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“O conceito do disco não funciona mais”, diz Marky Ramone

Ex-baterista do Ramones, que faz show em São Paulo, não pretende mais lançar álbuns com inéditas

pedro antunes Publicado em 20/10/2012, às 11h19 - Atualizado às 17h18

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Marky Ramone - Divulgação
Marky Ramone - Divulgação

A internet e a nova ordem na indústria musical não impedem que Marky Ramone viva o rock and roll à sua maneira, em turnês pelo mundo com sua nova banda, Blitzkrieg, cujo nome é deliberadamente inspirado em “Blitzkrieg Pop”, icônica canção de 1976. Aos 56 anos, a frase “hey ho, let’s go” ainda é o grito de guerra de Marc Steven Bell. “Você vive e aprende”, diz ele, à Rolling Stone Brasil, por telefone, do seu escritório em Nova York.

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Acompanhado de sua banda, o baterista do lendário Ramones, de quem ele ganhou o sobrenome artístico, volta ao Brasil em mais uma de suas visitas. Marky se apresenta no Two Wheels Brazil, um evento direcionado aos amantes de motos. “Gosto do cheiro da gasolina”, comenta.

O baterista não vê mais a necessidade de se compor canções para um disco. A internet e a facilidade que ela proporciona de se ouvir o que quiser quando quiser, para ele, aniquilou o que antes era sagrado para qualquer banda. “O conceito do disco não funciona mais”, diz, taxativo.

Marky mantém o nome dos tempos da banda finada em 1996, mas não se pode alegar que ele vive apenas do que se passou. Com a Blitzkrieg, cujos vocais cantados por Michele Graves, ex-Misfits, ele lançou dois singles de 2010 para cá, “When We Were Angels” e “If and When” – que serão executadas em São Paulo, além de clássicos dos tempos de Ramones. “Se tiver uma boa ideia para uma música, eu faço. Quando tiver a quantidade suficiente de singles, posso fazer uma compilação”, explica. “As duas músicas que fizemos foram bem em vendas no iTunes. É assim que as pessoas fazem hoje em dia. Ninguém mais compra discos, as pessoas baixam músicas. As lojas de discos não existem mais”, completa.

Para ele, o modo como o consumo de música se dá mudou e não há como voltar atrás. O experiente baterista entende que não há necessidade disso. “Agora, você pode escolher o que quiser”, diz. “Mesmo há muitos anos, as bandas faziam muitos discos, mas as músicas nem sempre eram todas boas. Eram o que chamávamos de ‘enchimento’. Hoje, você pode ir no iTunes, ouvir um disco e pensar: ‘não gostei tanto, mas curti essa música’. Não podemos criticar a tecnologia. Ela está aqui. É o que as pessoas querem hoje em dia.”

O Marky dos novos tempos não é só um músico capaz de arrebentar baquetas na bateria como há 30 anos. É empresário, dono de um restaurante sobre rodas em Nova York chamado Cruisin' Kitchen e criou seu próprio molho de tomate. “Foram seis meses criando a receita. Foi um trabalho duro”, conta ele.

O lado empreendedor pode ter feito com que alguns fãs mais ardorosos do Ramones tenham torcido seus narizes. Nada que incomode Marky, como ele mesmo garante. “Não importa o que eles pensam, mas, sim, o que eu penso. O que faço da minha vida é problema meu”, diz. “Muitos outros gostam do fato de que 10% da receita é doado para instituições de caridade que cuidam de pessoas com autismo”, completa. Ele conta que a ideia veio justamente porque, em alguns casos, os autistas o viam tocando bateria, mas não tinha controle motor suficiente para brincar no instrumento.

É a mesma doença que acomete o filho de C.J. Ramone, baixista que tocou na banda de 1989 até seu fim, em 1996. Mas nunca, jamais, cite o nome de C.J. para Marky. “Sou um cara do Dee Dee”, diz ele, lembrando o baixista da formação clássica do grupo. “Não sabia que o filho dele tinha autismo. Dee Dee era um amigo muito próximo e nunca fui fã do C.J.”

Marky mantém uma espécie de diário desde os anos 70, antes mesmo de se juntar ao Ramones, e suas memórias serão publicadas em uma autobiografia em breve, garante ele. “Estou escrevendo ainda. Vou colocar coisas boas e ruins que aconteceram. Serei honesto com meus textos e com a minha vida. Ainda consigo ter uma vida movida a rock and roll, faço turnês pelo mundo, tocando e como DJ”. Mas o rock and roll é só musical. “Não uso drogas, não bebo, Não preciso fazer isso. Essas coisas ficam no passado”, diz. E, agora, Marky está de olho no futuro.

Two Wheels Brazil 2012

Dia 20 de outubro:

Marky Ramone’s Blitzkrieg e Toyshop

Dia 21 de outubro:

Raimundos, Chrome Division e Michael Graves (solo)

Estrada Velha do Mar, 4335 - S. Bernardo do Campo - Estrada São Paulo 148 - Km 35,5

Das 9h às 23h

Ingressos: R$ 150 a R$ 200