Músico dá início a turnê pelo Brasil que dura até 10 de agosto com apresentação nesta sexta-feira, 19, em São Paulo
Grandalhão, Afrika Bambaataa surge com uma camiseta preta da Zulu Nation, organização fundada por ele, um homem que busca paz e união através de respeito mútuo, boné e óculos escuros com lentes de cor alaranjada. Ao redor do pescoço, uma toalha estampada com a bandeira do Brasil. Nascido e criado no Bronx, em Nova York, o artista (cujo nome real é Kevin Donovan), é um dos maiores nomes da história do hip-hop, mas influenciou gêneros para muito além dele com o hit "Planet Rock". A música, que acaba de completar 30 anos, foi a base para o nascimento do electro e, mais além, se tornou a semente da qual brotou o funk carioca.
Em mais uma visita ao Brasil, rota certa de suas excursões desde 1999, Bambaataa se prepara para uma extensa agenda que envolve música, cultura e projetos sociais. Ele se apresenta primeiramente nesta sexta-feira, 19, no Cine Joia, na festa Jive, depois segue para o Rio de Janeiro (Parada da Lapa, dia 20) e faz o último show no Festival Garanhuns (dia 27).
Na próxima terça-feira, 24, o músico voltará para São Paulo para participar do Encontros Poéticos, projeto do Itaú Cultural que será especialmente realizado no Auditório Ibirapuera. Ele ainda fará palestras e visitará três CEUs da periferia paulistana.
Bambaataa se engaja nas questões sociais desde a infância no Bronx. “Eu via aquela violência toda, a discriminação, preconceito, racismo”, relembra ele sobre os anos 60. Na década seguinte, foi quando ele percebeu que poderia fazer a diferença. “O planeta inteiro passou por essas revoluções e eu quis fazer parte disso. Negros lutaram pelos direitos iguais no mundo todo.”
Nos anos 70, ele criou a Zulu Nation e passou a organizar festas nos guetos. Inspirado pelo funk de James Brown e George Clinton e com o pioneirismo eletrônico do Kraftwerk veio o electro, ou electro funk: era como colocar suingue em sons criados por robôs.
Quando veio o hit “Planet Rock”, com os famosos versos “party people, can y'all get funky?”, lançado em vinil de 12 polegadas, ele estava interessado em Trans-Europe Express, disco do grupo vanguardista alemão lançado em 1977. “O hip-hop daquela época evoluiu para várias direções distintas”, avalia ele. “Eu queria encontrar um novo som, um som único.” E o hip-hop deixou de ser apenas o som que rappers faziam para se tornar um grande movimento cultural que luta por igualdade e envolve dança, grafite e, claro, música.
Para chamar atenção entre tantos grupos de funk psicodélico que seguiam os passos de George Clinton, com as bandas Parliament e Funkadelic, Bambaataa apostou também em um visual viajante. “Tínhamos que aparecer”, relembra ele, sobre os chapéus, roupas e óculos que usava na época.
O electro evoluiu para outra direção no Brasil e, nos anos 90, o funk como conhecemos hoje começou a tomar forma. Bambaataa já visitou alguns bailes, mas ele não está disposto a passar a mão na cabeça do gênero. “O funk carioca faz as pessoas dançarem no mundo inteiro, mas as letras focam muito em mulheres e sexo, sexo, sexo...”, diz ele.
Aos 56 anos, sendo que mais de três décadas ele passou embalado pelo hip-hop, Bambaataa adota um tom professoral para justificar a bronca. “Precisamos de uma revolução no funk carioca. Precisamos falar do que está acontecendo na comunidade, em como sair dessa situação. Ainda dá para dançar, mas é preciso mandar a mensagem.” E, disso, ele entende.