Barbara Ohana e Cidadão Instigado também falam sobre os shows deste sábado, 17, no Audio Club, em São Paulo
Em 2015, o Popload Festival resolveu diversificar: teve rap, folk e até punk rock no primeiro dia do festival (a última sexta, 16). No sábado, para fechar a terceira edição do evento, sobem ao palco Belle & Sebastian, Spoon, Cidadão Instigado e Barbara Ohana – além das atrações da tenda eletrônica –, não deixando a identidade indie do festival se perder.
Lembre como foi o Popload Festival 2014.
Assim como no ano passado, o Popload Festival 2015 volta a acontecer no Audio Club, com dois dias de duração e uma tenda eletrônica, além do palco principal. Em 2013, o evento estreou de maneira tímida no HSBC Brasil, também em São Paulo, muito mais com cara de show solo do The xx (com Silva, então com apenas um álbum na bagagem, e Yuck, fazendo a abertura).
O segundo dia da terceira edição do festival acontece neste sábado, 17, com uma escalação que destaca os gringos Belle & Sebastian e Spoon nos horários principais. O evento, contudo, também abre espaço para atrações nacionais que ganharam destaque recente, a partir das 20h. Os ingressos para o segundo dia do Popload Festival 2015 custam entre R$ 270 e R$ 480 (há meia-entrada) e ainda não esgotaram.
Abaixo, saiba o que esperar dos shows que acontecem no palco principal do segundo dia de festival.
Barbara Ohana (20h)
A cantora Barbara Ohana chamou atenção com o criativo clipe de “Golden Hours” – lançado no segundo semestre do ano passado – e, posteriormente, lançou o primeiro EP da carreira. Com uma sonoridade pop mais sombria e puxada para o indie, Dreamers foi a carta de intenções da artista, que se prepara para estrear em álbum e já ganha destaque no Popload Festival deste ano.
“As pessoas receberam de uma forma muito carinhosa”, diz Barbara sobre o primeiro trabalho. “Fiquei muito satisfeita, achei que foi um processo natural. Está indo aos pouquinhos”. Logo após o lançamento do EP, ela teve logo duas músicas – “Golden Hours” e “Ordinary Piece” – vinculadas em uma novela da Globo, a Verdades Secretas, que foi ao ar no meio do ano.
“Muita gente que naturalmente não teria acesso à minha música, eu imagino, acabou tendo”, comenta. “E acabou gostando – o que foi uma surpresa para mim. Pensei que aquilo poderia ter uma resposta aleatória, ou que as pessoas ficassem indiferentes. Mas acabou tocando muita gente. As duas músicas acabaram tendo um efeito popular em muitas pessoas que eu não imaginava. Além de serem de lugares distantes do eixo Rio-São Paulo.”
Cantando em inglês, Barbara Ohana não esconde as referências de Lykke Li e a vontade fazer um pop “refinado”. “A maior parte do repertório [dos shows] são do EP, sim”, adianta ela sobre a apresentação no festival. “Tem cover, uma do Radiohead – ‘Lotus Flower’ – que a gente vem fazendo, e uma outra que deve fazer também, mas é segredo. E tem duas músicas que não entraram no EP e não foram lançadas ainda.”
Cidadão Instigado (21h30)
Caminhando lentamente para os 20 anos de carreira (completados em 2016), o Cidadão Instigado vive um dos melhores momentos de sua história em 2015. Após uma “reinvenção”, o grupo cearense trocou os instrumentos entre os integrantes da banda e gravou o disco Fortaleza, considerado o melhor do ano no recente Prêmio Multishow.
Preparado desde 2012, o quarto álbum de inéditas do Cidadão Instigado é também o mais pesado da discografia, explorando uma relação de saudade e criticidade em relação à cidade natal, carregada no título. Fortaleza saiu digitalmente no começo de 2015, mas ganha lançamento em CD e streaming apenas no fim do ano. Como tudo relacionado à banda, o disco está chegando às plataformas gradativamente.
“Tudo tem o tempo certo”, diz Fernando Catatau, vocalista e guitarrista da banda, sobre os seis anos de intervalo entre Fortaleza e Uhuu!, trabalho anterior. “Não temos pressa. Eu gosto de fazer as coisas lentamente. Sempre acreditei nessa onda da homeopatia, entendeu? De fazer passo a passo. Foi algo natural.”
E cada parte da carreira do Cidadão Instigado ganha o devido respaldo no palco. Desde que lançou Fortaleza, a banda vem rodando o Brasil com shows que priorizam o registro praticamente na íntegra nos setlists. “Temos tocado umas duas músicas dos outros [álbuns], às vezes quatro”, diz Catatau. “Só não temos tocado uma faixa desse novo disco, que é a ‘Perto de Mim’, ao violão. Ela deu um problema no palco e... prefiro fazer direito.”
