De 2000 a 2020, Academia de Artes e Ciências Cinematográficas premiou atores veteranos e revelações como Melhor Ator
A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, nas últimas duas décadas, premiou os melhores atores da geração, desde nomes veteranos a revelações surpreendentes. Algumas performances conseguiram passar no teste do tempo e são lembradas até hoje, como Leonardo DiCaprio em O Regresso (2015) e Jamie Foxx em Ray (2004).
No século XXI, apenas dois atores ganharam mais de um Oscar como Melhor Ator: Daniel Day-Lewis e Sean Penn. Claro, tiveram surpresas e artistas esnobados - afinal, os eleitores da premiação muitas vezes escolhem os vencedores por razões incompreensíveis para o resto de nós.
Em 25 de abril de 2021, Riz Ahmed, Chadwick Boseman, Anthony Hopkins, Gary Oldman e Steven Yeun se enfrentarão na categoria de Melhor Ator - e apenas um deles vai sair com a vitória. Em homenagem à 93ª edição do Oscar, veja, abaixo, o ranking dos 20 melhores atores premiados pela Academia nos últimos 20 anos, do pior ao melhor:
Antes de O Artista (2011), Jean Dujardin (George Valentin) trabalhou duas vezes com o diretor Michel Hazanavicius. Ao usar a beleza como arma, o ator teve uma interpretação charmosa e muito agradável ao viver uma estrela do cinema mudo. Contudo, a fofura da atuação pode parecer exagerada no decorrer da obra.
Com uma atuação íntima entre Jeff Bridgers e os fãs em O Grande Lebowiski (1998), de Ethan e Joel Coen, o ator se tornou o tio doidão favorito dos Estados Unidos. Mais de uma década depois, Bridgers ganhou um Oscar por Coração Louco (2009) ao interpretar um cantor de música country decadente e apaixonado por uma jornalista. O prêmio foi mais um reconhecimento da carreira do que um trabalho espetacular no longa de Scott Cooper.
Com mudanças na vida profissional e pessoal após vencer o Oscar pelo papel de Winston Churchill, Gary Oldman provou por que é um dos melhores atores da atualidade. A atuação convincente em O Destino De Uma Nação (2017) não chegou perto do auge da carreira dele. Após interpretar diversos bandidos, Oldman encontrou uma espécie de heroísmo no combate a Hitler como ex-primeiro-ministro britânico. Porém, o trabalho não foi marcante o suficiente a ponto de ser transcendental.
Rami Malek foi aclamado por filmes como O Mestre (2012) e Temporário 12 (2013). Depois, venceu o Emmy por Mr. Robot e foi escalado para interpretar Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody (2019). Assim como o longa, a atuação de Malek recebeu duras críticas. Porém, o ator capturou a doçura, o carisma e a energia jovial do líder do Queen - e provou por que os ataques eram injustos. Com diversos clichês, foi o protagonista quem deu vida à obra.
É impossível ignorar o quão excelente foi a transformação física de Jamie Foxx em Ray Charles. Não apenas duplicando o jeito extravagante mas também a energia sensual e nervosa, Foxx incorporou a música e a dor carregada por Charles até o momento de sua morte em 2004.
Então, por que ele ficou em uma posição tão baixa nessa lista? Por que Ray, em si, é apenas um filme biográfico de música mediano, remetendo a uma era na qual cada retrato cinematográfico de um gênio tinha que ser um romance de grande sucesso. (Desde então, recebemos biografias inovadoras e ousadas, como Não Estou Lá, The Beach Boys: Uma História de Sucesso e Get on Up.) Foxx dá tudo de si, mas o filme muitas vezes o leva a um conto inspirador de uma vida vibrante repleta de tragédias e triunfos.
O primeiro dos dois Oscars de Sean Penn neste século veio do triste thriller do diretor Clint Eastwood. A interpretação de Jimmy, ex-presidiário cuja filha adolescente é assassinada, é melodramática, cheia de emoções fortes e ameaças. (A cena na qual Jimmy descobre a morte da filha transborda angústia, conquistando seu Oscar no processo.)
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Penn articula cada grama da raiva e tristeza do personagem, tornando Jimmy uma figura trágica e feroz. Porém, é com um toque exagerado,enfraquecendo o realismo absoluto alcançado no filme.
