"Éramos conhecidos somente por músicas pop, então surgiu a necessidade de sermos conhecidos também por uma faceta mais pesada", disse o vocalista Lucas Silveira à Rolling Stone Brasil sobre o disco Revanche; confira vídeo
Esqueça o Fresno que você conhece. Desprenda-se da imagem emo, das letras melancólicas e das batidas exclusivamente pop. O Fresno de Revanche não é o mesmo de um ano atrás. Com letras que lamentam menos e enfrentam mais, embaladas por um som de peso, Lucas Silveira (vocal e guitarra), Rodrigo Tavares (baixo e vocal), Vavo (guitarra) e Bell (bateria), cresceram e levaram esse amadurecimento, com sucesso, para a música.
Em entrevista ao site da Rolling Stone Brasil, Lucas explicou que o Fresno costuma fazer um disco para suprir o que não tinha no último. "No caso de Redenção (2008), a gente fez músicas agitadas, com refrãos que grudam na cabeça. Em Revanche, a ideia era colocar riffs marcantes de guitarra", disse o mais falante do grupo. "Éramos conhecidos somente por músicas pop. Então surgiu a necessidade de sermos conhecidos também por essa faceta mais pesada, que, na verdade, sempre teve nos shows."
Dito e feito. Revanche abre com uma faixa-título forte, carregada de riffs marcantes de guitarra, colocando em dúvida se estamos realmente ouvindo o mesmo Fresno de "Alguém Que Te Faz Sorrir". Mas a surpresa é positiva. Dessa necessidade de fazer rock, surgiram, de cara, "Revanche", "A Minha História Não Acaba Aqui" e "Porto Alegre", as mais pesadas do disco. Lucas garante que não foi um ressentimento imaturo, do tipo "rock só é legal quando é pesado". "Também há músicas mais leves, com piano, e baladas. Pô, todo mundo aqui é fã de Aerosmith, Kiss e Bon Jovi, que também fazem grandes baladas", defendeu-se.
Depois de alguns minutos de conversa, o grupo acabou entregando que muito das baladas pop do disco foram resultado de uma conversa com o produtor Rick Bonadio, que sentiu falta das "músicas clássicas" responsáveis pelo sucesso do Fresno. Este também foi o motivo do atraso do lançamento de Revanche, que estava previsto para ser gravado ainda em 2009, mas passou para o início deste ano, com estreia propositalmente no dia do rock, 13 de julho. "Rick achou que a gente podia fazer músicas diferentes, porque todo o disco estava sendo uma resposta a Redenção, com uma única temática", explicou Vavo. Foi então que surgiu o primeiro single do disco, "Deixa o Tempo", e "Se Você Voltar", que Lucas até compara com o som do Maroon 5, "mais suingado".
O que ajuda a entender o conceito de um álbum é saber o que o grupo estava ouvindo durante o período de produção. No caso do Fresno, foi o pop do Queen, os sintetizadores do Anberlin e, principalmente, as batidas rock e ao mesmo tempo leves do Muse. "Acabamos colocando tudo isso no liquidificador, além de coisas mais pessoais", disse Lucas, sendo interrompido por Vavo, que completou: "Como o metal do Tavares."
"Eu tinha apenas dezesseis/ E já achava que sabia demais/ Tudo que eu tinha era um quarto e o dinheiro dos meus pais/ E alguns amigos que cabiam numa mão." O trecho da faixa "Relato de Um Homem de Bom Coração" mostra bem a nova postura do Fresno. "Durante muito tempo o grande problema das nossas vidas era tomar um fora de uma garota. Hoje temos novos problemas e a gente compõe sobre o que nos incomoda. Não somos mais aqueles moleques de 20 e poucos anos, que acabaram de chegar em São Paulo, onde tudo era festa", explicou Lucas.
A revanche do Fresno
Se com Redenção o Fresno reforçou ainda mais sua base de fãs entre a molecada, com Revanche fica a sensação de que o grupo alcançará outro patamar, conquistando um público maior. Segundo Lucas, não foi proposital. "A gente sempre se policiou para fazer algo que estivesse condizendo com a nossa idade e com nosso momento. Acho ridículo um cara de quase 30 anos se comportar, se vestir e escrever como um cara de 20. Tem coisas que eu escrevi há seis anos que jamais escreveria hoje. Era um amor ingênuo, que falava sobre eternidade. Eu não acredito mais nisso", reforçou.
Hoje o foco do grupo de Porto Alegre é agradar o fã que está crescendo junto com eles, "justamente porque ele não vai querer ouvir uma música que achava legal aos 14 anos". "E tem criança que vai crescer ouvindo Fresno, porque a mãe adolescente ouve. Então já rola uma renovação de gerações. Foi por isso que a gente abraçou o rock", afirmou Lucas. "Hoje a molecada quer ser o Justin Bieber, o cara do Big Brother. Antigamente os caras queriam ser o Kurt Cobain, eu queria ser um dos Golden Boys, banda que minha mãe ouvia. Atualmente eles estão com o cabelo do Bieber, que até um tempo atrás era o cabelo emo. Então puxamos para nós a responsabilidade de ser o bastião do rock brasileiro, junto de pouquíssimas bandas, como a Pitty, que ajuda muito nisso."
Neste sentido, o Fresno pega o gancho de uma época em que a mídia deixou o "emo" de lado para criticar as bandas "coloridas", como o Restart e o Cine. Não é a toa que o título do álbum seja "Revanche". A temática é exatamente sobre o período de críticas, e principalmente de superação, que o Fresno enfrentou durante esses anos. Segundo Vavo, os nomes dos discos dizem muito sobre eles: "Redenção tem a ver com Porto Alegre e foi numa fase em que a gente estava muito saudosista. E Revanche é sobre esse momento de ter uma chance para mostrar o que a gente realmente é."
Tavares concorda com o guitarrista ao dizer que as pessoas tiveram uma imagem distorcida da banda, apesar de assumir que a faceta pop foi uma das grandes responsáveis pelo sucesso que eles têm hoje. "A gente resolveu dar uns tiros pop no outro disco, mas essas músicas acabaram sendo usadas como o cartão de visita da banda, então acabamos sendo rotulados como uma banda muito pop. Foi algo que a gravadora acabou usando a favor dela, mas a responsabilidade era nossa. Desta vez, resolvemos fazer um álbum mais de acordo com o pensamos e que, se qualquer música virar single, ficaremos felizes."
Certamente a faixa "A Minha História Não Acaba Aqui" é a que mais representa essa resposta do Fresno a todos aqueles que os criticaram. Já logo na primeira estrofe, Lucas afronta: "Vão te dizer que você não é mais o mesmo/ Vão apontar o dedo na tua cara pra te acusar/ Vão arrumar mil motivos pra te incriminar/ Por todo canto, há alguém esperando pra te derrubar." O próprio compositor explica: "É uma resposta para desde o idiota que comenta no YouTube até gravadoras e imprensa. É muito fácil falar."
No vídeo abaixo, a banda fala mais sobre Revanche: