As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne, adaptação de célebre quadrinho do belga Hergé, impressiona pelo fantástico realismo
A tese do “Uncanny Valley” (ou “vale da estranheza”), criada pelo cientista japonês Masahiro Mori, propõe que pessoas normais sentem repulsa diante de réplicas humanas quase perfeitas – ou seja, quanto mais realista é a recriação humana, mais estranha ela parece aos nossos olhos.
A hipótese se faz valer em filmes recentes como Tron, no qual a ânsia por criar imagens digitais demasiadamente perfeitas acaba por afastar o público em vez de engajá-lo. Se levada em conta essa teoria, a primeira cena de As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne, que chega aos cinemas nesta sexta, 20, é de espantar: um passeio de câmera flutuante por uma feira urbana riquíssima em cores e detalhes. O susto, felizmente, dura poucos segundos – até a primeira aparição frontal do herói da história. O estilizado Tintim do filme animado não se parece em nada com um humano de verdade, mas também nem se presta a isso. Ao mesmo tempo, a sensação de estar assistindo a um desenho animado de caráter infantil é quase inexistente.
O fenômeno que ocorre na tela está mais para um híbrido de formatos até então inédito: trata-se de uma requintada e surrealista obra-prima tecnológica que antecipa o nível de frenesi que será alcançado pelos videogames em um futuro não muito distante. Ao mesmo tempo, é também a mais viva das histórias em quadrinhos já filmada, proporcionando alma, emoção e adrenalina ao nível de um gibi de aventura ou de qualquer clássico da Sessão da Tarde.
Seja lá o que for, Tintim comprova que Steven Spielberg ainda consegue se divertir fazendo cinema, por mais que este não seja bem o tipo de filme que ele se acostumou a realizar. E não há nada como presenciar um mestre – no caso, o genial quadrinhista belga Hergé – recebendo uma homenagem de outro mestre.