“Não temos apego com nada, cara”, acrescenta Catatau. “Nunca tivemos. Sinceramente, nem com o público, entende? Não é um descaso, mas nós sabemos que é uma troca. Não ficamos esperando que o público tenha tal ou tal reação com a gente. Não, já é. Já temos uma troca muito sincera com o nosso público. A gente chega e toca o que a gente está afim, porque quando estamos felizes – sendo sinceros – aí e lógico que vai sair legal e vai ser massa.”
Spoon (23h)
Britt Daniel pouco se recorda da primeira – e única – vez em que o Spoon tocou no Brasil. “Acho que era um festival”, disse ele ao telefone de Los Angeles, referindo-se ao Planeta Terra de 2008, realizado na Villa dos Galpões, em São Paulo. “Não lembro muito do nosso show, mas lembro de assistir ao The Breeders”. Sete anos depois, a banda norte-americana volta ao país após adquirir novo patamar na carreira, graças aos discos Transference (2010) e, principalmente, They Want My Soul (2014).
“Sabia que há muito tempo não lançávamos um disco. Então, basicamente, tentei criar um álbum o mais rápido – e com a maior qualidade – possível”, conta ele sobre o aclamado trabalho mais recente do Spoon. Feito sob a influência – curiosa e – pesada do disco 2001, do rapper Dr. Dre, They Want My Soul aposta em ousadias sonoras e batidas eletrônicas. “Era uma balada, com apenas piano e voz”, diz Daniel, referindo-se à emblemática “Inside Out”. “Mas tivemos uma ideia de fazê-la soar mais hip-hop, mais eletrônica.”
O Spoon já passa de 20 anos de carreira e, enquanto Daniel reflete sobre aproveitar melhor as viagens, ele conta que algo nunca mudou: a dificuldade para escrever letras. “Costumo ter uma abordagem padrão: anoto qualquer coisa que me vem à cabeça, apago o que não me agrada e tento ir construindo com as frases que ficaram boas no impulso”, confessa, concluindo: “Por isso acho que nunca tivemos um hit. Boas sensações vêm sempre primeiro.”
No Popload Festival, a banda do Texas deve equilibrar as inspiradas faixas de They Want My Soul com algumas mais antigas, com destaque para os repertórios de Gimme Fiction (2005) e Ga Ga Ga Ga Ga (2007). Uma ou duas faixas de Kill the Moonlight (2002), possivelmente “The Way We Get By” e “Small Stakes”, também podem aparecer no setlist do show no Brasil.
Belle & Sebastian (0h30)
Passaram-se mais de 18 anos desde que chegaram às lojas Tigermilk e If You're Feeling Sinister, os dois primeiros discos do Belle & Sebastian. Este ano, a banda lançou o nono álbum da carreira, Girls in Peacetime Want to Dance, abrançando o pop de sintetizadores e confirmando o conflito do título com 12 faixas assoviáveis, dançantes e – para um grupo como o Belle and Sebastian – ousadas.
“Suponho que seja nosso disco mais pop”, disse o tecladista Chris Geddes em entrevista à Rolling Stone Brasil. “As pessoas na banda gostam de nos ver como um grupo pop. Especialmente Stuart [Murdoch, vocalista] e Sarah [Martin]”. Geddes é o elemento mais importante na nova empreitada do Belle and Sebastian, tendo comandado as linhas de teclado e programações do disco, junto ao produtor Ben H. Allen III.
Girls in Peacetime Want to Dance foi gravado na cidade de Atlanta, na Geórgia. “O único motivo [de gravar nos Estados Unidos], na verdade, foi o Ben H. Allen”, diz ele, lembrando que gosta de trabalhar com produtores norte-americanos. “Uma das coisas legais de ter gravado por lá foi conhecer igrejas e ouvir música gospel. Foi uma grande experiência.”
Fã da música brasileira dos anos 1960 e 1970, o tecladista do Belle and Sebastian cita Jorge Ben Jor, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Milton Nascimento, Rita Lee e Gal Costa durante a conversa. Ele ainda revela que uma das faixas de Girls in Peacetime Want to Dance, “Perfect Couples”, é influenciada pela música brasileira.
“Comecei a fazer umas programações – não era para ser algo para banda, simplesmente para passar o tempo durante alguma turnê”, narra. “E a música do Steve meio que combinou. E, sim, tivemos essa abordagem de Tropicália”. Em seguida, Geddes confessa que os vocais de Sarah na faixa são “o momento favorito” dele no disco. “Para mim, soa como algo que poderia estar em algum disco da Gal Costa ou da Rita Lee.”