Anarquia liderada por Lula Queiroga completa 16 anos de tradição no carnaval do Recife e Olinda
O maracatu encontrou o “Aquarius”, do musical Hair. O resultado? Pode ser maravilhoso ou catastrófico. Tudo depende do nível de bom humor do ouvinte. Se for alguém boa praça, versos como “Renan [Calheiros] voltou / Vai provar mais uma vez que o brasileiro é otário / bando de otário”, do ritmo da canção citada acima, a reação pode ser um sorriso no rosto, pela criatividade de quem canta. Além de uma crítica ácida e direta aos políticos que elegeram Renan Calheiros como presidente do Senado.
O clima do Quanta Ladeira, liderado pelo cantor e compositor pernambucano Lula Queiroga, que esculachou tudo e a todos na abertura do segundo dia do Rec-Beat, no palco em Cais da Alfândega, no Recife, neste domingo, 10, é assim: uma diversão agridoce, com risos e críticas, humor e sacanagem entre os participantes.
Em cima do palco, tudo é uma anarquia. Melhor que seja assim. Não há ordem, canta quem quer, como quer, cutuca fulano, cicrano e beltrano, sem distinção – embora, normalmente sobre para outro músico que está no palco. Percussão, guitarra e baixo deixam o terreno pronto para o improviso musical dos artistas. Na edição deste ano, a 16ª, além dos tradicionais versadores que seguem o Quanta desde a primeira, como um bloquinho carnavalesco em Olinda, participaram China, Tulipa Ruiz, Fafá de Belém, Marcelo Jeneci, Lia Sophia e Tibério Azul.
É preciso ter coragem. Os mais experientes provocam, brincam, e o novato precisa saber responder para ser aceito na nata da comunidade musical pernambucana. “Eu lembro da primeira vez que participei do Quanta”, diz Tibério, que fez a sua segunda participação. “Depois daquilo, foi como se eu tivesse sido aprovado pela classe artística daqui”, diz o cantor, de 33 anos, líder do Seu Chico e com uma promissora carreira solo. No show, ele versou simpaticamente sobre fazer sexo anal com outros integrantes do Quanta. Tudo uma grande brincadeira anárquica, divertida e contagiante.
Não por acaso a multidão que se fixou em frente ao palco do Cais da Alfândega se avolumava de tal forma que, segundo Lula Queiroga, chegava aos 55 mil. “O que fazemos aqui é um retro-show”, brinca ele. “Não é o som de alguém, é o som de todo mundo junto. Não é nada que seja para alargar os horizontes.”
Lula diz que os presentes nesta edição foram privilegiados. “Neste ano, a empolgação foi bem melhor”, disse ele, que brincou (será?) que todo ano pode ser o último Quanta Ladeira. O Quanta sugere a ideia de liberdade total para cantar. “Só não pode deixar de ser criativo. No resto, vale de tudo.
O Rec-Beat segue com shows de Uh La La!, do mexicano Juan Cirerol, o colombiano Monsieur Periné, os búlgaros Kosta Kostov e Tulipa Ruiz, encerrando esta segunda noite.