Definitely Maybe foi lançado no fim de agosto e marcou o início de uma década de sucesso da banda dor irmãos Liam e Noel Gallagher
Em Seattle, a cor cinza dominava os céus, enquanto as camisas de flanela estilo lenhador desgrenhado esquentavam os jovens que perambulavam pelas ruas sem rumo, uma geração perdida. Atravessando o planeta, no Reino Unido, o movimento era exatamente outro. Há 20 anos, a maior banda da década de 1990 a surgir na Inglaterra – sinto muito, fãs do Blur – colocava nas prateleiras das lojas de discos uma estreia aguardadíssima, Definitely Maybe, e mostrava que, por lá, as coisas estavam mais ensolaradas do que na América do grunge.
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O lance introspectivo não estava com nada por ali. O britpop nunca fora tão pop quanto em meados daquela década e a faixa de abertura do disco de estreia do Oasis diz mais sobre a época pela qual a música passava do que qualquer outra. Os irmãos Gallagher eram diretamente o oposto do que pregava o tímido e atormentado Kurt Cobain. O líder do Nirvana detestava a fama e acredita-se que tenha sido ela a responsável por levá-lo ao abuso de drogas e, por fim, ao suicídio. Liam e Noel, por sua vez, queriam o estrelato. Eles acreditavam ser os novos Beatles. Uma reencarnação moderna, da força quase divina que constituía o quarteto de rapazes vindos de Liverpool.
E tudo teve início em uma noite fria em Glasgow, na Escócia, quando Alan McGee, criador da gravadora indie Creation Records, de Primal Scream, Teenage Funclub e My Bloody Valentine, conheceu Liam e Noel Gallagher. O irmão mais velho da dupla mais parecia um traficante de drogas – e talvez até fosse, dada a quantidade de entorpecentes usadas pelos rapazes da banda naquela época –, mas o impacto do grupo no palco foi o suficiente para garantir um contrato com o selo.
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Os Gallagher queriam curtir a vida. Queriam bons jantares e tomar chá como “Digsy's Dinner” – quando alguém do grunge cantaria sobre isso? Isso não significa, obviamente, que eles também não se entediavam. Em “Cigarettes And Alcohol”, Liam canta o tédio e como, na busca por algo a fazer, só encontrou cigarros e bebidas. Ao mesmo tempo, a veia pop das composições de Noel já se destacavam, com um refrão chiclete e positivo: “Você vai fazer acontecer”.
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Em um disco como Definitely Maybe, o Oasis mostrou tudo aquilo que veríamos na banda até o fim dela, em 2009, e até mesmo nos trabalhos solo – e infinitamente piores – dos irmãos Gallagher. “Cigarettes And Alcohol” representava o lado mais agressivo, com guitarras barulhentas, embora de bom gosto.
Definitely Maybenão mostrava ainda todo o potencial que o Oasis poderia atingir. Nenhum single chegou ao topo no Reino Unido, por exemplo. “Supersonic” (31ª posição), “Shakermaker” (11ª), “Live Forever” (10ª) e “Cigarettes & Alcohol” (7º) já apontavam para um crescimento em popularidade, mas, curiosamente, em nenhum a banda conseguiu o disco de ouro por lá. A fama estrelar estava reservada para (What's the Story) Morning Glory?, com seus hits enfileirados e certinhos. Definitely Maybe era rudimentar neste ponto, trazia o som de uma banda que ainda não sabia para qual lado caminhar, a direção certa a tomar, com o ego já inflado, é claro.
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Nem mesmo o visual desgrenhado do grunge teve vez no Reino Unido. Se a partir dos anos 1970, o visual punk uniu as duas culturas, a década de 1990 separou tudo por um bom tempo. O Oasis era a marra em formato de uniforme. Um moptop rebelde, com sobretudos anormalmente grandes, cabelos igualmente ensebados, olhos vidrados e, na maioria das vezes, avermelhados.
Vinte anos se passaram. E os egos de Liam e Noel chegaram a níveis insuportáveis. Tão grandes, que não conseguem sequer dividir um palco juntos. Fomos sortudos por testemunharmos o desabrochar do grupo e algumas performances deles ao vivo – embora, cá entre nós, eles nunca tenham sido tão bons nos palcos.
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Ouvir Definitely Maybe era, uau, testemunhar a história da música sendo registrada. Era perceber o britpop como uma resposta tão barulhenta quanto a melancolia norte-americana. E como lidar com Liam e Noel? Aqueles dois sabiam como transformar qualquer canção balada em uma força volátil, corrosiva e explosiva. A tensão entre eles era exposta a cada faixa. Liam cantava quase com raiva as canções escritas pelo irmão, que rebatia com as guitarras. Eles eram bad boys – talvez não tanto quanto achavam que eram, mas tudo bem, queremos deixar a dupla feliz.
Liam e Noel mostraram que, sim, era possível querer ser uma estrela do rock and roll. Mostravam também que a vida de casado poderia ter altos e baixos (o que dizer da excelente “Married With Children”, que encerra o álbum de estreia). Tudo o que a dupla do Oasis precisava, aliás, era um trago e um gole de birita. Como não querer também?
Ouça o disco inteiro: