A artista lança o single 'TOMA ESSA' amparado por um curta-metragem estrelado por Ney Matogrosso - juntos, os artistas conversam sobre os caminhos que os levaram até aqui
Dono de uma imensa fluidez artística, Ney Matogrosso se reuniu com Duda Brack para o lançamento do curta-metragem de "TOMA ESSA". Idealizado, escrito e dirigido por Duda, em parceria com o coletivo de criação Pink e o Cérebro, o registro apresenta Ney Matogrosso e Gabriel Leone como os protagonistas que dão vida a história por trás do single, "TOMA ESSA", lançado na última quarta, 4. O projeto multimídia integra o segundo disco de estúdio da cantora, previsto para 2021.
O encontro incrível entre as duas figuras aconteceu no "Primavera nos Dentes", criado por Charles Gavin, em que Duda foi vocalista. "Eu adorei. Ela cantava sucessos meus de uma forma só dela. A Duda é uma artista do agora e com um futuro brilhante", aposta Ney. Em uma entrevista concedida à Rolling Stone Brasil, Ney Matogrosso conversou com Duda Brack sobre a relação dela com a música e primeiras interpretações, enquanto Duda Brack entrevistou o ídolo após a participação do projeto. Veja a conversa a seguir:
Quero saber sobre você, antes de me conhecer. Sei que você é gaúcha, mas não sei de você antes. Onde começou, cantou pela primeira vez, como essa história da música chegou até você e quem te influenciou e gerou esse movimento musical?
A música é algo que veio muito de dentro para fora. Não cresci em um ambiente muito musical, não tenho músicos na família. E nem um convívio deles de cultura musical próxima. Então foi algo muito meio. Sempre gostei muito de cantar no chuveiro, de brincadeiras que envolviam performances. Gostava muito de dançar, cantar, desfilar, atuar.
Mas comecei a cantar mesmo com uns 15 e 16 anos, acho que foi ali que comecei a entender o quanto isso era importante para mim e o que eu alcançava um estado de "supraexistência" — quase como se eu me sentisse mais confortável no mundo quando eu estava fazendo isso. E aí comecei a cantar em bares, grupos vocais, festas de formatura e casamentos.
Quando eu vi, todo o meu círculo de amizade girava em torno da música e a minha vida também. Depois eu vim para o Rio de Janeiro, aos 18 anos, e entendi um pouco mais do que eu queria fazer como artista e o que eu queria propor.
Acho que tem a ver com as coisas que eu tava escutando na época: muita música brasileira dos anos 1970. Muito Caetano Veloso — ele, com certeza, é uma das minhas referências, assim como você —, a Gal dos anos 1970 — Fatal, Índia. Foi um momento que eu também comecei a ouvir mais rock, como o Led Zeppelin. Ali entendi que queria provocar uma sensação forte nas pessoas. Conheci vários cantores da minha geração que estavam compondo lindamente, comecei a cantar em festivais, montei uma banda e gravei o meu primeiro disco, que saiu em 2015. Depois o Charles me ouviu, me chamou para o Primavera nos Dentes, e a gente se conheceu.
Você sabe que eu gosto muito quando você toca violão, né? Você pretende se aprofundar nisso? De fazer um show sozinha, como tem feito nas lives e se saído muito bem?
Só se você dirigir o show! [risos]. Essa coisa do vilão, sempre fiquei insegura, porque não sou uma exímia violeira, eu toco o pouco que eu preciso para fazer a canção acontecer. Mas aí durante esse período de isolamento fiquei no exercício de fazer as lives — que era a forma que eu tinha de estar me comunicando com as pessoas — e acabei tendo uma resposta muito positiva desse lugar. Da voz e violão mesmo, parece que ali as pessoas conseguiram acessar uma conexão diferente comigo e com a minha voz. Então, tenho pensado muito sobre isso sim, pensando em uma forma que eu possa me apresentar de uma forma nua e crua mesmo.
Percebo que a sua história envolve um núcleo familiar e, por envolver família, sempre existem dois lados, um que leva para frente e outro que pode interferir. Gostaria de entender como funciona e qual é o seu pensamento sobre isso.
