O grupo de digital hardcore traz suas letras políticas e combativas ao Cine Joia, em São Paulo, nesta sexta, 15
Depois de ter sido cancelada a vinda do Atari Teenage Riot ao Brasil, em março, o grupo alemão de digital hardcore finalmente desembarca no país esta semana para cumprir a nova data do show no Cine Joia, em São Paulo. A banda chega aqui cheia de vontade de realizar a apresentação e a fim de se inteirar melhor sobre a realidade do país, no qual esteve pela última vez em 1998. Foi o que contou por telefone à Rolling Stone Brasil o frontman Alec Empire.
“Eu sou muito curioso com o que está acontecendo”, diz ele. “Tudo se tornou muito conectado e global. As coisas locais demais são difíceis de acompanhar, mas dá para ficar de olho no que acaba na internet, por exemplo. Recentemente, um cara o Anonymous do Brasil me mandou algumas informações”, conta, se referindo ao coletivo de hacktivismo. “Quando vou a um país, gosto de conversar com as pessoas, porque absorvo muito mais. Foi muito diferente visitar o Japão após o tsunami e ver o que aconteceu mesmo, os fatos são muito diferentes do que você lê quando está longe.”
Perto de finalizar um novo disco, previsto para o segundo semestre, o Atari – formado ainda pela artista Nic Endo (que aparece na foto ao lado de Alec) e o MC CX KiDTRONiK – segue em frente com sua missão musical e política nos trabalhos mais recentes, que mantém o tipo de ativismo pelo qual o grupo ficou conhecido nos anos 90. O que mudou foi o quanto ficou mais fácil fazer essas mensagens atravessarem oceanos.
“Os temas sobre os quais tratamos nas nossas letras não ficam só na Alemanha. Usamos exemplos de lá, mas eles podem ser facilmente adaptados para realidades de outros países. Por exemplo, censura. Ela é mais pesada em alguns países, é claro, mas o problema permanece em todo lugar”, ele afirma, relembrando uma passagem que ocorreu com a banda. “Há alguns anos, tivemos nosso disco The Future of War [de 1997] censurado pelo governo na Alemanha, ele não podia ser vendido, nem mesmo online, e as músicas não podiam ser tocadas nas rádios. Foi um choque saber que uma coisa dessas pode acontecer em um país europeu e sem nem passar por um julgamento oficial. Falamos de política em geral, corrupção, coisas globais. E muito tempo depois as pessoas ainda se identificam, porque algumas coisas mudaram, mas o princípio é o mesmo.” As tão debatidas mudanças no meio do qual faz parte não influenciaram somente no alcance de temas abordados pelas letras da banda. “Hoje, com a nova forma de distribuir música, eu questiono a gente ter um selo de distribuição de música nesse formato que instituímos nos anos 90”, diz ele sobre o selo Digital Hardcore.
Da década passada para cá, mudou também a maneira de enxergar o gênero eletrônico, ao qual o Atari pertence, em certa medida. Refletindo sobre algumas das entrevistas que deu sobre o assunto em sua última passagem pelo país, conclui que simplesmente não usa mais os mesmos conceitos para definir os termos techno e hardcore. “Música dance se expandiu tanto que abarcou quase tudo. Não consigo mais fazer a crítica do mesmo jeito”, diz ele, que costumava ser ferrenho ao falar sobre dance. “Hoje você tem o dance muito comercial, mas tem coisas underground também, que eu amo. Tudo se fragmentou bastante. Naquela época, tinha tanto disco ruim e techno que não tinha como tratar do assunto sem falar mal”, declara, rindo.
“Para mim, o inimigo é a música que não diz nada, não apresenta a personalidade de quem está por trás da composição, não tem alma”, define. “E isso vale para rock, hip-hop, indie, tudo. Música que é feita como um trabalho de horário comercial.” A seguir, pondera consternado: “Talvez essa música ‘papel de parede’ aconteça porque tem menos dinheiro circulando na indústria musical e as pessoas precisam lançar mais coisas para conseguirem se manter”.
Atari Teenage Riot em São Paulo
15 de junho, às 23h
Cine Joia – Praça Carlos Gomes, 82 - Liberdade
R$ 75 (primeiro lote) ou R$ 95 (segundo lote)