"Quando se trata de futebol, quem realmente manda nessa porra é a FIFA, e a FIFA só está preocupada com a audiência”, disse o diretor
O diretor norte-americano Spike Lee (foto) comentou a decisão da Federação Internacional de Futebol (FIFA) de vetar os atores Lázaro Ramos e Camila Pitanga, cotados inicialmente para apresentar o sorteio dos jogos da Copa do Mundo 2014, marcado para o próximo dia 6, na Costa do Sauípe (BA). Em entrevista à Rolling Stone Brasil nesta terça, 26, Lee disse acreditar que a decisão da FIFA, que preferiu os atores Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert – ambos de pele clara – teve como objetivo preservar a imagem da associação no exterior.
“Isso mostra quem realmente está no comando. Quando se trata de futebol, quem realmente manda nessa porra é a FIFA, e a FIFA só está preocupada com a audiência”, disse o diretor, que está no Brasil para dirigir uma ação publicitária da LG. A campanha tem estreia prevista para o próximo mês, e será protagonizada pelo cantor Seu Jorge, que também opinou sobre a decisão.
“A FIFA não age da mesma forma no Brasil como agiria em outros países. Isso jamais aconteceria nos Estados Unidos se eles escolhessem o Jay Z e a Beyoncé para apresentar algo assim”, comparou o carioca. Exaltado, Seu Jorge destacou a possível influência do racismo na escolha. “Eu conheço a Fernanda e o Rodrigo, são pessoas legais. Eles não têm culpa. O problema é que no nosso país preto não é bonito, preto tem ‘traços finos’. Ninguém admite a beleza negra.”
Em comunicado divulgado nesta terça, 26, a FIFA argumentou que a preferência por Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert não teve motivação racial. Segundo a federação, a mudança ocorreu por “experiências bem-sucedidas em eventos anteriores” - Fernanda e Rodrigo apresentaram o evento de lançamento da logo oficial da Copa, em julho de 2010.
Além da campanha da LG, Spike Lee tem outro projeto em desenvolvimento no Brasil: o documentário Go, Brazil, Go!, que analisa, do ponto de vista cultural, a ascensão recente do país no cenário mundial. Segundo Lee, o plano é lançar o filme antes da Copa do Mundo 2014, e o racismo no país está entre os temas abordados. “Mas não apenas isso”, ressaltou. “O racismo existe no mundo inteiro, não só aqui.”