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Por que a cultura pop tem obsessão por serial killers? [ANÁLISE]

Filme de Ted Bundy, série sobre stalker (You), produção com seita de Charles Manson e mais: conteúdo sobre serial killers conquista público

Camilla Millan Publicado em 11/01/2020, às 15h00 - Atualizado em 28/06/2021, às 17h34

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You, Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal e Charles Manson (Foto: reprodução/divulgação)
You, Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal e Charles Manson (Foto: reprodução/divulgação)

No dia 26 de dezembro de 2019, a segunda temporada de You saiu na Netflix. O suspense psicológico conta a história de Joe Goldberg, serial killer obcecado. Apesar da popularidade da série, ela está longe de ser a primeira produção com a temática, principalmente devido à inserção crescente dos assassinos frios na cultura pop.

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Se engana quem pensa que a popularidade dos serial killers é recente. Não foi Psicose (Alfred Hitchcock, 1960), Sexta-Feira 13 (1978) ou Hannibal que transformaram assassinos em celebridades. O tema assassinato gera audiência há muito tempo, desde os primórdios da comunicação.

Até durante a Revolução Francesa, no período conhecido como do Terror (1792-1794), o interesse da população por assuntos do tipo era explícito. O livro Serial Killers: Anatomia do Mal, de Harold Schechter, fala sobre como havia uma alta demanda por lembranças sórdidas dos que morriam na guilhotina. 

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Está equivocado também quem pensa que serial killers são algo novo no mundo. Psicopatas, sociopatas e assassinos em massa sempre existiram, só não havia os meios para divulgar os acontecimentos em sua extensão e complexidade. 

Além disso, o termo "serial killer" foi criado apenas na década de 1970, o que modificou a classificação anteriormente utilizada e dificultou o conhecimento dos assassinos antes dessa época.

A atração por assassinatos e temas mórbidos é complexa. Por um lado, é um interesse que parece ruim, um tabu atraente por ser proibido. Por outro, há uma curiosidade quase que instintiva de entender como e por quê a tragédia ocorreu. 

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Frequentemente psicopatas ou sociopatas, esses assassinos cruéis são muitas vezes incompreendidos, e é isso que mais atrai. Quem não fica obcecado por um problema, uma questão sem resposta? Pois os serial killers são o próprio ponto de interrogação.

Atualmente, os assassinatos são apresentados ao público em alta definição, com muito sangue e com a quantidade necessária de suspense, atraindo ainda mais os espectadores.

Não se trata de um caso específico - como por exemplo o assassino Ted Bundy, que até ganhou namorada e fã clube na época de seu julgamento. Serial killers têm um espaço guardado no interesse da audiência. E a cultura pop encontrou nos assassinos em série uma oportunidade irrecusável de arrecadar dinheiro.

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A cultura pop conseguiu juntar os aspectos essenciais para tornar serial killers uma febre mundial. You, Mindhunter e o Assassinato de Gianni Versace são apenas alguns dos exemplos de lançamentos atuais - todos disponíveis na Netflix -  que atraíram o público. Seja baseado em fatos reais ou não, a produção de assassinos em série não esfria.

Um dos sucessos mais atuais com serial killers é, sem dúvidas, o filme Era Uma Vez Em... Hollywood, do aclamado diretor Quentin Tarantino. O longa, que traz a seita de Charles Manson para às telonas, recebeu dois Globos de Ouro e prepara-se para as premiações do Oscar.

No entanto, como já foi dito, o enaltecimento e divulgação de assassinos cruéis não é novidade. Mais do que isso, os interessados por serial killers não são loucos, muito menos obcecados por assassinatos e sangue. Como Harold Schechter diz no livro Serial Killer: Anatomia do Mal, "não há sociopatas o bastante nos EUA para justificar a bilheteria nacional de US$ 300 milhões de dólares de O Silêncio dos Inocentes (1991)".

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Isso foi explicado pelo psicólogo Sérgio Oliveira em entrevista para o AquiNotícias. Segundo ele, "não existe uma resposta única" para o interesse do público em assuntos mórbidos. Oliveira também explicou: "Existem diversas possibilidades que perpassam o comportamento individual e coletivo que servem para responder por que as pessoas se interessam por acidentes, assassinatos e por verem pessoas mortas”.

Tais interesses complexos e atrações probidas conseguem uma aceitação - no mínimo bizarra - em diversos setores da cultura e da arte. Na obra de Harold Schechter fica claro que não é coincidência a presença de serial killers em diversas manifestações artísticas.

Além de filmes, séries, livros e documentários, há diversos trabalhos de artes visuais que tratam sobre o tema, assim como outros criados pelos próprios assassinos - a exemplo das pinturas macabras de John Wayne Gacy, responsável pela morte de pelo menos 33 adolescentes na década de 1970.

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Os trabalhos de Gacy fizeram tanto sucesso que passaram a crescer em valor monetário, e inclusive foram parar em uma exposição nomeada de "Arte dos Corredores da Morte", que incluía todos os projetos criados por assassinos frios - de Charles Manson a Henry Lee Lucas. 

Na música não é diferente, uma vez que na era pré-moderna foram criadas as murder ballads (baladas de assassinato). As canções eram feitas para as histórias de assassinatos cruéis serem passadas oralmente em uma época em que a escrita era restrita ao clero e à aristocracia.

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Há também os serial killers que se arriscaram na composição de músicas, como Charles Manson. Sua música mais popular, "Look At Your name, Girl" inclusive foi adicionada como faixa-bônus no álbum The Spaghetti Incident? (1993), do Guns N' Roses

Dos locais onde pessoas foram cruelmente assassinadas fez-se até ponto turístico. Considerada "turismo psicótico" por Peter Schuller, a atividade gera polêmicas, e levou até ao guia de viagem "Crime Scene EUA", no qual foram inclusos locais que serviram de palco para os assassinatos de serial killers nos EUA.

A questão a qual devemos refletir é a seguinte: Há um ponto na cultura pop em que esse tema deve ser considerado inaceitável? Em uma época de alta produção cultural, a demanda por serial killers deve gerar preocupação?


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