, 20, acompanhada de um videoclipe, é uma composição de Alexandre Carlo, vocalista do Natiruts, e de Ziggy Marley. A faixa é interpretada em português, inglês e espanhol - os três idiomas mais falados na América -, e reforça a ideia da união e justiça por todos os americanos.
A escolha do Natiruts de lançar “América Vibra” no início de 2021 como um recado de esperança e um protesto pela igualdade é muito certeira e significativa. A música integra o lançamento global do projeto de inéditas da banda - que estará disponível em todas as plataformas digitais até o início de abril.
Além da canção, a identidade visual de “América Vibra” é muito relevante. Para a capa da música, um dos mais reconhecidos muralistas da atualidade, com obras em cinco continentes, Kobra, fez uma arte impecável que apresenta Yalitza Aparicio, Alexandre Carlo e Ziggy Marley.
No videoclipe, com direção de Rick Brombal, não é diferente. Com uma mescla de imagens das Américas - Brasil, México e Estados Unidos -, o trio reforça, mais uma vez, a ideia de liberdade, amor, igualdade e rompimento das barreiras visíveis e invisíveis que polarizam tanto as pessoas.
Assista ao videoclipe:
YA: Como surgiu a ideia da canção e como foi o processo de composição?
AC: A ideia da música surgiu como uma forma de conectar as culturas presentes na América e no continente americano. A gente sabe que a América tem dois significados: pode significar o continente ou, para os estadunidenses, pode significar apenas os Estados Unidos.
Para a música, a ideia era justamente unir os três diferentes idiomas, os mais falados nas Américas: o inglês, o espanhol e o português. E, musicalmente falando, procuramos colocar elementos de algumas partes de culturas da América.
Na introdução, temos uma guitarra andina, muito presente aqui na Cordilheira dos Andes. No especial onde você [Yalitza] canta, procuramos colocar um trompete com influências de música mexicana e também o violão segue a tendência do ritmo caribenho. A melodia e a harmonia são brasileiras. E, ficou uma miscelânea muito bacana.
A parceria com Ziggy Marley iniciou com a ideia da canção. A companhia Sony Music Latin escutou a canção, a Sony Music Brasil também, as pessoas que estão ao nosso redor escutaram a canção e a acharam muito relevante. Logo, a gente sinalizou que gostaríamos de uma participação que, como já disse, dessem legitimidade à ideia da canção. Eles mostraram para o Ziggy Marley e ele gostou da música, da mensagem e da proposta, e compôs a letra em inglês, que se juntou à letra que eu havia composto em português e espanhol. E assim nasceu a “América vibra”.
YA: Como o Natiruts acredita que a canção pode impactar a vida das pessoas? Qual a importância da política através da canção?
AC: A música está no dia a dia e de forma imediata na vida das pessoas. Às vezes as pessoas acordam, estão almoçando, ou em um ônibus ouvindo uma canção, e estão sendo influenciadas de alguma forma por aquele conteúdo.
Nós do Natiruts entendemos que ato político não é só apoiar uma legenda política, ou um partido político, ou uma proposta política, ou até um político especificamente. Entendemos como ato político coisas que podem fazer a transformação em um ambiente que você vive. Você fazer uma música, por exemplo, sobre a preservação do meio ambiente é um ato político. Você fazer uma música sobre esperança é um ato político. É nesse conceito de ato político e de ferramenta política que usamos as nossas canções nesses vinte e quatro anos.
YA: Por que uma canção trilíngue? Por que eu e o Ziggy fomos os escolhidos para participar da música?
A ideia da canção ser trilíngue é pelo alcance que ela poderia ter, mesmo sendo trechos de cada língua. E, a ideia veio justamente das pessoas que participaram, porque queríamos pessoas que dessem legitimidade ao que estava sendo cantado e não queríamos escolher por números de seguidores, apesar de vocês [Yalitza e Ziggy] serem extremamente famosos no mundo inteiro e o Natiruts aqui no Brasil e em alguns lugares da América Latina.
Acredito que a canção tem uma intenção e um significado nesse momento que a gente está vivendo de coronavírus e em um momento onde, em um passado recente, houve a ascensão de líderes que têm uma forma diferente de se comunicar, uma forma mais intransigente, mais violenta, muitas vezes desrespeitosa com a ciência com as pessoas, e a legitimidade foi o ponto principal para a escolha de vocês dois. Vocês têm isso e a gente ficou muito feliz de vocês terem aceitado.
A importância de você [Aparício] vem novamente do que falei de legitimidade. Você é uma pessoa muito importante na sua figura. Suas falas, a filantropia e, ao mesmo tempo, você é uma atriz talentosa, que usa sua fama para levantar causas importantes, para dar visibilidade a causas importantes, que são extremamente relevantes para o futuro da humanidade do planeta Terra.
