Em show no Hyde Park, em Londres, ex-beatle provou que naturalidade e cordialidade também podem fazer parte da cartilha de grandes estrelas
Hyde Park, Londres, 40 mil pessoas. Pouco depois da derrota que eliminou a Inglaterra da Copa do Mundo, com a pontualidade britânica mundialmente conhecida, Paul McCartney subiu ao palco, sorridente, feliz e visivelmente emocionado, parecendo que estava fazendo aquilo pela primeira vez. O músico foi a última atração do Hard Rock Calling Festival, que aconteceu entre os últimos dias 25 e 27.
O show começou com o público já maravilhado, mas nada comparado à emoção coletiva que tomou o lugar com os primeiros acordes de "All My Loving", a terceira música do setlist. "Antes de realmente começar, deixem-me olhar bem para vocês. Eu acho que esta será uma noite muito especial." Ok Paul, todos ali tinham certeza disso também.
O que não poderíamos imaginar era o quão especial seria. A apresentação começou com o sol ainda muito quente do verão londrino, às 19h30 - e durou exatas três horas. Sim, Sir Paul McCartney, no auge dos seus 68 anos, tocou durante 180 minutos para um público gigantesco, formado por adolescentes, adultos, idosos e até crianças - e não só ingleses, mas de diversas nacionalidades.
A experiência de ir a um show do Paul McCartney não é emocionante apenas pelo fato de podermos ouvir alguns dos maiores clássicos da música contemporânea: ele sobe ao palco com tanta paixão que nos faz parecer íntimos do nosso ídolo. Antes de cada música, uma história, uma explicação, uma piada. Como antes de começar a bela "Here Today", canção que escreveu para John Lennon logo após sua morte. "Essa música é a conversa final que nós nunca tivemos." Olhando ao redor, era fácil notar que muita gente derrubava lágrimas neste que foi um dos momentos mais emocionantes do show. Além de John, Paul homenageou seu também ex-companheiro de banda George Harrison, ao pegar o ukelele e contar que George era louco pelo instrumento, e por isso o ensinou a tocar. Na sequência, "Something", a música que ele tocou para o guitarrista e que, segundo ele, queria tocar agora para a gente.
Gentleman que é, Paul misturou as músicas clássicas dos Beatles para agradar os fanáticos pela banda a faixas de sua carreira solo. Foi clássico atrás de clássico. De "Hey Jude" a "I´m Looking Through You", de "Blackbird" a "Back in the U.S.S.R.".
"Give Peace a Chance", que começou com o sol se pondo, ganhou muitas luzes e o símbolo de paz e amor brilhando em cima do palco, levando mais pessoas às lágrimas, como não poderia deixar de ser. "Live and Let Die", com toda a sua explosão, ganhou inúmeros fogos de artifício, deixando aquele começo de noite ainda mais bonito.
Paul tentou terminar o show inúmeras vezes. Cada vez que isso acontecia, o "Aaaaah" da plateia não o deixava abandonar o palco. Por conta disso, felizmente ganhamos mais e mais hits nos bis, como "Ob-la-di Ob-la-da" e "Helter Skelter" e, para finalizar com chave de ouro, nada mais justo que "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band".
É impressionante o jeito cordial daquele que carrega nas costas a responsabilidade de ser eternamente um beatle. E nada parece ensaiado: ele se emociona inúmeras vezes, ao mesmo tempo em que toca com a naturalidade de quem está fazendo o que mais ama na vida. Resta torcer para que ele passe pelo Brasil para que consigamos ter essa experiência no calor do nosso pais, onde com certeza Sir Paul McCartney vai ficar tão emocionado quanto demonstrou estar em Londres.