Minha mãe e minha irmã trabalham comigo na direção criativa dos meus projetos e eu divido muito com elas os meus processos. Temos um coletivo juntas, Pink e O Cérebro — um coletivo de criação onde movemos os meus projetos, mas também de outros artistas. É bem complexo, não vou dizer que é fácil, porque às vezes o almoço de domingo vira discussão de trabalho e a discussão passeia por veredas que são pessoais. Então é muito difícil, mas, por outro lado, a confiança é absoluta. Tenho muita dificuldade de confiar e de delegar, então trabalhar com elas é muito bom, porque eu sei que são duas pessoas que me conhecem melhor do que ninguém e defendem muito os meus interesses quando estão trabalhando comigo. Elas também sempre estão me provocando em algum lugar: ‘será que isso que você está propondo é o melhor caminho?’. Nessa parte criativa é muito gostoso trabalhar com elas. O modus operandi da coisa que às vezes, é difícil.
Você tem alguma noção do que você pretende fazer futuramente? Porque eu me descobri criando uma relação com músicas para um show que eu nem sei quando vai acontecer. Queria saber se você sente esse estímulo também.
Sim! Acho que quando eu detecto que estou no fim de um ciclo simultaneamente eu estou no início de um novo. Acho que cada disco, cada show, cada movimento artístico que a gente faz, para mim, é muito sobre deixar coisas para trás e se abrir para coisas novas, ver outras experiências, ser outras, sem deixar de me ser. Agora, por exemplo, eu vejo que estou no fim do segundo disco, e aí tem todo esse desdobrar, tem turnê para acontecer — se o Covid-19 passar —, e eu vou poder experimentar outras coisas, de viver isso no palco. Mas já estou começando a pensar em outros caminhos estéticos, outras canções e necessidade de me expressar de outras formas.
Queria te perguntar como você usa sua força sexual para mover a sua força criativa, e se em algum momento da sua carreira você se sentiu marginalizado e/ou rejeitado por expressar de uma forma tão livre a sua sexualidade dentro do seu trabalho?
Olha Duda, essa expressão da minha sexualidade ela vem automaticamente. Não é uma coisa que eu determino ou forço. Ela vem espontaneamente. Agora se fui marginalizado, não tenho a intenção de ser unanimidade, em algum momento, alguém não vai gostar disso. Mas aí eu to exercitando a minha liberdade de expressão artística.
Ainda sobre se dar o direito e a liberdade a respeito do território do próprio corpo e do desejo em uma sociedade que conduz a gente a estar aprisionado, eu queria falar sobre criação da autoimagem e autoafirmação. Sempre foi um território de muita segurança para você a forma como você usa o seu corpo e a forma que você se vê? Você sempre teve uma autoestima em relação a isso ou a própria manifestação artista foi uma forma de conquistar esse poder pessoal e autoconfiança?
A coisa começou muito tarde comigo, então, eu já era meio assim. Sabia o que eu acreditava, o que eu gostaria de fazer, porque quando eu cheguei do Secos & Molhados, já cheguei de mala e cuia e já vim para fazer. Para ser um cantor — eu nunca tinha cantado profissionalmente. Mas posso te afirmar que desde o começo eu tinha muita segurança daquilo que eu estava fazendo. Não sei explicar o porque e nem como. Mas tinha.
Agora falando sobre o clipe de "TOMA ESSA" e do meu trabalho, sobre a sua proximidade, a sua presença e o diálogo artístico que a gente vem abrindo. É evidente para mim o quanto eu carrego a sua influência em tudo que eu construo no meu trabalho. É lógico que eu sempre tento fazer tudo do meu jeito, e acho que até isso eu aprendi com você. Mas isso é evidente para você quanto é para mim? Você vê a sua influência na estética do resultado do meu trabalho? E como é para você adentrar em um território que foi influenciado por você? Como é abrir o dialogo com um artista que bebeu da sua fonte?
Para mim não é problema nenhum, acho que inspiração todos nós temos. Em alguma instância, alguém nos inspirou. Quando eu fui ver o Primavera nos Dentes, eu vi que existia isso, mas o que eu achei muito interessante é eu era uma inspiração para você, mas tinha essa coisa original. Isso fazia você esbarrar em mim, mas que era você do seu jeito esbarrando em mim, sabe?
Sendo um artista tão múltiplo, o que você acha da proposta do clipe de "TOMA ESSA", o que você acha dessa proposta de fundir música e cinema para contar uma história por capítulos. O que acha da música como uma linha que costura uma narrativa?
Gosto de coisas arriscadas. Gosto de propostas arriscadas e diferentes, e essa era muito interessante. Porque as pessoas fazem um clipe e a coisa está posta ali. Mas você não, você está fazendo uma série, e com uma história que vem percorrendo alguns capítulos. Gostei de participar. Acho muito bom e interessante.
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