Eddie Redmayne capturou o terror de perder o controle do próprio corpo neste drama sobre o complicado caso de amor entre Stephen Hawking (diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica aos 20 anos) e sua esposa Jane (Felicity Jones). É o tipo de performance fácil de descartar como isca do Oscar, mas a interpretação do ator supera as sutilezas da doença.
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Em vez disso, o “Hawking” de Redmayne é um gênio arrogante no meio de se descobrir e encontrar a alma gêmea, assim como descobre que está prestes a ter tudo arrancado por causa de uma condição incapacitante. Como resultado, a Teoria de Tudo tem uma pungência espinhosa e frágil, com Redmayne se tornando cada vez mais uma figura distante e complicada conforme o filme avança. Sim, é um filme sobre virtudes clichês, como perseverança e o triunfo do espírito humano, mas a habilidade do ator em fazer essas banalidades ressoarem faz Tudo funcionar.
Suspeitamos que não podemos confiar em Alonzo Harris (Denzel Washington), um detetive do Departamento de Polícia de Los Angeles sem medo de nada. Mas, o motivo do desempenho de Denzel Washington ser tão emocionante é o fato de, assim como o policial impressionável de Ethan Hawke, pensamos ser possível apreendê-lo se passarmos bastante tempo com ele.
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Washington sempre teve uma presença poderosamente carismática na tela, mas com este thriller, transforma o charme em algo aparentemente perigoso e imprevisível: devemos ser cautelosos com esse homem, mas não temos certeza de quão profunda é a corrupção. Dia de Treinamento pode ser terrivelmente ridículo - um drama sobre policiais do mal - mas é a confiança e intensidade do ator em nos manter presos dentro do carro com ameaças de um saqueador responsáveis por vender a produção.
Malcolm X (1992), O Voo (2012) e Jogada Decisiva (1998) - Washington teve muitas nuances e desempenhos devastadores. Mas neste filme, entregou fogos de artifício puro de estrela de cinema.
Se a vitória de Sean Penn por Sobre Meninos e Lobos (2003) no Oscar demonstrou uma força vigorosa, a conquista como assassino ativista dos direitos gays, Harvey Milk, representou doçura e compaixão. Em uma carreira marcada por interpretar caras durões (tanto na tela quanto fora dela), Penn exibiu uma rara gentileza, mas sem perder a rigidez. Na realidade, Milk: A Voz da Igualdade é um filme sobre amadurecimento com um herói caminhando para se encontrar e, ao mesmo tempo, empurrar os outros para aceitar homossexuais nas comunidades. Penn nunca foi tão adorável, qualidade raramente associada ao ator. Mas, veja como lhe caiu bem.
Até mesmo reis são vulneráveis, apesar de serem tão bonitos quanto Colin Firth. Essa verdade guia O Discurso do Rei, drama de época de bom gosto que extrai empatia da atuação modesta e corajosa do ator como Rei George VI, quem em 1936 subiu ao trono e finalmente enfrentou uma gagueira debilitante. Conhecido por interpretar personagens cheios de charme jovial e delicadeza impecável, Firth sempre nos deixa sentir o peso da coroa sobre a cabeça de seus personagens. Dificilmente a falta de confiança foi tão agradável.
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Semelhante a vitória de Denzel Washington por Dia de Treinamento (2001), Forest Whitaker ganhou o Oscar como Melhor Ator, embora não seja tecnicamente o protagonista no próprio filme. (Esse seria o jovem médico de James McAvoy, Nicholas, seduzido pelo presidente de Uganda, Idi Amin [Whitaker].) E como o policial desonesto de Washington, o ditador africano se torna um retrato do mal - um homem que gera calor pessoal, mas pode se tornar sangue frio quando alguém cruza com ele. A doçura pesada, a qual muitas vezes está na vanguarda das representações de Whitaker, foi completamente eliminada. Em O Último Rei da Escócia, testemunhamos apenas a irreconhecível maldade de um líder cuja sede de poder não pode ser saciada.
