No palco do Sesc Vila Mariana, em São Paulo, cantora mostra que evoluiu, mas que não é uma artista completamente diferente da garota que surgiu há quatro anos na internet
Mallu Magalhães não é mais a garota que surgiu em 2008 na internet com voz infantil e hits onomatopeicos. Ela mudou – e isso já é senso comum, principalmente após um ensaio publicitário em que apareceu sensual, no início do ano, e o clipe de “Velha e Louca”, em que ela mesma canta: “Amigo, eu tô em outra. Eu tô ficando velha”. Mas se o álbum Pitanga, lançado no ano passado, mostra uma evolução tão grande e completa em seu trabalho, a apresentação ao vivo fica no meio do caminho entre a primeira e a segunda fase da carreira da cantora. Pelo menos foi essa a impressão deixada no show de lançamento do disco (que, na verdade, saiu em 2011), no palco do Sesc Vila Mariana, em São Paulo, na noite deste sábado, 30.
A faixa de abertura, “Cena”, evidencia logo de cara a influência do namorado Marcelo Camelo na elaboração deste projeto. A escolha por timbres delicados e melódicos atravessa toda a apresentação, mas esta primeira canção em especial tem uma guitarra melancólica e um solo que facilmente estariam em uma composição do Los Hermanos. Mallu mostra intimidade com os acordes da música, que já toca desde antes do lançamento de Pitanga. O mesmo não aconteceu em alguns outros momentos, como por exemplo quando ela errou a letra de “Xote dos Milagres”, surpreendente cover do Falamansa escolhido para integrar o repertório. Levando em consideração que é uma turnê nova, não foram raros os desencontros não só da cantora como de sua banda, composta por Davi Bernardo na guitarra, Rafael Miranda na bateria, Thiago Consorti no baixo e Rodolfo Guilherme nos instrumentos de sopro.
Faixa a faixa, o novo álbum é apresentado ao público, que, no decorrer da apresentação, percebe que a transformação da artista não é tão gritante como aparentou àqueles que se surpreenderam com o som de Pitanga. Durante as primeiras músicas, Mallu não conseguiu se desvencilhar de sua já tradicional timidez. Sua imagem juvenil ressuscitou quando, ao acabar de cantar o belo samba “Ô, Ana”, agradeceu sem jeito à plateia com um singelo “obrigado a todo mundo”.
“In the Morning” é uma das faixas do novo disco que remetem à “antiga Mallu”. Embora mais complexa e entoada por uma voz mais madura, conserva a felicidade ingênua dos tempos de “Tchubaruba”. Foi no fim desta música que uma transformação começou a acontecer no palco. Até esta que foi a sexta canção do set list, a cantora parecia ter dificuldades para se entregar às canções e cantá-las com mais segurança. Mas a deliciosamente preguiçosa “Por Que Você Faz Assim Comigo?” finalmente mostrou a mulher que a plateia estava curiosa para conhecer – e as palmas exaltadas provaram isso.
Pela temática e repercussão, “Velha e Louca” é sem dúvida a música que mais divulgou a nova fase de Mallu Magalhães, que por sua vez deu a devida atenção à composição, mostrando-se mais segura, ensaiando até mesmo alguns passos de dança e explorando um pouco mais o palco. Não fosse um teatro, o público com certeza a acompanharia com mais vigor (a própria cantora reclamou da distância entre ela e a primeira fileira). O problema foi solucionado quando Mallu pediu que os presentes se levantassem e se aproximassem antes de ela cantar “Me Gustas Tu”, cover de Manu Chao.
A última música do set list não poderia ser mais representativa. “Sambinha Bom” já demonstra ser outra faixa bastante querida pelos fãs, e é uma das canções que dificilmente Mallu cantaria não fosse a influência de Camelo. Ele, inclusive, apareceu nos últimos acordes junto à equipe de apoio, cada um com um chocalho na mão, em uma aparição sem qualquer pretensão técnica, mas explicada pelas merecidas palmas que homenagearam o principal influenciador na evolução musical da estrela da noite.
Mallu de fato mudou. Hoje sua música tem consistência estética e um repertório muito mais criativo e apurado. Não se pode, por outro lado, supor que as singularidades da cantora foram deixadas de lado (a timidez, por exemplo), pois a “mulher” Mallu, como dizem, é, assim como acontece com qualquer pessoa, a evolução natural de uma menina que talvez nunca deixe de existir.