Com o sucesso de Arrested Development e House of Cards, será que o serviço está destinado a fazer filmes em longa-metragem?
Sem dúvidas, você já ouviu falar bastante do retorno de Arrested Development para uma quarta temporada, desta vez na Netflix, que pagou para ressuscitar a série da Fox com 15 episódios disponíveis somente para streaming. A série veio logo depois da produção original Netflix House of Cards (foto), bem-sucedida e muito comentada, que ficou disponível em fevereiro. E talvez você também tenha ouvido falar das próximas séries originais da Netflix, ao longo dos próximos anos, criadas por alguns dos nomes mais respeitados da TV e do cinema.
O que você talvez não tenha notado, contudo, foi a estreia do primeiro filme em longa-metragem da Netflix. A comédia, chamada Shotgun Wedding, estreou no dia 1º de abril com pouco barulho. Mas e se esse debute apontar para uma nova direção da gigante do home video? A Netflix já se tornou um estúdio de TV que exige comparações a empresas como HBO e Showtime. Será que agora desafiará Hollywood e se tornará um estúdio de cinema também?
Shotgun Wedding, na teoria, não parece grande coisa. É o primeiro filme do diretor Danny Roew. No estilo “found-footage”, a comédia de humor negro mostra padrinhos e madrinhas determinados a dar continuidade a um casamento mesmo depois que o noivo acidentalmente atira na cara de uma das madrinhas. O elenco é formado por atores que você talvez reconheça de aparições especiais na TV e o custo da produção, provavelmente, foi ínfimo. O crédito de produção, na verdade, é atribuído à Fox Digital Studio, sendo que a Netflix comprou os direitos de distribuição.
Ainda assim, é como se a empresa estivesse colocando um pé no oceano da produção cinematográfica. Desde que House of Cards estreou, foram feitas muitas comparações entre a Netflix e a HBO, que serve como um modelo para séries de qualidade feitas por gente conhecida – programas sem restrições ao conteúdo por funcionar por meio de assinatura. House of Cards e Arrested Development são séries com visibilidade que ajudaram a transformar a Netflix, na mente do usuário comum, de uma empresa que alugava DVDs por correio em um serviço de streaming provedor de conteúdo inédito. Graças a ela, qualquer dispositivo com tela que você possuir agora pode se tornar um cinema ou uma TV on-demand.
Uma das razões pela qual a Netflix pode ter ficado um pouco relutante de abraçar a produção de longas e dar preferência a séries é simplesmente o custo de cada uma dessas coisas. Claro, é caro fazer uma série de qualidade; a Netflix gastou, estima-se, US$ 100 milhões em duas temporadas de 13 episódios de House of Cards. Ainda assim, a medida gerou um aumento de mais dois milhões de assinantes novos. Por US$ 8 por mês (no Brasil, R$ 16,90 – os valores são correspondentes aos US$ 8 dos Estados Unidos em todo o mundo), esses novos assinantes bancaram House of Cards em pouco mais de seis meses.
Um longa-metragem de qualidade, contudo, com atores de primeiro escalão, roteiro e diretor de ponta etc., pode chegar a algo entre dezenas e centenas de milhões de dólares. Isso sem contar que um filme de duas horas não terá o mesmo poder de atrair novos assinantes quanto uma série de 13 horas e gerará somente um disco para o mercado de DVDs, posteriormente.
Dito isso, as séries da Netflix estão se tornando mais cinemáticas. Recentemente, tivemos o lançamento de Hemlock Grove, criada pelo diretor de filmes de terror para a telona Eli Roth (O Albergue). Apesar de os críticos não terem gostado muito, o trabalho assinado por Roth acabou se tornando ainda mais popular do que House of Cards. O serviço está prestes a lançar a bastante aguardada nova série de Jenji Kohan (Weeds), Orange Is the New Black (que estreia em 11 de julho). E, no ano que vem, a Netflix estreia a ficção científica Sense8, dos Wachowski, os irmãos por trás de Matrix. Os Wachowski costumam lidar com visuais chamativos e criativos, coisas que não saem barato.
Além disso, existe a maneira como assistimos às séries da Netflix: tudo em um gole só. O serviço só tem incentivado assistir em maratonas; em vez de lançar suas séries com um episódio por semana, como a HBO e as outras redes tradicionais, fazem, o lançamento é feito na íntegra, de uma vez só. Sem os ganchos tradicionais ao final de cada episódio, House of Cards parece um só filme muito longo.
E talvez seja dessa forma que a Netflix se tornará um estúdio de cinema: mudando a nossa definição do que é um filme. Não será uma história de duas horas que se sustente sozinha e que você vê na telona, mas uma trama de duração em aberto que você assiste quando for mais conveniente e na tela que estiver mais perto de você.