De uma infância solitária ao fascínio das multidões: o Queen não teria sido o mesmo se o seu frontman não tivesse passado por muitas dificuldades
Freddie Mercury, icônico frontman do Queen e dono da voz mais memorável do planeta, viveu pouco. Mal chegou aos 45 anos de idade antes que as complicações pela AIDS o levassem embora. Mas fez de todo esse período uma estrada para o sucesso absoluto.
Nascido Farrokh Bulsara em Zanzibar (hoje Tanzânia), Mercury enfrentou alguns tantos desafios antes de consagrar-se. Esses formam uma linha da vida do cantor - e detalham suas superações, medos e desafios. E determinação.
Com base em texto do U Discover, separamos, abaixo, os 9 principais passos e aprendizados de Freddie Mercury - fatos importantes que permitiram que ele fosse exatamente o astro de Queen.
Em 1954, quando tinha oito anos, o menino Farrokh entrou em um barco sozinho; saiu da Tanzânia, na costa leste do continente africano, para estudar na St. Peter Boarding School, escola em Bombaim, Índia. Deixou para trás os pais e a irmã Kashmira, seis anos mais nova, pela qual o pequeno tinha adoração.
No documentário Freddie Mercury: A Life, In His Own Words, o homem, já adulto, detalha como foi difícil enfrentar “os sentimentos de solidão, de pura rejeição.” Mas ajudou, finalmente, a formar quem ele virou:
“Fui para um ambiente que tinha que me virar, então aprendi a ser responsável bem cedo. Acho que isso me transformou em alguém impossível. Uma coisa um internato te ensina: ser independente e não contar com ninguém de verdade.”
Depois de sair da escola aos 17, Mercury se mudou da Índia e foi para o Reino Unido com a família, que fugia para a capital inglesa por conta da guerra civil da Zanzibar . Sua educação superior foi em Design Gráfico na Ealing Art School. Até gostava da carreira, mas não amava:
“Peguei o meu diploma e aí imaginei que teria mais chances como freelancer. Trabalhei por alguns meses mas aí pensei: ‘meu deus, já foi o suficiente.’ O interesse simplesmente não existia.”
Não demorou para achar a sua verdadeira vocação. Estava bem ali, sempre ao lado dele: “a música só crescia e crescia. Percebi que era a parte mais importante da minha vida, e decidi viver disso. Simples assim. Sou uma daquelas pessoas que acredita em fazer o que te desperta interesse.”
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Decidido o rumo que teria na vida, Freddie Mercury precisava seguí-lo. Formou algumas bandas aqui e ali, como a Sour Milk Sea e a Ibex, mas nenhuma durou muito tempo. Em 1969, quase 1970, conheceu os estudantes Brian May e Roger Taylor, que faziam parte do trio Smile.
Alguns meses depois, Freddie assumiu os vocais dessa banda - que logo depois mudaria de nome e viraria Queen. John Deacon entrou por uma audição não muito tempo depois.
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Porém, o cenário musical do início dos anos 1970 era selvagem. Depois da explosão musical da contracultura e o crescimento do rock, todos queriam estar na calçada da fama. E tinham que, para isso, mostrar a que vieram, e provar que podiam bater de frente com gigantes.
“Assim que fizemos uma demo [em 1971], sabíamos dos tubarões” garantiu Mercury. “Quando você começa a fazer sucesso, todos os valentões vêm e é nessa hora que precisa ser muito forte e vencer eles. É um teste de sobrevivência, de verdade. Você não pode deixar ninguém se safar. É como um carrinho de bate-bate do rock n roll.”
A primeira grande turnê do Queen foi em 1974, e servia para divulgar o primeiro disco, homônimo à banda. Como iniciantes, porém, não tinham o próprio show. A pedido da gravadora, iam para lá e para cá abrindo as apresentações de Mott the Hoople. Para desespero de Freddie Mercury, que não suportava a submissão à atração principal.
“Ser o número de suporte foi uma das experiências mais traumáticas da minha vida,” lamentou-se o vocalista. “Quando você toca antes de outro artista em turnê, tem tantas restrições. Você não escolhe as luzes, seu tempo de palco, os efeitos. Não tem maneira de mostrar ao público o que pode fazer, a não ser que seja headliner, e aí as pessoas já estão lá para te ver.”
