Selecionamos alguns pontos que merecem cuidado especial para que a adaptação dos livros de Andrzej Sapkowski não seja um fracasso
A Netflix divulgou nesta segunda, dia 1º, algumas imagens novas da série The Witcher, que, para compensar a falta de data de lançamento, com certeza tem bastante expectativa acumulada.;
A plataforma e produtora revelou também o slogan do programa, ou a frase motivacional por trás da trama (assim como foi "Winter is Coming" para Game of Thrones): "The worst monsters are the ones we create", ou "os piores monstros são aqueles que nós mesmo criamos".
Mas, para que a série realmente seja um sucesso, existem alguns fatores que os produtores precisam levar em consideração, e que merecem bastante atenção.
Enquanto refletimos sobre esses detalhes, vamos colocar as novas fotos de divulgação reveladas pela Netflix, que mostram Henry Cavill como Geralt, Anya Chalotra como a feiticeira Yennefer e Freya Allan como Ciri (em ordem de aparição no texto. Créditos: Netflix/Divulgação)
O personagem principal, Geralt de Rívia, é um homem complexo, dono de uma personalidade marcante e de um temperamento peculiar.
Profissional na arte de caçar monstros, aceita contratos e pedidos de socorro tanto de meros plebeus quanto de reis e rainhas. Ele é ríspido, calejado de viagens e encontros quase mortais, introspecto por causa dos dias que passa na estrada acompanhado apenas por sua égua, e carrega em si um certo desprezo pela humanidade.
São características como essas que tornam Geralt um protagonista tão intrigante nos livros escritos pelo polonês Andrzej Sapkowski, material em que a série se baseia. Sem o devido cuidado, as chances do personagem se tornar apenas um cara chato e arrogante, e pelo qual ninguém vai ligar, são grandes.
Como mencionado anteriormente, as obras que deram origem à série foram escritas por um autor polonês, e publicadas ao longo da década de 1990. Por causa da sua origem, Sapkowski baseou a mitologia do mundo de The Witcher no folclore eslavo.
Desde os símbolos que acompanham os feitiços dominados por Geralt até os cenários, precisam corresponder a esse pano de fundo usado pelo escritor. Caso contrário, se perderá muito da riqueza que povoa os diálogos do protagonista com os habitantes do seu mundo, sem mencionar que as criaturas também são diretamente derivadas dessa cultura.
Eterno viajante e caçador de monstros, se a mitologia presente nas extensas conversas que ele tem com as incontáveis figuras que cruzam seu caminho não forem ricas e enraizada como no material original, tudo vai soar raso e forçado.
Não tem nem muito o que explicar sobre esse. Já falamos pelo menos uma vez em cada um dos pontos anteriores, mas Geralt lida constantemente com criaturas fantásticas e mitológicas. Independente se pacífica ou violentamente, ele interage o tempo todo com grifos, duendes, seres protetores das florestas, bruxas, demônios, vampiros, elementais, espíritos e por aí vai.
Agora imagina só se optarem por um CGI tosco? É, pode quebrar completamente a imersão.
As obras de Andrzej Sapkowski abordam temas pesados que envolvem desde ações humanas deploráveis e movidas a um desespero de quem vive em uma época assolada por escuridão, sangue e ganância, até magia negra, experimentos com recém nascidos e toda a brutalidade crua presente em folclores originais que não foram adaptados por uma produtora para vender filmes infantis.
No caso desses temas, pode até ser possível criar uma boa série mesmo se pegarem leve no tom. Só não vai ficar com a cara do universo criado pelo autor.
Os livros de The Witcher acompanham o protagonista por sua andança pelo mundo. Ele cavalga de cidade em cidade, atendendo a pedidos e solicitações sobrenaturais de moradores de vilas e da nobreza de grandes cidades.
De certa forma, a história de Geralt é contada como diversos contos, cada um com sua trama, com seu conflito e com sua solução. Existe um mundo que segue seu caminho ao fundo, e personagens recorrentes, mas não existe uma grande motivação final, apenas um homem em busca de contratos de assassinato, indo de lugar em lugar, conversando com os habitantes e, finalmente, indo à caça.
Nos resta esperar para ver como a série da Netflix vai conseguir manter essa amplitude e esse dinamismo da história de um andarilho, e ainda amarrar uma trama maior.
Esse é autoexplicativo mesmo. Netflix, não tente forçar uma nova série de fantasia com sangue sexo e magia. Mantenha-se fiel ao material original e não tente entrar na onda de algo que já deu certo e que nem terminou tão bem assim.
Geralt não é Jon Snow. Jon Snow não sabe de nada, e Geralt sabe de tudo.