Ron Woodroof, eletricista de Clube de Compras Dallas, normalmente não é o foco de um filme vencedor do Oscar - o que torna apropriado ser interpretado por Matthew McConaughey, quem, na maior parte da carreira, não fez parte de nenhuma conversa sobre o prêmio da Academia. Mas, começando com O Poder e a Lei (2011), o ator se despediu do estilo vagabundo de praia e começou a fazer um trabalho mais cuidadoso, culminando em uma premiada virada para um homofóbico do Texas que, após contrair o HIV, descobre como é ser discriminado na América. McConaughey homenageia a recusa do homem em ser fofinho e inspirador só porque está morrendo.
Comer um fígado de bisão cru e quase contrair hipotermia em rios congelantes não é garantia de uma estatueta. Mas, claro, tais demonstrações de compromisso em nome da autenticidade do cinema não impedem as chances de reconhecimento pelos pares votantes.
Os bastidores brutais das filmagens do Western de sobrevivência de Alejandro G. Iñárritu tinham se tornado legendários antes de DiCaprio subir no palco para coletar seu primeiro Oscar, e isso quase com certeza contribuiu para a vitória.
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Assista à performance de novo, depois de todo o sucesso inicial, e verá como é uma das mais impactantes do ator. Sim, era a “hora” dele, como muitos dizem sobre a vitória de DiCaprio. Foi muito merecida.
Joaquin Phoenix arriscou se tornar uma paródia do artista sério. A partir de então, trabalhou em uma série de sucessos da crítica — O Mestre (2012), Vício Inerente (2014), Você Nunca Esteve Realmente Aqui (2017) — até chegar no colosso comercial: Coringa.
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As reclamações sobre Phoenix apenas reciclar um papel familiar como Arthur Fleck, um nova iorquino problemático quem se tornaria inimigo do Batman, seriam mais persuasivas se a sua inquietação irregular não fosse tão magnética.
Assistir alguém, muitas vezes afastado das produções de Hollywood convencionais, entregar uma performance tão grandiosa em um blockbuster é se lembrar de como talentos podem fazer pop art e não se sujar no processo. Heath Ledger será para sempre o Coringa ideal — estranho, assustador e fascinante — mas Phoenix transmite toda a dor a qual transforma um homem comum em um supervilão.
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Homens mal-humorados e introvertidos são a especialidade de Casey Affleck — assista Amor Fora da Lei (2013), O assassinato deJesse Jamespelo covarde Robert Ford (2007) ou Medo da Verdade (2007).
Contudo, encontrou o veículo perfeito para esse dom em Lee Chandler, um cidadão trabalhador de Boston (EUA) com uma vida triste prestes a se tornar mais triste ainda. Neste estudo de perda, arrependimento e dor do diretor-roteirista Kenneth Lonergan, nossos olhos focam em Lee enquanto lida com a morte do irmão e encara a perspectiva de criar o sobrinho adolescente, desenvolvimentos os quais forçam o personagem a revisitar traumas passados.
Manchester à Beira-Mar é um poço profundo de desânimo, mas consegue navegar a história de Chandler de forma brilhante, e mostra todo o ódio a si mesmo e a miséria pura dele. Muitos triunfos de Melhor Ator vêm em papéis marcantes e glamourosos. A performance de Affleck é parada e muda, retrato de um homem assombrado quem quer desaparecer.
Antes de O Pianista, o ator de Nova York era mais famoso por um filme do qual não participou, foi cortado de Além da Linha Vermelha (1998), de Terrence Malick. Mas, depois do drama de Holocausto de Roman Polanski, Adrien Brody se tornou uma estrela, o mais novo a ganhar Melhor Ator, aos 29 anos.
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Nunca mais interpretou um papel como este, mas os altos e baixos da carreira apenas amplificaram como foi singular ao viver Władysław Szpilman, judeu polonês cuja vida como um pianista venerado é destruída quando os Nazistas invadem sua terra natal.
A performance de Brody é toda composta de olhares assombrados e pausas longas — como Leonardo DiCaprio em O Regresso (2015), o principal trabalho é comunicar a resiliência silenciosa necessária para se manter vivo em situações impossíveis.
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A alma de Brody permeia esse filme, o qual é, muitas vezes, devastadoramente sem vida. A simples necessidade de sobreviver do personagem se transformou em uma atitude desafiadora heróica frente às atrocidades inimagináveis.
