Novos rumos da franquia podem salvar universo dos piratas da dependência de um personagem problemático
Piratas do Caribe pode seguir em frente sem Johnny Depp, como indicam rumores da indústria cinematográfica sobre o reboot da franquia. Apesar do último filme da saga, A Vingança de Salazar (2017), ter sido lançado após o divórcio conturbado do ator com Amber Heard, que o acusou de violência doméstica, a Disney não parece disposta a contratá-lo com o novo processo envolvendo o ex-casal. Provavelmente, a escolha seja a melhor - e a culpa é de Jack Sparrow.
Independentemente da opinião sobre a veracidade das acusações feitas por Amber, grande parte do público não consegue imaginar Piratas do Caribe sem a presença do personagem de Depp. Quando os rumores sobre um novo filme sem o ator ganharam força, as redes sociais foram inundadas por comentários contrários à possibilidade.
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Assistindo piratas do Caribe e só consigo pensar que estão querendo fazer um piratas do Caribe sem o Johnny Depp, isso não faz sentido, ele é a alma do filme
— 𝖞𝖆𝖘𝖒𝖎𝖓 (@yasjpg) July 7, 2020
piratas do caribe sem o Depp seria ridículo, com todo respeito.
— Allace (@All4ce) July 18, 2020
Sem Johnny Depp, Piratas do Caribe não existe.
— 🔥 (@uivosdoluar) August 25, 2020
piratas do caribe sem o Johnny Depp nao existe malditos
— Gabriel (@_gabrielleto1) August 25, 2020
Segundo o site The Hollywood Reporter, a Disney pretende fazer o novo filme com Margot Robbie como protagonista, mas poderia envolver Depp na trama de alguma forma caso “as polêmicas acabem” - algo improvável com os processos de difamação movidos pelo ator contra o jornal The Sun e a ex.
Essa mudança radical e impopular pode significar um novo horizonte para os Piratas. Ao longo de cinco filmes, o roteiro se tornou “enfadonho, repetitivo, extenuante”, nas palavras da Rolling Stone EUA. Quanto mais do mesmo - especialmente em tempos tão diferentes - o público pode suportar?
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Os filmes foram inspirados por uma atração dos parques da Disney. Inaugurado em 18 de março de 1967, é um dos mais populares dos parques e estava entre os favoritos do próprio Walt Disney. No percurso, o público viaja em pequenos barcos para conhecer a ação de piratas na região do Caribe, por volta do século 17. Após o sucesso dos filmes, a atração reproduz os cenários e personagens dos cinemas.
Além dos comentários sexistas de Sparrow, existe um problema mais profundo nas origens do personagem. Uma parte da atração da Disney original mostrava mulheres traficadas à venda em um “leilão de noivas”. “Aqui os navegantes estão leiloando as belezuras da cidade”, explicou Walt Disney ao demonstrar o projeto. O trecho apenas retirado da atração em 2017, de acordo com o NPR, e foi substituído por uma mulher pirata. A cena original ainda é reproduzida em algumas unidades, como no parque de Paris.
Nada disso teria alguma relação com Jack Sparrow, mas um curta-metragem oficial da franquia encenou o leilão de noivas e explicou a relação do capitão do Pérola Negra com duas mulheres prostituídas em Tortuga. Na prequel Tales of the Code (2011), incluída em uma versão comemorativa de DVDs, Scarlett e Giselle se arrumam para casar com Sparrow, mas logo descobrem a enganação. Ambas foram traficadas e leiloadas para piratas assustadores.. No final do curta, a ruiva mostra que sabotou o barco do pirata, e por isso Sparrow naufraga quando entra em cena no primeiro filme. Sim, Jack Sparrow traficou mulheres. Existe uma grande diferença entre a moral egoísta do personagem com a participação efetiva em um crime hediondo, algo inaceitável na cultura atual.
O mundo era um lugar diferente quando os primeiros filmes foram lançados e a figura de Sparrow se estabeleceu como grande protagonista, apesar de ter sido concebido como um coadjuvante. Antes do movimento Me Too e de uma onda de conscientização virtual, essas temáticas não seriam amplamente discutidas. Apesar da justificativa histórica, ter um protagonista com constantes piadas machistas e um passado obscuro está na contramão nas recentes tendências na indústria, cada vez mais inclusivas.
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As personagens femininas em Piratas do Caribe merecem mais. Todas apresentadas até o momento na franquia foram completamente subdesenvolvidas. Desde Elizabeth Swann, muitas vezes mais destemida que qualquer pirata, até a inteligentíssima Carina Smyth, mesmo as figuras femininas com maior tempo em tela não receberam uma chance digna de desenvolvimento. Um novo filme com uma protagonista feminina segue a tendência abraçada por franquias como Caça-Fantasmas, Oito Mulheres e um Segredo e Thor, da Marvel.
É verdade que o personagem carismático e emblemático merece créditos pelo sucesso dos filmes, mas a franquia concretizou os receios dos produtores durante as filmagens de O Baú da Morte (2006), segundo filme. "Não queremos apenas um filme do Jack Sparrow. Ele é a pimenta", comentou o diretor Gore Verbinski em entrevista ao IGN em 2007 (via Cinelinx). "Não vamos dar muito Jack [ao público]. É como ter sobremesa ou algo bom em excesso".
A própria reação do público mostra a enorme dependência dos filmes com a figura central de Sparrow. Nenhum dos outros personagens principais, sejam vilões ou mocinhos, apareceram com tanta frequência e tempo de tela quanto ele. Apesar disso, o personagem demonstrou pouco crescimento e fica preso em um ciclo de "mais do mesmo".
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Apesar do sucesso nas bilheterias até então, sempre superiores aos US$ 670 milhões do filme de estreia da franquia e duas vezes bilionária, em 2006 e 2011, a chegada de uma nova década marcada por grandes mudanças culturais exige transformações mais profundas para manter a saga interessante.
A saída de Depp pode salvar Piratas do Caribe da dependência do ator e dar vida própria ao universo criado pela franquia - e, quem sabe, garantir um futuro para os personagens já amados pelo público.
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