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Por que a saída de Dave Mustaine do Metallica foi melhor para os dois?

11 de abril de 1983 foi um dia decisivo na história do heavy metal; relembre

Redação Publicado em 26/04/2020, às 15h00

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Dave Mustaine, do Megadeth (Foto: Amy Harris / Invision / AP)
Dave Mustaine, do Megadeth (Foto: Amy Harris / Invision / AP)

11 de abril de 1983 foi um dia decisivo na história do heavy metal. Por volta das 10h, Dave Mustaine, o então guitarrista do Metallica, foi acordado sem cerimônia por James Hetfield, Lars Ulrich e Cliff Burton, companheiros de banda. Após uma noite pesada de bebida, ele desmaiou em sua cama improvisada da sala de ensaios no Queens.

O Metallica estava em Nova York para dois shows antes de gravar seu primeiro álbum com o produtor Paul Curcio, algumas semanas depois. O show no Paramount foi particularmente tenso, com Mustaine brigando com os holandeses Vandenberg, headliners do evento, durante a passagem de som.

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Obviamente, este não foi um incidente isolado. Todos os membros do Metallica gostavam de beber, mas Mustaine - cujo abuso de substâncias também estava em ascensão - era um homem que costumava levar as coisas adiante. Naquela manhã, o rapaz de 21 anos foi informado que o restante da banda já estava farto de seu comportamento errático e violento. 

Ele foi demitido, suas malas foram feitas para ele e sua passagem de ônibus só de ida para Los Angeles. O ônibus partiu em uma hora e Hetfield estava pronto para levá-lo ao Terminal de Nova York. Seu equipamento lhe seria enviado mais tarde. Dez dias antes, o Metallica já havia alinhado secretamente o substituto de Mustaine. Kirk Hammett (ainda no Exodos) faria sua estreia ao vivo com a banda no dia 16 de abril, em Nova Jersey, antes de entrarem no estúdio juntos.

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Para o mundo, no entanto, a partida de Mustaine foi um choque, até porque ele foi um dos fundadores do trash metal e co-escreveu várias músicas-chave do Metallica para a demo No Life 'Til Leather (1982), ajudando a definir o som e a cena. No que diz respeito ao próprio Mustaine, sua demissão o fez sentir como se seu mundo estivesse desmoronando. Agora, ele tinha uma viagem de quatro dias pela frente para refletir sobre o que tinha acabado de acontecer.

Entediado, ele leu tudo o que conseguiu, incluindo um panfleto do democrata AlanCranston, que, tendo declarado sua candidatura à presidência dois meses antes, alertava sobre uma ameaça nuclear: “O arsenal do megadeath não pode ser eliminado.”

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Essa frase inspirou Mustaine a escrever a letra de uma música e, por fim, definir o nome se sua próxima banda: Megadeth. Ao voltar para a Califórnia, Mustaine estava sem dinheiro e conseguiu um emprego temporário como operador de telemarketing, enquanto sua amargura pelo Metallica continuava a crescer.

Faminto e, às vezes, desabrigado, o comportamento autodestrutivo de Mustaine continuou sem controle durante a gravação do álbum Peace Sells... but Who's Buying? (1986), descrito pelo baixista do Megadeth, DaveEllefson, como resultado de uma dieta de "heroína, hambúrgueres e cigarros”. Apesar das circunstâncias em que foi feita, a faixa-título “Peace Sells... but Who's Buying?” foi aclamada como um clássico instantâneo - a primeira declaração genuína e definitiva do Megadeth

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Em março de 1987, o jornalista PhilAlexander, da revista Kerrang, questionou Mustaine sobre como ele compôs “The Mechanix”, a música que remonta à demo No Life 'Til Leather e foi retrabalhada pelo Metallica no Kill 'Em All (1983). Contudo, a própria menção à banda mostrou-se imprudente. "Você realmente quer que eu fale sobre aquele tempo?!" gritou Mustaine. "Foda-se isso!" E, sem mais uma palavra, ele levantou e saiu, batendo a porta do camarim. O guitarrista do Megadeth, ChrisPoland, balançou a cabeça e disse: Sinto muito por isso, cara. As feridas são profundas.” 

Nas entrevistas subsequentes, ele se revelou um personagem complexo e intenso e, gradativamente, sua mágoa ao discutir a demissão do Metallica diminuiu: "Todos seguimos em frente e o tempo ajuda nisso", ele disse em 1992. Além disso, a disputa não impediu Mustaine de se juntar ao Metallica nos palcos vez ou outra, especialmente para comemorar os 30 anos da banda em 2011. Segundo Hammett, esses shows deram a Mustaine um certo nível de encerramento.

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A complexidade emocional da situação parece indicar que os eventos daquela manhã de abril de 1983 foram a melhor coisa que poderia ter acontecido para todas as partes envolvidas. E, para grande parte do público, essa é certamente a verdade. Assim, assistimos não uma, mas duas bandas se desenvolverem a um ritmo surpreendente. 

Se as cicatrizes da época ainda permanecem no que diz respeito a Mustaine, ele encontrou sua própria voz e criou um corpo de trabalho que reflete genuinamente sua personalidade extravagante. Igualmente, Hetfield e Ulrich - apesar de suas personalidades contrastantes - formaram uma das alianças mais duradouras da música. 

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“Eu acredito no destino. Definitivamente, as coisas acontecem por uma razão”, disse Mustaine a Alexander. Os eventos de 11 de abril de 1983 são prova disso. As sementes plantadas naquela época influenciaram ao menos duas gerações de fãs. E isso, por si só, é triunfo o bastante. 


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