Por outro lado, o espetáculo neo-bíblico de Ridley Scott seria apenas mais um grande sucesso de bilheteria. Mas Russel Crowe - o qual ganhou elogios por papéis dramáticos anteriores em Los Angeles - Cidade Proibida (1997) e O Informante (1999) - trouxe seriedade e coração para o papel de um general romano honrado que deve derrotar o jovem imperador malcriado (Joaquin Phoenix), por o ter banido para uma vida no mundo cruel da arena de matar ou morrer.
O século XXI não produziu muitos heróis de ação comoventes, desconfortáveis e de ombros largos, nem muitos filmes pipoca com o alcance e o coração dos épicos antiquados de Hollywood. Crowe e Gladiador são a exceção, um raro exemplo de um artista enfrentando o desafio de fazer um filme sobre um evento de espadas e sandálias com grande emoção. Maximus derrubou um líder corrupto - e, no processo, o ator australiano ganhou o lugar entre uma nova geração de superestrelas.
Muitos sabem como Daniel Day-Lewis inicialmente recusou o pedido de Steven Spielberg para fazer o 16º presidente dos EUA, enviando ao diretor uma carta elogiando o brilhantismo do roteiro de Lincoln, mas sentindo que “só posso fazer esse trabalho se sentir quase como se houvesse não há escolha.” Felizmente, ele mudou de ideia.
Day-Lewis incorporou a inteligência e imponência de Lincoln, mas o desempenho do ator revela mais: como esse presidente tímido, ligeiramente tolo e inflexivelmente duro exerceu charme, intimidação, inteligência e patriotismo para pôr fim à Guerra Civil e, ao mesmo tempo, garantir votos suficientes para aprovar a 13ª Emenda . (O Oscar pelo papel o tornou o único homem a ganhar três prêmios da Academia de Melhor Ator.)
Foi preciso um ator estrangeiro para revelar o melhor do personagem norte-americano: a decência, a vontade, a humanidade e o amor por contar piadas idiotas. A relutância inicial de Day-Lewis em ficar com o papel demonstra por que ele estava exclusivamente destinado a interpretá-lo tão bem. E nem foi seu melhor desempenho neste século.
A tragédia da morte de Philip Seymour Hoffman em 2014 apenas torna esta brilhante performance ainda mais assustadora. Interpretando Truman Capote, um escritor sarcástico, inseguro e brilhante em busca da obra-prima, Hoffman entregou um retrato de ambição e manipulação que nunca engana as emoções conflitantes sob o impulso implacável de seu personagem.
Em Capote, o autor viaja para Holcomb, Kansas, em 1959, para entrevistar os habitantes da cidade onde um assassinato horrível resultou na morte de quatro pessoas. O ator vê o autor como parte jornalista e parte vampiro, nunca nos deixando ver totalmente as profundezas do egocentrismo desse personagem e da valorização insensível de uma boa história sobre a vida de boas pessoas. Mas o poder da interpretação de Hoffman nos faz sentir pena deste monstro estranho e presunçoso: foi o melhor momento dessa estrela talentosa, camaleônica e querida.
Para se preparar para interpretar Daniel Plainview - o imponente e ganancioso misantropo que caminha pela paisagem como um gigante esguio em Sangue Negro - Daniel Day-Lewis estudou gravações de áudio da era Dust Bowl, assim como fitas do ator e diretor John Huston.
A partir dessas e outras fontes, criou uma das maiores representações do excepcionalismo norte-americano. Muito, muito grande, na verdade: tudo em Plainview é gigante, incluindo a avareza, mesquinhez, competitividade - e especialmente a certeza implacável de que, de alguma forma, sugar todo o petróleo do oeste americano preencherá o vazio em sua alma.
É uma performance cativante e chocante ao mesmo tempo, e inesperadamente sensível. Mas, acima de tudo, é tão assustadoramente certeira que é como se o ator e roteirista-diretor Paul Thomas Anderson estivesse nos mostrando algo sombrio, podre e verdadeiro sobre o próprio capitalismo. Os jurados do Oscar não só o premiaram como Melhor Ator, mas também concordaram com a magnificência indomável e imponente da interpretação.
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