Com álbum de inéditas, um dos maiores nomes do samba-rock retorna à cena e se apresenta às novas gerações
Nos anos 70 ele ostentava um cabelo black power de dar inveja aos frequentadores de festas de samba-rock. Hoje o corte é discreto, mas o gênero musical do qual é um dos principais nomes permanece em atividade em diversos bailes espalhados pelo Brasil. Passados mais de 30 anos desde o lançamento de seu primeiro álbum e 37 discos depois, Bebeto está de volta com novo trabalho, intitulado Prazer, Eu Sou Bebeto, que acaba de chegar às lojas pela gravadora EMI.
Há quase seis anos Bebeto não lançava um disco de inéditas, mas alguns de seus clássicos, como "Segura a Nega" e "A Beleza é Você Menina", estão na boca da nova geração - tanto por conta de remixes, quanto por versões de grupos atuais (que se apresentam, sobretudo, na noite paulistana, entre eles Opalas, Sandália de Prata e Sambasonics). Motivado por esse "revival", Bebeto decidiu entrar em estúdio para realização de um álbum que o apresentasse a esse público que, apesar de saber cantar seus hits, não tem muito conhecimento sobre o autor e o que ele representa no cenário da música nacional. Não foi à toa a escolha do sugestivo título Prazer, eu sou Bebeto: "Tem muita gente que gosta da minha música, mas que não me conhece", explica o músico, em entrevista ao site da Rolling Stone Brasil.
Bebeto fazia parte da gravadora MZA/Universal e a equipe queria que ele lançasse um álbum de regravações, o que não era de seu interesse. O contrato foi desfeito e, com o intuito de produzir um disco de inéditas, iniciou o trabalho há cerca de cinco meses, de forma independente. Pouco tempo depois, a EMI se interessou pelo projeto. "Eu queria fazer um disco inédito com algumas músicas que tinha composto recentemente e algumas mais antigas, mas que são atuais", conta Bebeto. "Queria que tivesse suingue e que fosse dentro do tipo de trabalho que eu faço." No time de colaboradores, consta Davi Moraes, filho de Moraes Moreira.
Prazer, Eu Sou Bebeto tem 15 faixas, sendo que apenas "Água Água" não é inédita. Apesar da temática ecológica, tão frequente nos dias de hoje, a canção foi composta há 25 anos. "Resolvi regravar pelo que está rolando. Ninguém se preocupa em cuidar do que é nosso", afirma o cantor. Sobre o tempo que separa seu primeiro álbum, Bebeto, de 1975, deste, ele afirma que o processo de composição não mudou - bem como seu amor pelo samba rock -, mas salienta o desenvolvimento tecnológico vivido na música. "A essência é a mesma, mas a evolução artística e musical é muito grande", afirma. "Hoje, por exemplo, você tem opção de gravar muita coisa e tirar o que não gostou. Na época, gravava e era aquilo mesmo, não tinha o que fazer."
Samba-rock
Ainda que no final dos anos 50 Jackson do Pandeiro já cantasse a faixa "Chiclete com Banana", do compositor Gordurinha (aquela do "só ponho bepop no meu samba quando o Tio Sam tocar no tamborim"), Bebeto não economiza palavras para se posicionar como precursor do samba-rock, ao lado dos gaúchos Luís Vagner e Bedeu. "Em 1970, não se tocava música brasileira nos bailes, era mais rock mesmo. Como eu cantava na noite e não falava em inglês, pegava as músicas em português e cantava na levada de rock", lembra. "Foi comigo, com o Bedeu e com Luís Vagner que foi pintando esse papo de samba-rock na época. E foi acontecendo, não foi uma coisa programada. O Jorge Ben Jor, no Samba Esquema Novo, ia um pouco mais para o lado da bossa nova. Esse papo começou com a gente."
Para ele, cabe tudo dentro do samba-rock devido à natureza livre e plural do gênero. "Ele tem muito de improviso e nada mais é que uma mistura de som", argumenta. "Eu achava que ele estava perdido no tempo até ressurgir hoje com essa garotada." Bebeto atribui sua importância no cenário ao fato de ter permanecido fiel ao estilo. "Eu nunca mudei, não acompanhei movimentos musicais", conta. "Posso até cantar um baião ou um bolero, mas nunca deixei de segurar essa onda do samba-rock, é amor ao estilo."