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Vencedor do Oscar de Melhor Documentário, Citizenfour ensina que a paranoia com privacidade no pós-11 de setembro é justificada

Longa mostra como aconteceu, por meio de Edward Snowden, a revelação de um dos maiores segredos da história moderna

Lucas Borges Publicado em 11/03/2015, às 14h18 - Atualizado às 16h15

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Edward Snowden e Glenn Greenwald - Reprodução
Edward Snowden e Glenn Greenwald - Reprodução

À primeira vista pode parecer ficção, uma história na linha de 1984, o drama totalitarista de George Orwell, mas Citizenfour, vencedor do Oscar de Melhor Documentário em 2015, é bastante real.

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Ainda que o Brasil tenha - indiretamente - levado a pior na disputa pela estatueta mais concorrida do ramo cinematográfico - quando O Sal da Terra, do alemão Wim Winders, sobre o trabalho do fotógrafo Sebastião Salgado, perdeu para Citizenfour - o país é a primeira paisagem exibida na obra dirigida por Laura Poitras, que abre mostrando os morros do Rio de Janeiro. É na Cidade Maravilhosa onde vive o (agora ex) jornalista do The Guardian Glenn Greenwald, uma das três pontas da história retratada no filme. As outras duas são a própria diretora/produtora, Laura, e Edward Snowden, o ex-analista de sistemas da Agência de Segurança Nacional (NSA) que revelou ao mundo os segredos dos megalomaníacos planos de espionagem do governo dos Estados Unidos.

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O longa-metragem denuncia como a máquina de poder norte-americana passou, a partir do ataque terrorista às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, a invadir sem escrúpulos a privacidade de cidadãos fora dos EUA (só os norte-americanos residentes no país são protegidos da prática por lei). “Construímos a maior arma de opressão da história”, diz outro ex-funcionário da NSA em um depoimento público.

Por precaução, após enfrentar problemas com autoridades locais com a realização de My Country, My Country, a respeito da Guerra do Iraque, e The Oath, sobre a prisão de Guantánamo, Laura se muda para Berlim e, de lá, a partir de mensagens criptografas, passa a se comunicar com Snowden. Isso daria início ao filme que, ela afirma, é o capítulo final dessa trilogia.

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Quando ela, Greenwald e a fonte das informações que iria mudar o mundo finalmente se encontram em um quarto de hotel de Hong Kong, em 2013, a trama atinge o ápice do tom orwelliano.

Snowden conta como agentes da NSA podem, da tela dos computadores em seus escritórios, observar a imagem de drones que passam horas fiscalizando lares privados sem justificativa e expõe a promíscua relação entre governo e empresas de internet (Google, Facebook, Apple, Yahoo, PalTalk, Skype, YouTube, Skype e Microsoft) em busca de informações de terceiros.

Em um momento de confusão para o espectador (rir ou chorar?), os personagens entram em alerta porque um alarme de incêndio dispara no exato momento de uma importante confissão. Seriam espiões tentando boicotar a missão jornalística?

O Rio de Janeiro volta à tela depois que Snowden já foi indiciado pelos Estados Unidos, tornando-se um refugiado em busca de exílio, e quando se revela que os braços da espionagem do Tio Sam chegaram até ao solo tupiniquim, fato que na época gerou stress diplomático entre os presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama.

Citizenfour não é um filme sobre um mal moderno que foi denunciado e, para alívio geral, está sanado. Pelo contrário. Em uma das cenas finais, os denunciantes, temerosos, trocam mensagens diante das câmeras de uma forma bastante rudimentar para experts em tecnologia, escondidos, através de pedaços de papel, para no minuto seguinte picotá-los em pedacinhos indecifráveis. Sabe-se lá que outras bombas virão por aí.

O documentário, exibido em um evento em São Paulo organizado pela Actantes, coletivo de segurança de rede na internet, pela Agência Pública e pelos sites PonteOutras Palavras, ainda não tem previsão para entrar em circuito.