A produção está disponível na Netflix, e consegue, em poucos minutos, dar uma aula
No dia 14 de abril, estreou no catálogo da Netflix o aclamado curta-metragem Dois Estranhos. Dirigido por Travon Free e Martin Desmond Roe, o drama mostra, em 30 minutos, a dura realidade de ser negro nos Estados Unidos. Contudo, é uma história que transcende as fronteiras, e também se repete em outros países, como no Brasil.
O curta prova que não são necessários muitos minutos para dar uma aula importante sobre racismo. Preso em um loop assustador, o jovem Carter James (Joey Badass) é morto todos os dias pelo policial branco Merk (Andrew Howard) ao tentar voltar para casa - e no dia seguinte, ao acordar, tenta escapar do destino, mas está aprisionado nessa chacina cruel.
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É impossível não se arrepiar com a produção, uma das favoritas a ganhar o prêmio de Melhor Curta-Metragem na cerimônia. Atual, urgente, dramático e inovador, Dois Estranhos é surpreendente. A Rolling Stone Brasil listou 4 motivos para assistir à produção:
Dois Estranhos conta uma história real diversas e diversas vezes. Para isso, a produção se apoia na ficção - mais especificamente no conceito conhecido do loop temporal. Mas não se engane, a história é bem mais atual e realista do que parece.
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A ficção apenas oferece uma diferente perspectiva, e reafirma o fator repetitivo e cruel do assassinato de negros por policiais. Não importa o que façam, esse é o triste destino de nomes como George Floyd, Breonna Taylor, João Pedro e, na trama, Carter James. No entanto, o esforço para sobreviver não é em vão - e o final do curta deixa isso evidente.
A importância de curtas como Dois Estranhos não é medida com números de streaming. A produção ganha força e relevância histórica por registrar essa terrível realidade de forma crítica - e se apoia na ficção, que transborda a criatividade e inovação dos diretores.
No dia 20 de abril de 2021, Derek Chauvin foi condenado pelo assassinato de George Floyd. Em maio de 2020, o ex-policial ficou mais de 9 minutos com o joelho no pescoço de Floyd. Se não fosse pelos registros e pela mobilização internacional, o julgamento poderia não ter acontecido.
Por isso, é importante trazer esse cenário para as plataformas de streaming - e Dois Estranhos o faz com maestria. O curta reflete o movimento Black Lives Matter, mas vai além: denuncia histórias reais que acontecem há muito tempo, e repetidamente.
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O uso da ficção científica deixa a narrativa muito interessante - e mesmo fazendo diversos retornos ao mesmo dia, não fica cansativo. A atuação de Joey Badass (que também é rapper) merece destaque por isso.
Um dos responsáveis por trazer movimento à trama, o astro mostra a potência e vontade do personagem. Mesmo se tratando de uma trama brutal, Badass consegue protagonizar alguns momentos cômicos - e nada é de maneira forçada.
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Apesar da repetição incessante do destino do personagem, cada momento é diferente. Ao longo das diversas cenas e tentativas do personagem, a narrativa cresce de maneira surpreendente - tudo isso para desembocar no final emocionante.
A narrativa potente de Dois Estranhos funciona como ativismo ao defender uma causa. Contudo, a produção subverte diversos valores abordados na indústria cinematográfica, como a noção do homem branco que compreende a realidade dos negros.
O curta constrói a possibilidade de transformar o policial Merk em alguém bom para mostrar que, na verdade, não existe essa chance. Afinal, não são os próprios filmes que tornaram o preto sinônimo de vilão, cruel e ruim? Dois Estranhos mostra o contrário - e é melhor pegar a caneta para anotar.
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