INVESTIGAÇÃO

O podcast de true crime que reinveste a investigação do assassinato de Martha Moxley

Dead Certain, da NBC News Studios, é uma saga imersiva sobre um crime chocante que assombra uma cidade rica de Connecticut — e uma família com laços com os Kennedy — há meio século

Miles Klee

Martha Moxley (Foto: Erik Freeland/Corbis via Getty Images)
Martha Moxley (Foto: Erik Freeland/Corbis via Getty Images)

Em 30 de outubro de 2025, completam-se 50 anos do horrendo assassinato de Martha Moxley, de 15 anos, no enclave ultrarrico de Belle Haven, em Greenwich, Connecticut. Na manhã seguinte, ela foi encontrada deitada sob um pinheiro em seu quintal, após ter sido repetidamente golpeada com um taco de golfe — e esfaqueada com um pedaço quebrado dele — após uma noite de travessuras pré-Halloween com amigos do bairro. Sua calça e roupa íntima haviam sido abaixadas, embora a polícia não tenha encontrado evidências de agressão sexual. O crime brutal abalou a cidade, onde esse tipo de violência era praticamente inédito.

Levaria 27 anos até que Michael Skakel, vizinho de infância de Martha e parente do clã Kennedy, fosse condenado pelo crime — um veredito anulado em 2018, aprofundando o mistério macabro que continua a fascinar o público pelos detalhes horrendos do assassinato e pelas famílias influentes envolvidas. Agora, meio século após a morte de Moxley, um novo e explosivo podcast da NBC News Studios e da Highly Replaceable Productions questiona todas as conclusões que as autoridades, os moradores de Greenwich, jornalistas e fãs de true crime tiraram sobre o que realmente aconteceu naquela fria noite de outubro de 1975.

Ao longo de mais de uma dúzia de episódios hipnotizantes de Dead Certain: The Martha Moxley Murder, o jornalista veterano Andrew Goldman destrincha a narrativa desde o início, com acesso sem precedentes a um vasto arquivo de materiais do caso e depoimentos francos de pessoas próximas às famílias Moxley e Skakel — incluindo, pela primeira vez, entrevistas reveladoras com o próprio Michael. A Rolling Stone tem o trailer exclusivo, que oferece um vislumbre dessa história arrebatadora sobre uma comunidade pacata virada do avesso e colocada sob o microscópio.

Foram necessários mais de dez anos para que Dead Certain ganhasse vida — e isso se reflete na profundidade da apuração de Goldman. Ele teve de lidar com memórias desbotadas de certas fontes e com a ausência de muitos personagens que já haviam morrido desde que o caso Moxley capturou a atenção nacional. Não foi uma tarefa fácil. “Houve momentos incrivelmente baixos em que achei que não conseguiria continuar”, diz Goldman. “Parece um pouco como arrancar a vitória das garras da derrota.”

Logo no início da série, Goldman explica que, como muitos outros, sempre acreditou na culpa de Michael Skakel pelo brutal assassinato de Moxley (daí o título do podcast). Nascido em Connecticut e intrigado pelas histórias em torno da chamada “Maldição dos Kennedy”, ele sempre manteve um interesse pessoal pelo caso — e iniciou sua própria investigação após ser contratado, em 2015, pelo primo de Skakel, Robert F. Kennedy Jr., para escrever um livro argumentando que Michael havia sido acusado injustamente. Quando Goldman finalmente se sentou com o homem que passou mais de dez anos atrás das grades pelo infame assassinato de Greenwich, a conversa não foi nada como ele esperava após tantas matérias e reportagens televisivas que o retratavam como o herdeiro arrogante e sanguinário de uma família poderosa.

“Descobri que Michael era bem diferente do personagem retratado pela mídia”, diz Goldman. “Ele é engraçado, um pouco excêntrico. E, no fundo, um tanto ferido. Mas é alguém que, acredito, sempre quis desesperadamente contar sua história — e que acabou ficando meio desconfiado da imprensa, então levou muito tempo para conquistar sua confiança. Ele é uma das pessoas mais autênticas e honestas com quem já trabalhei — honesto até demais. E acho que essa honestidade também desempenha um papel na história.” Goldman acrescenta que os ouvintes de Dead Certain ouvirão como sua relação com Skakel evoluiu ao longo das entrevistas — “e como meus sentimentos sobre ele mudaram, na maior parte para melhor, às vezes para pior.”