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Mesmo com todas as restrições, essa turnê foi fantástica. Pouco a pouco, o Queen ganhou destaque, e a sombra do número de abertura começou a ofuscar o show principal. Os integrantes do Mott the Hoople até pediram para a gravadora sumir com o Queen - mas foram ignorados.
O Queen estava com tudo. Era impressionante, cativante, emotivo. Mas… Por quê? Entre muitas respostas, a mais certeira talvez seja a inovação e leveza da banda. Mas nenhuma delas era por acaso. Freddie Mercury se preocupava com ser diferente e ser algo a mais do que todas as outras bandas.
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“Eu forçava a barra,” admitiu. “Tudo tinha que ser novo. A gente avançava um pouco mais em todos os discos, na verdade, mas o Queen é assim. Era o que nos mantia novos. A Night At The Opera [1975, disco de “Bohemian Rhapsody”] tinha de tudo, de uma tuba a um pente. Nada era fora dos limites. E assim que terminamos, sabia que nunca mais nada seria.”
Não demorou muito para que Freddie Mercury e o Queen aprendessem algo: eles sabiam fazer shows como poucas outras pessoas. Assim que entenderam isso, puderam decolar: de um evento no pátio de um colégio, em 1972, no qual apenas seis pessoas apareceram, até uma turnê com 76 apresentações e em quatro continentes diferentes em 1974. Dois anos, apenas, e todo esse sucesso.
“A turnê mundial foi um sucesso, e algo que nunca tínhamos feito antes, e nos ensinou muito. Ensinou a como nos comportar no palco e como tocar ao vivo.” No final da turnê, em 1975, o Queen foi ao Japão “e já éramos uma banda diferente. Tocávamos melhor. E trabalhávamos bem sob pressão.”
Não tem como olhar para uma performance de Freddie Mercury sem o adjetivo “fabuloso” em mente. Ele o era, completamente. Performático e exagerado, o astro moldou a “atitude showman” de muitos outros que vieram depois. E nada poderia ser um deleite maior para o espalhafatoso cantor.
“Quero que todo o mundo ouça minha música, e que todo mundo me olhe enquanto eu me apresento,” disse durante os anos 1970. Mercury sempre queria ter certeza que todo a sua plateia lembrasse daqui. “Precisava garantir que os ganharia, e que sairiam sentindo que se divertiram. Sei que é clichê dizer ‘oh, você tem eles na palma da sua mão,’ mas sinto que quanto mais rápido eu fizer isso, melhor, porque fico no controle. E sei que tudo está bem.”
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Mercury tinha isso e mais. Conseguia fazer, de fato, multidões comer na palma de sua mão. Um exemplo disso é o icônico show do Queen em 1985, no primeiro Rock in Rio. Tocando para 250 mil pessoas, Mercury conseguiu delimitar a marca de “melhor show do Rock in Rio.” para muita gente.
Queen era tudo aquilo que Freddie Mercury podia querer. Mesmo assim, de vez em quando, tinha algum experimento musical que simplesmente não cairia bem com a banda. Por isso, em 1985, o cantor decidiu brincar um pouco sozinho e ser o próprio chefe.
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“Assim é mais fácil para mim,” disse, à época. “Eu tomo todas as decisões.” Decisões essas que incluíam vídeos de ballet “´para a massa,” sonho do cantor, como explicou Arlene Phillips, coreógrafa de turnê do astro.
Freddie Mercury nunca cansava de falar sobre “riscos.” A palavra aparecia em quase todas as entrevistas que dava, e, para o astro, era um dos melhores elementos que a vida fornecia. “Isso que faz música boa. E o Queen assume riscos.”
Alguns dos “riscos” que o Queen tomou, na opinião de Mercury: a épica epopeia de “Bohemian Rhapsody”; o ousado videoclipe de “I Want do Break Free” (mas, deus, que risco agradável!) e todo o disco experimental Hot Space (na verdade, o cantor o descreveu como “grande risco”).
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Não cansava de botar o pescoço na reta. E ficamos felizes que o fez. Queen não seria Queen sem algumas pitadas de maluquices e bizarrices - e também não seria Queen sem Freddie Mercury.