Projeto do canadense Dan Snaith retorna ao Brasil para show em São Paulo, no Cine Joia, em 22 de março
Dan Snaith é de origem canadense, mas mora em Londres, na Inglaterra. “Desde 2001”, ele revela. “É comum para canadenses irem a Londres, mas meus pais são ingleses então sempre tive essa influência”. Da capital britânica, ele conhece o Brasil praticamente apenas pela música. “Curiosamente, o disco mais recentemente que eu comprei é brasileiro”, diz ele, em conversa por telefone, em meados de janeiro, à Rolling Stone Brasil. “Não sei muito sobre ele, mas se chama... Sexteto do B-E-C-O, está certo isso?”, questiona, tentando de maneira falha soletrar a palavra “beco”.
Na próxima quarta, 22, Snaith retorna ao país para o segundo dele show dele com o Caribou em São Paulo, no Cine Joia, em edição do Popload Gig. Fã de tropicália, ele se considera um nerd em quase tudo que faz. Foi assim quando estudava matemática na universidade e é assim, especialmente, com música. “Tipo, eu sei que Caetano Veloso e Jorge Ben são grandes estrelas no Brasil, mas esses discos que são raros para pessoas de fora, eu não sei se são conhecidos aí ou não”, comenta, curioso. “Eu conheço as coisas por meio de colecionadores de discos de Londres ou do Canadá. Em todo lugar do mundo existem esses álbuns cult perdidos, mas até mesmo a música mais popular de uma certa época no Brasil era fantástica, tipo melhor que em qualquer lugar do mundo. Mas obviamente eu não tenho que explicar da cultura musical do Brasil para você [risos].”
Um dos três primeiros discos do Caribou, Andorra (2007), segundo Snaith, trazem influências dos arranjos de nomes como Arthur Verocai e de boa parte do que foi produzido por aqui entre as décadas de 1960 e 1970. Andorra, aliás, é um dos álbuns da “primeira fase” do Caribou, quando o canadense lançou três discos que pouco têm a ver um com o outro: a lisergia de Up in Flames (2003), o pop nostálgico de Andorra (2007) e o krautrock de The Milk of Human Kindness.
“Ai meu deus, sou definitivamente um cara nerdy”, ele se define, deixando escapar uma risada e esclarecendo que, contudo, “não é antissocial”, mas “descubro sobre coisas raras e pesquiso música em vinil, YouTube, ou qualquer coisa que se possa ouvir”. O apetite auditivo certamente ditou a primeira década da carreira da produção de Caribou, em que ele foi reconhecido especialmente por mostrar ideias inéditas em torno de gêneros já estabelecidos – e fazendo isso de um jeito diferente a cada novo lançamento.
“Para cada disco que fiz com outras influências, eu fiquei muito tempo ouvindo, pesquisando e entendendo”, lembra. “Mas quando penso sobre a minha obra, a parte que me deixa menos satisfeito – incluindo algumas coisas de Andorra – são... [Pausa]. Se você se aprofundar muito, você acaba fazendo música que não soa como você, mas sim como uma homenagem ao que você ama.”
Não é como se os discos de “homenagem” do Caribou fossem limitados como a expressão sugere – pelo contrário, caíram nas graças da crítica e estabeleceram a banda em um primeiro momento –, mas a chave virou para Snaith por volta de 2008. O canadense, que frequentemente também atua como DJ, ficou encantado pela emergente cena londrina de música eletrônica da época. Em Swim (2010), álbum divisor de águas para o Caribou, Snaith buscou inspiração não em discos antigos e sonoridades esquecidas, mas sim nos clubes da cidade dele.
“Acho que Swim foi o álbum em que encontrei meu som”, confessa, sem muita cerimônia. “Eu vi as pessoas fazendo sons novos e queria fazer aquilo, mas ninguém sabia direito o que era. Então, tive que descobrir por conta própria”. A abordagem sonora, mantido no sucessor, Our Love (2015), é centrada na música eletrônica, reunindo texturas raras, vocais sintéticos e uma rica variedade de batidas, o que distancia o resultado final do techno mais tradicional. “Então esses discos foram muito mais olhar para frente do que tentar recriar algo do passado”, diz.
Se Swim foi a ruptura, Our Love serviu para expandir e aprofundar o eletrônico em Snaith. Fez também algo inédito: foi o segundo disco seguido do Caribou a manter uma linha conceitual. Mas Our Love é suficientemente diferente de Swim para ser considerado uma evolução: é mais solto, direto e otimista que o antecessor, com Snaith explorando os próprios vocais como nunca antes. Mais do que ser influenciado por uma expressão musical emergente, ele começou a se basear na própria vida – e não só nos próprios gostos – para compor.
“São dois tipos de abordagem sobre o mesmo conceito, ou o mesmo alicerce”, concorda. “Sinto que Our Love foi meu trabalho mais pessoal e, com ele, me aprofundei em coisas que fiz no passado, em termos de estilo, mas quis fazer inteiro ‘meu’, com as letras e com o tom do álbum. E, como você disse, o otimismo, acho que essa é uma boa palavra para usar. Isso teve tudo a ver com a minha vida pessoal: ter um filho, estar mais em casa, não tanto em turnê, não tanto em clubes noturnos.”
No Brasil, o Caribou sobe ao palco do Cine Joia no formato de trio usado há anos, com repertório focado nos dois últimos álbuns, os da fase eletrônica. Mas Snaith voltou a compor recentemente para o próximo trabalho e, independente do resultado em termos de som, a ideia recém-estabelecida permanece. “Não sei se o próximo vai ser uma ruptura total ou uma evolução disso”, revela, citando o hip-hop e o R&B contemporâneo dos Estados Unidos como o que de melhor tem sido feito atualmente e ressaltando a perda de força da cena londrina de música eletrônica de dez anos atrás. “Só sinto que essa coisa de tentar procurar minha sonoridade própria é algo que vai continuar, mais do que aquilo que me influencia.”
Os ingressos para o Popload Gig com o Caribou já estão sendo vendidos no site do Ticket Load. As entradas custam entre R$ 240 (pista) a R$ 370 (pista premium), com opções de meia-entrada.
Popload Gig com Caribou em São Paulo
22 de março (quarta-feira), às 22h30 (abertura às 21h)
Cine Joia | Praça Carlos Gomes, 82 – Centro, São Paulo
Ingressos: entre R$ 240 (pista) a R$ 370 (pista premium), há meia-entrada. Veja mais informações