Acompanho o trabalho do Ziggy desde sempre, somos contemporâneos, temos quase a mesma idade. Ele começou muito cedo, no início dos anos 1980 e eu já acompanhava isso. Me amarro na forma como ele se comunica dentro da reggae music e isso me influenciou, porque ele procurou o caminho próprio dele, até porque com a relevância de Bob Marley no reggae é muito difícil você sair de Bob Marley. E ele conseguiu fazer isso. Isso me influenciou bastante para também procurar o meu caminho como compositor do Natiruts e o Natiruts como banda de reggae. Foi excelente essa parceria.
YA: Como os anos de carreira do Natiruts influenciaram na temática da canção?
AC: Os anos de carreira do Natiruts, os anos de vida, de experiência, de estrada, viajando por aí e conhecendo outras culturas influenciaram, porque, com tudo isso, a gente pôde ver como as culturas nas Américas são distintas, mas os problemas são basicamente os mesmos: fome, injustiça social e corrupção. Acredito que é por isso que a música ‘América Vibra’ liga a América como um todo.
AC: Você lembra como foi o convite para participar de ‘América Vibra’?
ZM: Foi uma conexão direta. Vocês me procuraram para ver se eu estaria disposto a fazer a música e eu estava mais que disposto a fazê-la. Estou muito feliz por termos feito isso. Foi uma ótima experiência.
AC: Qual é a urgência da mensagem que a música traz?
ZM: A mensagem de urgência é a conexão e o objetivo que temos como seres humanos. Estamos falando de toda a América, não estamos falando apenas dos Estados Unidos da América, estamos falando de todos os americanos. Portanto, temos uma conexão muito forte e é algo que afeta a todos nós como seres humanos.
AC: Você acredita que a música pode ser usada como uma ferramenta política?
ZM: A música pode ser tantas ferramentas, pode ser uma ferramenta política, pode ser uma ferramenta sexual. Todo tipo de música, quando bem pensada, pode ser usada para falar sobre qualquer coisa.
AC: Como você se conectou com o Natiruts e com Yalitza?
ZM: Sobre vocês, como banda de reggae no Brasil, achei muito interessante, e eu não conhecia Yalitza muito bem, mas passei a conhecer desde que fizemos essa música. Para mim, agora que fiz a parceria com vocês, foi bom para abrir minha mente e tentar ouvir mais músicas de outras regiões e artistas.
Para mim, esta é a vida, e parcerias assim são importantes para eu crescer como ser humano. Quando eu faço uma música como essa, com pessoas como vocês e como Yalitza, isso ajuda com que eu me torne uma pessoa melhor.
ZM: Você pode me falar um pouco sobre a relação que você vê entre música e política?
YA: A relação que encontro entre música e política é com o que está acontecendo atualmente. Exatamente assim. Esta relação pode ser um elo para unir as pessoas, para nos motivar, para seguir em frente.
"América Vibra" é muito inspiradora porque nos diz que não queremos essas paredes. O importante aqui é nos apoiarmos e estarmos unidos. E, como já disse muitas vezes, a música também nos une, mesmo que falemos línguas diferentes na América. Minha vida é um exemplo disso.
ZM: O que mais chamou sua atenção em ‘América Vibra’?
YA: Foi a mensagem transmitida e o fato de espanhol, inglês, português estarem unidos em uma única canção e, ao mesmo tempo, a música se dirigir ao mundo inteiro. É algo incrível. É o que eu havia imaginado antes, mas é algo nos ajudou para que as pessoas percebam que não existem diferenças que nos tornam mais ou menos.
ZM: Como o ativismo político da sua vida está refletido em ‘América Vibra’?
YA: Meu ativismo pela música se reflete nessas mensagens, e na mensagem que está sendo transmitida. Sempre pedi respeito e equidade de gênero, igualdade, e que as pessoas percebem os nossos direitos, que devem ser respeitados. Não podemos simplesmente nos julgar por isso e pelas classificações que foram determinadas há anos. A música nos fala sobre não querermos mais que essas situações surjam, pelo contrário, queremos que surjam mais oportunidades. Foi por isso que encontrei essa ligação entre as causas sociais que faço com ‘América Vibra’.
ZM: Como você acha que sua influência como pessoa e como artista afeta a vida das pessoas?
YA: Acredito que a influência de todas as pessoas que estão diante das câmeras influencia o resto da sociedade, porque somos um exemplo a seguir. Todo mundo tem seus gostos. Todos seguem pessoas diferentes, mas depende de nós o que queremos ensinar ou transmitir àquelas pessoas que nos admiram e seguem o nosso exemplo.
Desde o primeiro dia em que comecei neste meio, percebi como cada ação ou cada passo que dou pode ter um impacto na sociedade. Por isso, sempre tentei fazer da melhor maneira ou da maneira como eu gostaria de ver quando eu era pequena.
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