Nos primeiros episódios do podcast, Goldman relembra como a investigação da polícia local sobre o assassinato de Moxley foi frustrada a cada passo, com uma teoria após outra falhando em apontar um suspeito viável. Com o tempo, dois irmãos adolescentes que moravam nas proximidades — Thomas e Michael Skakel — passaram a ser considerados possíveis culpados, em parte porque o taco de golfe usado como arma pertencia a um conjunto da família deles, e Thomas havia sido o último a ver Moxley com vida. O envolvimento dos irmãos Skakel tornou o caso ainda mais sensacional, já que eles eram sobrinhos de Ethel Skakel Kennedy, viúva do senador Robert F. Kennedy.

Ainda assim, o caso esfriou por anos e só foi reaberto na década de 1990, após outro escândalo envolvendo os Kennedy e dois livros ligados a figuras do julgamento de O. J. Simpson. Um deles, publicado em 1993 por Dominick Dunne, escritor policial da Vanity Fair, era uma versão ficcionalizada do assassinato de Moxley, e o outro, lançado em 1998 pelo ex-detetive da LAPD Mark Fuhrman, pintava Michael como o provável assassino — baseando-se em materiais de uma investigação privada encomendada por Rushton Skakel, pai dos irmãos, que apontava contradições nos depoimentos dos filhos sobre a noite do crime. (Entrevistas com Fuhrman também aparecem com destaque em Dead Certain.)

Martha Moxley (Foto: Erik Freeland/Corbis via Getty Images)
Martha Moxley (Foto: Erik Freeland/Corbis via Getty Images)

Uma nova investigação policial, iniciada em 1998, levou à acusação formal de Michael Skakel em 2000. Ele foi condenado em 2002 e sentenciado de 20 anos à prisão perpétua, após um julgamento em que dois ex-colegas de um internato abusivo no Maine testemunharam que ele havia confessado o assassinato. (Um deles chegou a afirmar que Michael disse: “Vou me safar de um assassinato. Sou um Kennedy.”) Seguiu-se um longo processo de apelações, até que a nova equipe de defesa de Skakel convenceu um juiz, em 2013, de que seu advogado original havia sido ineficaz — decisão que permitiu sua libertação sob fiança e a concessão de um novo julgamento. Após novas disputas judiciais, o estado finalmente desistiu do caso em 2020, decidindo não julgar Skakel novamente.

A vantagem de Goldman em relação a comentaristas como Fuhrman e Dunne, ele explica, é que, com a condenação de Skakel anulada, ele pôde mergulhar em “todo o arquivo do caso”, incluindo relatórios policiais, gravações de entrevistas e outras provas usadas pela acusação. “Em casos de assassinato de grande repercussão como este, os escritores acabam limitados pelas suas fontes e nunca têm a visão completa”, diz ele, referindo-se à cobertura abundante — e muitas vezes sensacionalista — da mídia antes e durante o julgamento de Skakel. “Eu tive acesso a muito, muito mais informações. O volume de dados é tão vasto que acho impossível uma única pessoa dar conta de tudo.”

“É impossível não ficar obcecado por essa história”, afirma Alexa Danner, produtora executiva de Dead Certain, que estreia em 4 de novembro, com novos episódios lançados semanalmente. “Cada vez que você descobre uma nova informação, é puxado em outra direção.” Ela observa que, ao contrário da maioria das sagas de true crime, “o julgamento é quase o ponto médio da história”, que inclui “fontes de interesse que se estendem por cinco décadas e várias gerações” — resultando em uma infinidade de caminhos, reviravoltas desconcertantes e uma quantidade assustadora de possíveis suspeitos.

Enquanto os ouvintes mais jovens, que não conhecem o caso, ficarão completamente absorvidos pelas inúmeras pistas e pela frustração de não haver uma resolução clara, aqueles que se lembram dos eventos verão suas impressões desafiadas — especialmente em relação a Skakel. Embora frequentemente retratado pela imprensa como um jovem rico e mimado, Goldman consegue humanizá-lo, apresentando-o como alguém que sobreviveu a uma infância difícil, ao vício e a abusos institucionais antes de ser acusado de um crime que ele continua a afirmar não ter cometido.

Acreditar ou não em sua inocência depende, é claro, do ponto de vista de cada um — e Dead Certain se debate intensamente com o incognoscível, questionando até que ponto somos realmente capazes de chegar à verdade. Goldman estudou o assassinato de Moxley com uma intensidade raramente igualada — e mesmo assim ele admite não ter certeza do que realmente aconteceu em 1975.

“Essa história ainda me tira o sono”, diz Goldman. “Após dez anos trabalhando nela, ainda mudo de ideia sobre certas coisas.”

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