Ruas lotadas, shows populares e cheiro de urina marcaram o domingo da Virada
O site da RS voltou à Virada Cultural na manhã deste domingo, para acompanhar os grandes shows marcados para as ruas do centro, como Ultraje a Rigor e Jorge Ben Jor, além da apresentação estrangeira usada como carro-chefe pela organização, o DJ Afrika Bambaataa. Fernanda Takai, Marcelo D2 e Lobão também se apresentaram.
Saiba como foram os shows do sábado aqui.
Leia sobre apreensões de isopores dos ambulantes aqui.
Abaixo, o que a reportagem deste site viu no domingo:
Overcoming Trio, às 11h
Sol a pino, pouco vento e uma cantora quase que mirim. Isso poderia sinalizar pouca gente diante do Palco das Meninas, próximo a Praça da República, às 11h da manhã deste domingo. Mas foi o contrário: Mallu Magalhães apresentou seu folk para uma platéia numerosa - e conseguiu empolgá-la diante do palco. Acompanhada de Helio Flanders, vocalista do Vanguart (que se apresentou no sábado no Palco dos Independentes) e Zé Mazzei (baixista do Forgotten Boys) a menina de 15 anos mostrou as músicas que a consagraram na internet como nova aposta indie - entre elas "Don't You Leave Me" e "J1" - e covers de Bob Dylan. Em "It´s All Over Now Baby Blue", ela e Flanders têm de recorrer à letra no papel para poder cantar, o que se repetiria em canções seguintes. "House of the Rising Sun", clássico folk mais conhecido na versão do Animals, foi o ponto alto - ela grita sem desafinar, é aplaudida e começa a se soltar. A interação entre ela e Flanders é visível. Durante as músicas, ele cochicha ao ouvido dela, que muitas vezes ri. O violão nas costas da menina é algo como um enfeite - ela toca o instrumento poucas vezes, mas quando o faz, não decepciona. A timidez e os comentários nonsence ("Essa é uma música minha e do Helinho...Porque a gente fez junto!") conquistam o público. Quase no final, Flanders tenta explicar a existência da banda. "O principal objetivo do Overcoming Trio é tocar folk, numa época em que infelizmente isso está na moda". O fato de ser conhecido e apreciado por mais gente não diminui a importância do gênero. E é essa moda que torna possível o aparecimento de artistas como Mallu ou o próprio Vanguart na mídia. (Bruna Veloso)
Marcelo D2, às 12h
Marcelo D2 há muito não é o porta-voz da "apologia" musical às drogas - nem por isso, deixa de relembrar os tempos de Planet Hemp em seu show. A avenida São João estava lotada, e a cada hit - fosse dos velhos tempos ou algum dos vários que caíram no gosto do público e da mídia com o Acústico MTV - o povo pulava, cantava em coro e levantava as mãos pro alto. Ao contrário do que aconteceu em vários palcos na noite do sábado, o som estava alto e claro. "À procura da batida perfeita", "Contexto" e "Gueto" estavam entre as mais cantadas pela multidão. Ao terminar a segunda delas, Marcelo D2 ironizou: "Dos maconheiros mais famosos do Brasil". Para entrar no clima de "viva São Paulo" implícito na Virada, D2 mandou "Trem das 11", dos Demônios da Garoa. Fernandinho BeatBox deu um show à parte, usando, obviamente, apenas a boca - e em determinado momento, uma gaita - para recriar música eletrônica, rap e rock - este último representado pela música "Seven Nation Army", do White Stripes. (Bruna Veloso)
Lobão, às 16h
Lobão se apresentou no Palco Rock República - o mais bonito dos montados no centro, de fundo vermelho e decorado com inúmeros discos de vinil pendurados por fios invisíveis - para uma praça abarrotada. Tinha gente em cima do orelhão e empoleirada nas árvores tentando enxergar os músicos. O cantor mostrou o show Acústico MTV, que de acústico só tem o nome. A figura de Lobão, sentada, não combina com o peso adquirido por músicas como "Decadence Avec Elegance" e "Ronaldo Foi Pra Guerra". Lobão arrota ao microfone para depois mandar "Vida Louca Vida" (composição do Cazuza, a mais cantada pela platéia). O bandolim em "Me chama" foi de encher os ouvidos. Ele também lembrou Raul Seixas, com "Gita"; de longe, do outro lado da praça, ainda dava para escutar os ecos do público cantando junto. (Bruna Veloso)
Afrika Bambaataa, às 17h
