Em show de alta voltagem e repleto de idolatria, Hayley Williams e companhia mostraram que a perda de dois integrantes não prejudica a performance da banda
"Dizem que a indústria da música está morta, mas eu não acredito nisso, porque olho para o rosto de vocês e ela parece bem viva para mim." Após dizer esta frase, e antes de dar sequência ao show do Paramore, que aconteceu no último domingo, 20, em São Paulo, no Credicard Hall, a vocalista Hayley Williams para e contempla por alguns segundos o mar de pessoas de braços levantados que urrava de alegria a cada palavra que saía de sua boca. A casa lotada por quase sete mil pessoas, a maioria delas adolescentes (mais alguns pais/mães), ficou em polvorosa durante o período de pouco de mais de 1h30 de pop punk do grupo. Tudo que Hayley falou, questionou ou comentou foi recebido com berros e choro por um público composto por jovens em fase de sentir todas as emoções à flor da pele e exalar sentimentos de idolatria pelos poros.
A expectativa para essa segunda vinda da banda ao Brasil era saber como ficaria o som do grupo após a saída de dois integrantes em dezembro do ano passado. A ausência dos irmãos Zac (bateria) e Josh Farro (guitarra) possivelmente será sentida em álbuns, mas ainda é cedo para saber. Porém, ao vivo, ficou provado que os integrantes remanescentes (além de Hayley, o baixista Jeremy Davis e o guitarrista Taylor York), ao lado dos músicos provisoriamente contratados (o baterista Josh Freese e o guitarrista Justin York, irmão de Taylor) dão conta do recado perfeitamente.
A presença de palco da falante e espevitada frontwoman é impressionante. Adorada pelos fãs, que não paravam de gritar para ela, Hayley não perdeu a pose sequer por um instante em uma performance que poderia ter sido patrocinada por uma marca de pilhas: moleca, ora cospia para o alto, ora dançava sem parar, cruzando o palco de ponta a ponta em poucos segundos sem perder o fôlego para cantar, brincar e jogar seus cabelos alaranjados para cima e para baixo. E o pique da apresentação se manteve assim do início ao fim, tanto durante o desfile de hits do início da performance - "Ignorance", que abriu a noite, a comemoradíssima "That's What You Get", "Careful", "Decode" (da trilha sonora do filme Crepúsculo) -, quanto na sessão acústica, que trouxe "In the Mourning" (parte das novíssimas composições nas quais o grupo tem trabalhado e que, possivelmente, integrará o álbum prometido para este ano), "When It Rains", "Where the Lines Overlap" e "Misguided Ghosts". Essas também puxaram coro, com direito a uma bela imagem de celulares e câmeras para cima, balançando de um lado para o outro.
O set list ainda passou por algumas músicas que não foram singles, mas não deixaram de estar na ponta da língua dos dedicados fãs, que (literalmente, em muitos casos) estavam vestindo a camisa do Paramore, portando cartazes carinhosos e, em vários casos, usando cabelos coloridos, como a vocalista baixinha, porém imponente que veneraram a noite toda.
Desta forma, a energia que emanava do palco batia na plateia e voltava em dobro. Hayley sabe comandar a público e usar da intensidade da paixão de seus jovens fãs para alimentar sua própria energia. A emoção e o calor para quem ficou no gargarejo (tanto da pista VIP quanto da regular) era tanta que, entre lágrimas, suor e gritos agudos de "eu não acredito que a gente está aqui, no show do Paramore!", muita gente passou mal antes mesmo de o grupo subir ao palco. Os seguranças e bombeiros tiveram que se desdobrar para garantir o bem-estar da plateia em meio ao empurra-empurra.
Quando a porção acústica da noite chegou ao fim, foi a vez de ouvir uma faixa amplamente conhecida, "Crushcrushcrush". Antes de começar, Hayley, em seu bem-sucedido jogo de manter a plateia vidrada e vibrante o tempo todo, desafiou todo mundo a dançar sem parar durante toda a duração da música. A brincadeira, contudo, já era esperada por grande parte dos fãs - que, esmagados, não conseguiram entrar na dança como gostariam -, pois havia feito parte das outras apresentações do Paramore no Brasil. Bastante semelhante, também, foi a rotina de elogios à cidade, seguida da promessa de que não demorariam mais três anos para voltar, e os momentos nos quais os integrantes se enrolaram em uma bandeira do país (um dos muitos itens que foram arremessados para a banda), para o delírio das pessoas que não pareceram se importar com o tamanho do clichê.
Foi ao ritmo romântico de "The Only Exception" que o grupo saiu do palco, deixando os fãs, aos urros, pedindo outra canção lenta, "My Heart", do disco de estreia do Paramore, All We Know Is Falling. A pausa terminou ao som de "Brick by Boring Brick", single do álbum de estúdio mais recente da banda, Brand New Eyes, de 2009. A programação dizia que, então, o show terminaria com "Misery Business", o sucesso que lançou Hayley e companhia ao estrelato. Porém, o grupo não conseguiu ignorar os pedidos dos fãs, que começaram tímidos desde o início do show, se intensificaram e tiveram seu auge na pausa para o bis: "My Heart" foi inclusa no set e a cantoria, de tão alta, volta e meia abafava a voz da líder da banda. Quando chegou, de fato, a vez de "Misery Business", Hayley recebeu no palco alguns fãs para inverter os papeis: eles assumiram, temporariamente, o lugar dos integrantes da banda, que aproveitaram para fazer ainda mais bagunça.
O Paramore, que antes de desembarcar em São Paulo já esteve em Brasília, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, segue agora para Porto Alegre, onde encerra a turnê pelo Brasil. A apresentação acontecerá nesta terça, 22, no Pepsi on Stage. Clique aqui para mais informações. Ao deixar o Brasil, a banda dá continuidade ao giro pela América Latina, que ainda inclui datas na Argentina, Chile, Peru, Colômbia, Venezuela e Porto Rico.