No palco, o cantor de Purple Rain tinha o pique frenético de James Brown, o talento de maestro de Duke Ellington, a sensibilidade pop festeira de Michael Jackson, a pegada roqueira de Jimi Hendrix e Chuck Berry e a visão futurista de Sly Stone
Prince esteve no Brasil apenas uma vez, em 1991, na segunda edição do Rock in Rio. O show que realizou no dia 24 de janeiro, uma terça-feira, foi naturalmente espetacular. Na mesma noite tocaram Santana, Laura Finocchiaro e o folclórico Serguei. Depois, a imprensa revelou as excentricidades dele: Prince havia requisitado cerca de 200 toalhas e que o camarim dele tivesse a cor púrpura. Infelizmente, o músico nunca mais voltou ao país.
O problema é que um show normal de Prince era muito caro, devido ao grande número de pessoas que ele trazia e todo o aparato que vinha junto. Infelizmente, os promotores brasileiros achavam que trazer o músico ao país fora de um grande festival poderia ser muito arriscado financeiramente.
Em 2012, eu vi apresentação de Bruce Springsteen e da E. Street Band em Nova Orleans, no Heritage Jazz Festival. The Boss tocou por três horas, e como de hábito, deu sangue no palco. Eu pensei que este tinha sido o melhor show que eu havia assistido na vida. Mas em setembro de 2013, eu fui cobrir o North Sea Jazz Festival na ilha de Curaçao e tive a sorte de passar quase três horas assistindo à apresentação mais eletrizante da minha vida. Na minha opinião, Prince conseguiu bater Springsteen.
O irônico é que Prince nem estava inicialmente escalado para o festival – ele foi anunciado na última hora para substituir Usher. Antes dele, já tinha se apresentado Luiz Miguel, que segurou algum interesse com seu pop romântico latino. Mas no dia 31 de setembro de 2013, um sábado, por volta das 23h, Prince e sua enorme trupe entraram no palco do North Sea Jazz.
Ele foi a principal atração do palco Sam Cooke e esvaziou o interesse pelas apresentações que aconteciam em outros espaços. Apesar do horário estipulado para a apresentação dele ser de apenas uma hora, Prince permaneceu por uma hora e 40 minutos. Um apresentador apareceu, agradeceu a Prince e a equipe e conclamou o público a ir assistir o The Roots, que se apresentava no palco ao lado do Caribe.
Enquanto o contrariado público debandava lentamente, Prince, para desespero da organização, reapareceu do nada para tocar por mais nada menos uma hora. Todo mundo voltou e assim o The Roots tocou para pouca gente. Não dava mesmo para competir com Prince. Showman sem igual, músico excepcional, ele comandou uma verdadeira big band de virtuosos como ele.
No palco, Prince tinha o pique frenético de James Brown, o talento de maestro de Duke Ellington, a sensibilidade pop festeira de Michael Jackson, a pegada roqueira de Jimi Hendrix e Chuck Berry e a visão futurista de Sly Stone. Mas mesmo com tantas influências transparecendo, Prince era simplesmente único e inconfundível.
O show de Prince teve vários segmentos bem distantes. No começo, quando Prince tocou canções mais dançantes e calcadas no funk, o palco se transformou em um circo de três picadeiros, com os músicos usando patins, e sessão de metais fazia coreografa incríveis.
Prince era acompanhado por três cantoras, que interagiam com ele de forma exuberante. Em outro momento, só ficava Prince e a sessão rítmicas, que era constituída apenas por mulheres. Esta era a parte “rock and roll” do show, onde ele brilhava na guitarra e mostrava tudo o que aprendeu ouvindo os mestres dos anos 1960 e 1970.
Em outro momento, Prince ia tocar teclado: esta era parte onde ele mostrava as baladas e o repertório mais romântico. O repertório foi vasto e não deixou nada de fora: obviamente teve “Purple Rain”, “1999”, “The Most Beautiful Girl in The World”, “Let’s Go Crazy”, “Little Red Corvette”, “Kiss”, "Raspberry Beret”, “When Doves Cry”, "Sign o' the Times" e muitos outros. Prince agora se foi e agora ficam as recordações. Quem viu, viu.