Evento misturou artistas de diversas vertentes sonoras e deu atenção aos detalhes
Mais eclético do que em suas duas edições anteriores, o Popload Festival ameaçava causar estranhamento entre públicos. Emicida abrindo para Iggy Pop? Cidadão Instigado em seu momento mais pesado tocando na mesma noite do doce Belle and Sebastian? Estranho... Mas o fato é que quem compareceu à casa de shows paulistana Audio na sexta-feira, 16, e no sábado, 17, deixou os preconceitos musicais em casa. A discrepância mais perceptível era climática: Iggy tocou em um dia de intenso calor na cidade e os escoceses do Belle and Sebastian trouxeram o frio no dia seguinte. Também havia um maior número de garotos para ver o proto-punk, enquanto o sábado foi delas.
Iggy (ou “Iguê”, no corinho dos presentes) fez o show selvagem de sempre, com mergulhos na plateia e as corridinhas manquitolando que caracterizam sua performance. Mas o que impressionou mesmo foi a condição vocal do septuagenário, com o mesmo vigor de priscas eras – além do mérito de não precisar de colinha para interpretar músicas de qualquer fase da carreira. E o repertório não ficou só em pauladas de fácil fruição, como “Search and Destroy” e “Lust for Life”. As morosas “Nightclubbing” e “Dum Dum Boys” tiveram vez, a última dedicada às memórias de Steve Macay, Scott Asheton e Ron Asheton, integrantes dos Stooges mortos nos últimos seis anos.
No sábado, o Belle & Sebastian mostrou grande renovação em sua plateia, a julgar principalmente pelos mais de vinte fãs pinçados na fila do gargarejo para dançar em cima do palco em “The Boy With The Arab Strap” e “Legal Man”. Ao introduzir as músicas mais antigas do repertório, caso da bela “Electronic Renaissance”, o cantor Stuart Murdoch fazia questão de oferece-las aos seguidores das antigas. Mas foram as novinhas que elevaram a temperatura da apresentação, inclusive exigindo um trechinho de “There’s Too Much Love”. “Ah, essa é de um filme, um filme daqui!”, reconheceu o vocalista, em alusão ao uso da faixa em Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (2014), de Daniel Ribeiro.
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O baterista Richard Colburn e o tecladista Chris Geddes ainda assumiram as picapes no espaço Club do festival. A seleção foi de Deee-Lite a Hot Chip e funcionou, assim como a mistura de AC/DC com Kumbia Queers, Elvis Costello e Depeche Mode da dupla de DJs de sexta-feira, Lovefoxxx (CSS) e Britt Daniel, cantor do Spoon. A banda texana, atração do sábado, não pisava aqui desde o festival Planeta Terra de 2008 e montou um roteiro perfeito para uma hora de apresentação, partindo de rocks daquela época (pena que ainda não foi dessa vez que ouvimos “The Underdog” com os sopros) até o material mais recente, vide a pegajosa “Do You”.
O norueguês Sondre Lerche, que teve a missão de introduzir o show do Belle & Sebastian em simpático vídeo exibido no telão, fez sua estreia em terras brasileira graças ao Popload Gig. Privilegiou temas com bastante interação com a plateia, deixando de fora composições que seus fãs salivavam para ouvir. Mesmo assim, o show com seu power trio foi bastante animado, com direito a muita reverência à música popular brasileira (dos acordes de bossa nova incluídos em “Airport Taxi Reception” ao trechinho de “San Vicente”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, levado à capela).
Lembre como foi o Popload Festival 2014.
Quem melhor representou o Brasil, aliás, foi o Cidadão Instigado. Apesar de não fazer concessão às faixas dos três primeiros álbuns (foco total em Fortaleza, lançado este ano), a formação cearense radicada em São Paulo fez um bom barulho na Audio, ajudada por iluminação alucinante. Atenta aos detalhes, a produção do festival mais uma vez procurou manter a pontualidade nos horários e ofertou mimos à clientela, indo de descontos no ingresso para quem prestigia o festival e a série de shows Popload ao bem-vindo copinho de água que todos recebiam ao deixar o recinto.