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O que é PC Music e como ela tem se infiltrado no pop, de Sophie a Charli XCX

Batizado pelo selo londrino, o subgênero aparece como uma expressão pura do presente com estética eufórica e esquisita

Nicolle Cabral Publicado em 24/06/2020, às 07h00

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Da esq. para a dir.: Sophie e Charli XCX (Foto 1: Divulgação / Foto 2: Divulgação)
Da esq. para a dir.: Sophie e Charli XCX (Foto 1: Divulgação / Foto 2: Divulgação)

Encabeçada por A. G. Cook, a PC Music surgiu em 2013 como o nome de uma gravadora independente londrina. Sem pretensões, o selo acabou reunindo artistas que ultrapassaram os limites dos gêneros "mais cautelosos" na indústria, e, durante os primeiros anos da década de 2010, construiu uma fábrica de sucessos depositados no SoundCloud. 

Nomes como Hannah Diamond, Sophie, Kane West (integrante do Kero Kero Bonito), GFOTY e o próprio Cook, por exemplo, moldaram a cara do subgênero com uma estética energética, colorida e um pouco esquisita. Com isso, o que antes era apenas o título da inventiva gravadora deu identidade a essa vertente do pop, conquistou um público fiel e atraiu a atenção da grande indústria — que não a aceitou de imediato. No início, as produções eufóricas foram taxadas de "brincadeiras irônicas repleta de conceitos vagos".  

No entanto, esses mesmos sons altamente texturizados e metálicos, às vezes desconcertantes, se mostraram como um reflexo da era da internet e transformaram a cara do pop nos anos posteriores. Em uma entrevista para a Dazed, o produtor musical Skrillex enfatizou a autenticidade da PC Music. "[A criação do subgênero] foi muito astuta e, ao mesmo tempo, perturbadora. [A PC Music] conversou com os esquisitos".

A projeção do subgênero aventureiro no mainstream contou com as colaborações de Sophie com artistas como Diplo, Rihanna, Madonna e Charli XCX. Amparada pela label, a britânica foi peça importante para a aceitação do excesso sonoro na indústria ao co-produzir singles como "Bitch I'm Madonna" de Madonna e Nicki Minaj em 2015, e dar o tom de um dos hits de Charli, "Vroom Vroom"  — que apontou a escalada da cantora pop na PC Music, fortemente presente nos últimos discos de estúdio como Pop 2 (2017), Charli (2019) e how i'm feeling now (2020). 

Paralelamente as produções, Sophie também teve o disco Oil of Every Pearl’s Un-Insides (2018) indicado ao Grammy na categoria de Álbum Eletrônico do Ano. Ao lado dela, outros nomes elétricos surgiram com trabalhos extravagantes e interessantes do subgênero como Hannah Diamond, o duo 100 gecs, Caroline Polachek e Dorian Electra.

Enquanto algumas divas pop viajam no tempo e resgatam os ritmos que movimentaram as pistas e as pickups dos DJs entre os anos 1980 e 1990 com a luxuosa estética retrô, o outro lado da moeda toma caminhos experimentais guiados pela PC Music. Com isso, reunimos um guia com os sons maquinados que parecem ter saído de uma impressora do pop — e acredite, digo isso da maneira mais positiva possível. Veja abaixo:

A.G. COOK 

Nome responsável por toda movimentação da PC Music, A.G Cook  chegou a ser nomeado, em 2015, pela Dazed como "uma das figuras mais importantes a redefinir o estilo e a cultura jovem". O produtor britânico já esteve por trás da criação de mais de 20 músicos, inclusive, liderou a direção artística dos últimos quatro projetos de Charli XCX, Number 1 Angel, Pop 2, Charli  e how i'm feeling now.

Com a sonoridade voltada para o Bubblegum Bass (face fofa e feminina do subgênero sustentado por timbres plastificados e batidas melódicas), Cook criou alguns hits da PC Music. "Drop FM", em parceria com Hannah Diamond, é um deles. 


HANNAH DIAMOND

Com falsetes mais doces intercalados com batidas brilhantes, Hannah foi uma das principais artistas para moldar a cena da PC Music. Amparada pela gravadora, lançou dez singles solo desde 2013, entre "Pink and Blue" (a estreia), "Attachment" e "Hi". A artista também aparece em "Paradise", faixa em parceria com Charli XCX no EP Vroom Vroom

Em 2019, lançou o primeiro disco de estúdio, Reflections, e recebeu críticas positivas dos veículos especializados. A NME, por exemplo, pontuou a artista como "A estrela da PC Music, que diz ser um robô, explora corações muito humanos [no disco de estreia]". 


KANE WEST

Pautado pelo house, disco e o funk de UK, Kane West (pseudônimo de Gus Lobbanse, do Kero Kero Bonito) se distancia um pouco do pop alegre da PC Music. O músico e produtor parte de uma áurea mais misteriosa e provoca com um discurso mais irônico. Ao falar sobre o lançamento do EP Western Beats, em entrevista à Dazed, ele pontua "a nossa geração responde à arte que é deslumbrante, engraçada e trágica de uma só vez". 


GFOTY

GFOTY, uma abreviação para Girlfriend of the Year (namorada do ano, em português) assinava faixas pelo selo PC Music até 2018 — quando decidiu ser uma cantora independente. Com um som característico (batidas saltitantes, vocais distorcidos e mais agudos), GFOTY lançou em março de 2020 o EP Ham Chunks and Wine.


SOPHIE

Nome importante para a propagação do subgênero, Sophie ganhou destaque com os singles  "Bipp" (2013) e "Lemonade" (2014) — a última faixa, inclusive, chegou a ser trilha de um comercial do Mc Donalds. No ano de lançamento, o single foi incluído nas dez melhores músicas do The Washington Post, Complex e Pitchfork. Sonoramente, a produtora busca texturas mais açucaradas e vocais mais plastificados e elásticos. Bolhas, balões estourando e látex também são característicos de Sophie


CHARLI XCX

Charli já havia se apresentado como uma potência para o pop com o hit chiclete "Boom Clap", de Sucker (2015), porém, agarrou ainda mais nos ouvidos em 2017 e 2018 com as faixas "Boys" e "1999". Depois de iniciar uma parceria A. G. Cook, que esteve presente nos últimos discos da cantora, firmou o compromisso com a PC Music e se provou a mistura perfeita das batidas experimentais com o pop chiclete. 

Em Charli, lançado em 2019, ela já havia ficado nos holofotes e agradado à crítica especializada, e em how i'm feeling now, lançado em maio em pleno isolamento social, só confirmou isso. Os refrões grudentos e estética montada ficaram ainda mais evidentes e dá mais força para o subgênero que reinventou as pistas de dança.