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“Precisamos de uma revolução no funk carioca”, diz o DJ e produtor norte-americano Afrika Bambaataa

Músico dá início a turnê pelo Brasil que dura até 10 de agosto com apresentação nesta sexta-feira, 19, em São Paulo

Redação Publicado em 19/07/2013, às 16h26 - Atualizado às 16h26

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Afrika Bambaataa - Divulgação
Afrika Bambaataa - Divulgação

Grandalhão, Afrika Bambaataa surge com uma camiseta preta da Zulu Nation, organização fundada por ele, um homem que busca paz e união através de respeito mútuo, boné e óculos escuros com lentes de cor alaranjada. Ao redor do pescoço, uma toalha estampada com a bandeira do Brasil. Nascido e criado no Bronx, em Nova York, o artista (cujo nome real é Kevin Donovan), é um dos maiores nomes da história do hip-hop, mas influenciou gêneros para muito além dele com o hit "Planet Rock". A música, que acaba de completar 30 anos, foi a base para o nascimento do electro e, mais além, se tornou a semente da qual brotou o funk carioca.

Em 2007, a Rolling Stone Brasil entrevistou Afrika Bambaataa que dizia ter saudade do Brasil. Leia aqui.

Em mais uma visita ao Brasil, rota certa de suas excursões desde 1999, Bambaataa se prepara para uma extensa agenda que envolve música, cultura e projetos sociais. Ele se apresenta primeiramente nesta sexta-feira, 19, no Cine Joia, na festa Jive, depois segue para o Rio de Janeiro (Parada da Lapa, dia 20) e faz o último show no Festival Garanhuns (dia 27).

Na próxima terça-feira, 24, o músico voltará para São Paulo para participar do Encontros Poéticos, projeto do Itaú Cultural que será especialmente realizado no Auditório Ibirapuera. Ele ainda fará palestras e visitará três CEUs da periferia paulistana.

Bambaataa se engaja nas questões sociais desde a infância no Bronx. “Eu via aquela violência toda, a discriminação, preconceito, racismo”, relembra ele sobre os anos 60. Na década seguinte, foi quando ele percebeu que poderia fazer a diferença. “O planeta inteiro passou por essas revoluções e eu quis fazer parte disso. Negros lutaram pelos direitos iguais no mundo todo.”

Nos anos 70, ele criou a Zulu Nation e passou a organizar festas nos guetos. Inspirado pelo funk de James Brown e George Clinton e com o pioneirismo eletrônico do Kraftwerk veio o electro, ou electro funk: era como colocar suingue em sons criados por robôs.

Quando veio o hit “Planet Rock”, com os famosos versos “party people, can y'all get funky?”, lançado em vinil de 12 polegadas, ele estava interessado em Trans-Europe Express, disco do grupo vanguardista alemão lançado em 1977. “O hip-hop daquela época evoluiu para várias direções distintas”, avalia ele. “Eu queria encontrar um novo som, um som único.” E o hip-hop deixou de ser apenas o som que rappers faziam para se tornar um grande movimento cultural que luta por igualdade e envolve dança, grafite e, claro, música.

Para chamar atenção entre tantos grupos de funk psicodélico que seguiam os passos de George Clinton, com as bandas Parliament e Funkadelic, Bambaataa apostou também em um visual viajante. “Tínhamos que aparecer”, relembra ele, sobre os chapéus, roupas e óculos que usava na época.

O electro evoluiu para outra direção no Brasil e, nos anos 90, o funk como conhecemos hoje começou a tomar forma. Bambaataa já visitou alguns bailes, mas ele não está disposto a passar a mão na cabeça do gênero. “O funk carioca faz as pessoas dançarem no mundo inteiro, mas as letras focam muito em mulheres e sexo, sexo, sexo...”, diz ele.

Aos 56 anos, sendo que mais de três décadas ele passou embalado pelo hip-hop, Bambaataa adota um tom professoral para justificar a bronca. “Precisamos de uma revolução no funk carioca. Precisamos falar do que está acontecendo na comunidade, em como sair dessa situação. Ainda dá para dançar, mas é preciso mandar a mensagem.” E, disso, ele entende.