Mark Pontius, baterista do Foster the People, fala sobre o grupo do qual ele quase saiu semanas antes da composição do maior hit dele; o Foster se apresenta nesta quinta, 5, no Cine Joia, e no Lollapalooza no próximo domingo, 8
Se tem uma coisa que não falta na música é gente persistindo em colocar sua banda no mapa, viver o sonho do astro do rock. Alguns encaram a dificuldade de “chegar lá” de forma ingênua e romântica, outros topam o desafio com certa resignação e realismo. No caso de Mark Pontius (na foto, de paletó preto e gravata), baterista do Foster the People, ele levou a ideia adiante conduzido por uma mistura das duas posturas, o que se mostrou bem-sucedido. O artista estava em outra banda havia seis anos, “acampando” no chão do estúdio de gravação, tinha vendido o carro, entre outras coisas, para se sustentar... enfim, a banda não exatamente pagava as contas dele, ao contrário, era uma fonte de despesas altas. Desiludido com a falta de resultado de toda essa dedicação, o músico estava de malas prontas para se mudar para a Austrália, onde vivia a irmã dele e país no qual sabia que se sentiria bem. Ele foi sim para lá, no fim das contas. Mas em circunstâncias bem diferentes das imaginadas, conforme contou por telefone à Rolling Stone Brasil.
“Eu estava em um daqueles momentos definidores da vida e saí daquela banda. Conheci Foster e o Cubby bem no fim desse processo e queria trabalhar com música ainda, mas não achei que seria em um grupo. Gostava muito de tocar com eles, mas queria mudar de cidade. Eu já estava com tudo empacotado e o [vocalista Mark Foster] me pediu mais dois meses para ver o que acontecia. Umas duas semanas depois, compusemos “Pumped Up Kicks” e, obviamente, tudo mudou. Por coincidência a gente vai para a Austrália o tempo todo com a banda! Nossa primeira viagem internacional foi para lá.”
A atual viagem internacional do Foster the People é para o Brasil. A banda está aqui para duas apresentações em São Paulo, uma no Cine Joia, nesta quinta, 5, e outra no Lollapalooza no próximo domingo, 8. Humilde, Pontius diz que a experiência no Brasil servirá também para se educar a respeito da música brasileira, sobre a qual não manja muito, e se divertir no Lollapalooza, festival no qual tocaram ano passado, em Chicago, e adoraram.
Os rapazes, fãs de surf e de U2 (banda da qual já arrancaram elogios), desembarcam por aqui em um momento especialmente bom da carreira. Nos últimos meses estouraram em muitos países com o hit que mudou a vida de Pontius, o divertido “Pumped Up Kicks”, tocaram ao lado dos Beach Boys na edição mais recente do Grammy (e têm mais dois shows marcados com o lendário grupo) - “é a banda preferida do Foster de todos os tempos! Como surfistas e músicos, essa era a experiência mais impressionante que poderíamos ter. Se tiver que escolher uma palavra, seria ‘surreal’. No fim do dia foi difícil de lembrar o que tinha acontecido, parecia que eu tinha apagado na hora” - e preparam um segundo disco para 2013.
“O objetivo é ir fazendo o álbum ao longo deste ano e terminar para lançar em 2013. Vamos ver... mas a boa notícia é que já começamos! Entramos em estúdio por alguns dias só para fazer a bateria, ficamos quatro dias experimentando com todo tipo de bateria que deu para achar em Los Angeles e experimentamos um monte para começar o processo de composição com boas batidas. Era só para fazer algo diferente, entrar lá e fazer algumas amostras fora do convencional e ver se isso inspirava algo mais dançante. Foram quatro dias muito bons, o que é sempre um ótimo jeito de começar a gravação.”
A atitude descompromissada que reina por enquanto na confecção do novo trabalho reflete a despreocupação de Pontius em relação a provar que a banda não é feita de um hit só ou daquelas que acertam na loteria do hype no primeiro disco e depois somem. “Acho que seria prejudicial focar muito nisso. A gente só está feliz de conseguir fazer o disco e quando você faz com vontade, faz um bom trabalho. Temos bons instrumentos em mãos.”
Hyped Up Kicks
“A gente nunca soube exatamente que essa música faria tudo que fez por nós”, jura Pontius, que não sabe muito qual será o futuro da banda, mas não tem medo de que a canção faça sombra em tudo que eles produzirem daqui para frente. “Estamos em uma boa posição de poder fazer a música que a gente ama, mas ao mesmo tempo poder experimentar com música que está fora disso. Eu acho que essa pegada sessentista, lo-fi, transformada em moderno e cool, foi o que as pessoas gostaram tanto. Essa mistura de anos 60, surf e elementos atuais... acho que foi isso que pegou”, arrisca explicar.