A apresentação de Bambaataa atrasou meia hora, o que serviu para que muitas pessoas chegassem ao local. A diferença de tribos no Parque Dom Pedro era uma das maiores de todo o evento, e entre descolados e fãs do rap, dos curiosos aos fiéis da cultura de periferia, uma harmonia pairava enquanto MCs davam sua canja no aguardo do ícone do hip-hop. A Praça Ulysses Guimarães tinha menos policiais fazendo revista em quem entrava no local, mas a venda de cerveja ainda era proibida. O bonito palco com panos grafitados já estava ganhando menos luz quando Afrika Bambaataa entrou, e, a exemplo do que fez em 2007, deixou a desejar já após os quinze primeiros minutos de show. Antes, animou o público com intervenções e rimas em cima de clássicos do soul, funk e rap, músicas como "Papa's Got a Brand New Bag", de James Brown, e "Kiss", do cantor Prince. Ao passar da apresentação, porém, se tornou repetitivo, e entregou cada vez mais o comando do espetáculo para seus DJs, que se divertiam na discotecagem. (Artur Tavares)
Fernanda Takai, às 17h
Fernanda Takai foi outra artista que se atrasou, subindo ao Palco das Meninas mais de vinte minutos depois do horário previsto. O som estava baixo - bastava atravessar a rua para não se entender uma palavra sequer que saia da boca da cantora. Mas a moça, como esperado, ganhou na simpatia. Fernanda mostrou canções de seu projeto solo, Onde Brilhem os Olhos Teus, no qual interpreta Nara Leão. A cantora, vestida toda em tons de roxo, começou o show com 'Ta Hi", para uma rua mais do que lotada. Em seguida, emendou "Diz que Fui Por Aí". Ela estava animada, dançou e conversou com o público. Antes de cantar "Odeon", conta que o chorinho de Ernesto Nazareth "ganhou letra a pedido de Nara". Mariá Portugal, backing vocal e percussão, marcou pela presença de palco. (Bruna Veloso)
Ultraje a Rigor, às 18h
A Praça da República estava tomada para a apresentação do Ultraje a Rigor, já às 18h do domingo. Entre o público, dorminhocos descansavam da noite de farra deste sábado. A grande árvore de grossos galhos ao lado do palco estava tomada por escaladores que não queriam perder uma boa visão de seus ídolos. Os menos ousados decidiram ficar no chão mesmo, e com sorte conseguiam não ter nenhuma árvore (estas, de galhos menores) em seu campo de visão. Escalados para tocar o álbum Nós Vamos Invadir Sua Praia na íntegra, os integrantes do Ultraje subverteram e fizeram um delicioso passeio por sua carreira. O público foi ao delírio e acompanhou as letras de músicas como "Filho da Puta", "O Chiclete", "Nada a Declarar" e "Inútil". Roger ironizou que era ingênuo na época que compôs as músicas, já que "elas quase não têm mais a ver com os dias de hoje". Na música que batiza o mais clássico dos discos da banda, o cantor Lobão foi convidado a tocar bateria. Ele também participou da gravação do álbum, na década de 80. A banda ainda mandou um cover de "Sheena is a Punk Rocker", dos Ramones, e, incentivada pelo coro "Hey, Ho, Let's Go!" do público, mandou ver uma canja improsivada de "Blitzkrieg Bop", também do grupo punk. (Artur Tavares)
Jorge Ben Jor, às 18h
Caminhar da República até o Palco da São João, perto do fim da Virada, foi tarefa penosa - difícil encontrar alguma esquina que não cheirasse a urina. Os banheiros químicos já estavam inutilizáveis, e deu para contar pelo menos cinco pessoas dormindo mais do que profundamente, largadas na calçada. Mas ninguém estava ligando muito para isso. Era hora de ouvir Jorge Ben Jor, última atração daquele palco. O swing do carioca fisgou a multidão, que cantou a plenos pulmões músicas como "Alcohol", "Que Pena" e "País Tropical". Jorge não precisaria nem pedir: o público se adiantou, bateu palmas e levantou os braços incontáveis vezes. Ele tocou "Rio Maravilha" antes de ir ao camarim e voltar com "Jorge da Capadócia". Em "Gostosa", o rito habitual - Jorge chama diversas meninas para subirem ao palco e fazerem festa com ele, em pé, abraçando uma de cada lado, se ajoelhando diante da platéia. Jorge tocou por cerca de duas horas. Fogos foram lançados para marcar, em tons de apoetose, o fim da Virada. (Bruna Veloso)