Número de negros vacinados contra Covid-19 é quase metade dos brancos imunizados no Brasil
Dados do levantamento realizado pela Folha de São Paulo refletem a desigualdade racial estrutural na sociedade brasileira
Redação
Publicado em 26/03/2021, às 15h50A pandemia de Covid-19 evidenciou ainda mais a desigualdade racial no Brasil. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do IBGE, 56,10% da população brasileira é negra, contudo, o número de vacinados contra Covid-19 no país é majoritariamente branco.
Segundo levantamento feito pela Folha de São Paulo a partir de microdados do Ministério da Saúde, 38% dos vacinados até agora são brancos, enquanto 21% são pretos ou pardos, 12% amarelos, 2% indígenas e 27% não informaram.
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Até segunda, 22 de março, foram 3,9 milhões de doses aplicadas em brancos e 2,2 milhões em negros, de acordo com a Folha. Os dados representam uma defasagem em relação aos números divulgados pelos estados, mas continuam a evidenciar a desigualdade racial no Brasil.
Os grupos prioritários da campanha de vacinação são idosos e trabalhadores da saúde, dos quais pretos a pardos são minorias. Conforme divulgado pela Folha, o censo mais recente do IBGE, de 2010, indica que 15% dos médicos e 38% dos funcionários de enfermagem ou parto se identificam como pardos ou pretos.
Além disso, a distribuição de idade no país também é desigual - consequência de indicadores socioeconômicos que diminuem a expectativa de vida, como violência, fome, falta de acesso à educação, saúde, saneamento básico, além de moradias de risco. Por isso, de cada dez idosos entre 80 e 99 anos vacinados contra a Covid-19 no Brasil, seis são brancos.
No entanto, a desigualdade na vacinação tende a aumentar, segundo Dalia Romero. Em entrevista à Folha de São Paulo, a demógrafa explicou que a imunização de outros grupos de riscos, como o de comorbidades, não deve diminuir a desigualdade racial dos imunizados contra Covid-19. O motivo é a falta de diagnóstico de doenças crônicas para a população preta e parda.
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“Não é porque a população pobre e negra está mais saudável, e sim por falta de acesso a esse tipo de diagnóstico, que exige um grau de complexidade. Por isso eu acho que, quando começar a vacinação dos doentes crônicos, a desigualdade vai aumentar ainda mais”, disse.
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