Cantora veio ao país com a turnê do álbum The Fall e lotou o Parque da Independência em show gratuito
Cerca de 25 mil pessoas no Parque da Independência e 18 mil sem poder entrar no local, devido à lotação. Um mar de cabeças no quase que "anfiteatro natural". A atração? A cantora norte-americana Norah Jones, com entrada franca. "Acho que este é o maior público para o qual já me apresentei", disse ela. Jones veio novamente ao Brasil (ela esteve aqui em 2004), mas desta vez com algumas diferenças tanto em relação ao seu visual, quanto no que se refere ao seu som. Nada que prejudique - a doçura e a suavidade de suas canções permanecem firmes.
Pontualmente às 17 horas ela subiu ao palco no histórico local onde D.Pedro I proclamou a Independência do Brasil, acompanhada de sua banda (Sasha Dobson a cargo do backing vocal e de diversos instrumentos, Smokey Hormel na guitarra, John Carroll Kirby nos teclados, William Gustavus Seyffert no baixo, e Jon Joseph Waronker na bateria), e executando "I Wouldn't Need You". A balada é aquela com a qual qualquer alma choraria num canto escuro sofrendo por um amor mal sucedido. Porém, o interessante é que não houve um deslocamento desta ao ser executada em um ambiete aberto, durante o dia e para um público tão grande. Pelo contrário. A leveza das faixas de Jones vieram a calhar no clima de fim de tarde (com sol tímido, que aparecia e se escondia) de um domingo agradável. A sensação de ouvir a voz da cantora ao vivo é a mesma de escutá-la em um CD. Uma delicadeza verdadeira que não enjoa.
O motivo de sua presença é a divulgação do mais recente álbum, The Fall (2009). Você se lembra daquela garota que, bem no começo de sua carreira, majoritariamente comandava suas faixas sentadinha no piano? Pois bem, esta mesma agora inicia suas apresentações tocando guitarra - e assim se mantém na maior parte do tempo. A fase é nova para Norah Jones (e o cabelo também). Simpática, misturou português e inglês nos diversos momentos em que se comunicou com os brasileiros. "Vocês são muitos", disse, surpresa com a quantidade de pessoas presentes no evento. "Tell Yer Mama", faixa com levada country (influência encontrada em inumeras de suas canções), deu sequência, assim como "Light As A Feather" - ao vivo, um hipnótico rock.
Em "Even Though", deixou a guitarra de lado e assumiu o piano elétrico. "Young Blood" e "It's Gonna Be" (esta última, forte e com batida marcada, é uma das melhores, senão a melhor, de The Fall) seguiram. "Faremos mais uma música do meu novo álbum e depois tocaremos algumas antigas", falou. "Chasing Pirates" veio com recepção empolgada dos fãs. O set list de Norah Jones não só também contou com as canções que seu público queria ouvir (como "Come Away with Me", do bem sucedido álbum homônimo, lançado em 2002), como também clássicos de quem a própria cantora tem muita admiração: Tom Waits e Johnny Cash ("Long Way Home" e "Cry, Cry, Cry", respectivamente).
Eram 17h45 quando Jones se sentou pela primeira vez ao piano, e a música era "Waiting", seguida por "Back To Manhattan", ambas de The Fall (apesar de ter dito que daquele momento em diante só rolariam sucessos dos álbuns anteriores), mostrando o peso do disco na seleção do repertório para o show, que, apesar de ainda trazer o jazz característico da cantora, teve um predomínio maior de rock, country e folk. Jesse Harris, responsável pela abertura da apresentação quando o relógio ainda marcava 16h, foi convidado para tocar com a banda o hit "Don't Know Why", composto por ele. A faixa foi ovacionada pelo público e foi um dos pontos altos do show, como era de se esperar. "Lonestar" ficou a cargo do encerramento, preparando o bis.
Muitos não sacaram que a apresentação ainda não havia terminado, e, talvez, por um pouco de receio da muvuca por conta do grande número de pessoas, já rumaram a caminho da saída. Todavia, Norah Jones, em coisa de um minuto, retornou para um bis acústico. Não fosse o baixo som, a execução teria sido melhor. A linda "Sunrise" foi tocada com os integrantes unidos na frente do palco. "How Many Times Have You Broken My Heart" integrou o bis e "Creepin' In" encerrou o show que teve duração de uma hora e meia. Como homenagem aos brasileiros que lotavam o Parque da Independência, um trechinho de "Asa Branca", obra-prima de Luiz Gonzaga, foi inserido na última faixa, encerrando a bem sucedida apresentação.
Norah Jones segue para o Rio de Janeiro, onde se apresenta no próximo dia 16 no Vivo Rio, e para Porto Alegre, com show marcado para o dia 18, no Teatro Bourbon.