Como é este cenário em solo nacional e quem são as principais cantoras que se encaixam no gênero? Anitta, Luísa Sonza e Giulia Be se enquadram?
Definir a música pop é uma tarefa difícil - defini-la em um contexto nacional é provavelmente, uma tarefa impossível. Em um cenário brasileiro fortemente influenciado por sons, ritmos e tradições diferentes, o gênero passou por diversas transformações e é resultado de um hibridismo cultural muito grande.
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Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Anitta, Manu Gavassi, Ludmilla, Giulia Be, Luísa Sonza e IZA se encaixam nesse estilo. Todas são grandes nomes do cenário da música pop no Brasil, cada uma com as suas particularidades ao flertar com sonoridades nacionais específicas - seja sertanejo, funk, rap, axé, e outros.
“Eu vejo que, no Brasil, esse conceito de música pop historicamente designa um estilo musical mais híbrido, segmentado, complexo e fluido se comparado aos padrões difundidos pela indústria norte-americana e europeia. Aqui no Brasil, a música pop tangencia um sincretismo maior de estilos, como o rock, a bossa nova, a MPB, o axé, o funk e o sertanejo”, explicou Felipe Simões, jornalista e pesquisador de comunicação e música pop, em entrevista à Rolling Stone Brasil.
O cenário da pop music norte-americana, por exemplo, segue um caminho mais linear e “caminha em uma direção mais previsível e segura”, como contou Felipe. “O estilo evoluiu, obviamente, mas sem grandes surpresas”, complementa o pesquisador.
Em contrapartida, aqui no Brasil, o gênero musical bebe na fonte de outros estilos. No início da década de 2010, por exemplo, o sertanejo universitário e o funk cresceram de uma maneira muito grande no país - e isso influenciou o pop brasileiro, principalmente com o fenômeno Anitta, de acordo com o pesquisador.
Ainda, o jornalista afirmou: "Veja como não é fácil definir a música pop no Brasil. Ela guarda muitas especificidades conforme cada momento. Todos esses hibridismos históricos da música pop nacional emprestam a ela certa imprevisibilidade."
“Creio que o Brasil tenha desenvolvido, na última década, um estilo mais particular de música pop, por assim dizer. O formato se enquadra na estética internacional, mas me parece haver sempre certo aspecto regional nas canções, seja o funk (carioca), o sertanejo (interior do país) ou mesmo o axé e o forró (nordestino)”, completou Felipe.
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A cantora pop de 20 anos, Giulia Be, é um dos principais nomes do gênero no cenário atual. Com "menina solta", a artista ultrapassou 123 milhões de visualizações no videoclipe da canção no YouTube.
Giulia contou em entrevista à Rolling Stone Brasil: “O pop é maravilhoso porque ele sempre se reinventa. Beatles é pop, Elton John é pop, Michael Jackson é pop, Lulu Santos é pop, Anitta é pop. Existem milhares de caminhos dentro do pop. Tenho muito orgulho de ser uma artista pop, de estar fazendo músicas que eu acredito ter qualidade. Sempre viso fazer trabalhos os quais, daqui a 30 anos, eu possa cantar e me sentir orgulhosa de os ter feito, na mesma medida de hoje.”
Conheça "menina solta":
Luísa Sonza, aos 22 anos, também é um dos principais nomes do gênero do país hoje, e soma vários hits na carreira. Dentre eles estão: "Boa Menina", "Devagarinho", "Garupa", "Braba", entre outros sucessos.
A cantora une as sonoridades do pop, principalmente com o funk - e as ramificações deste ,- e reiventa ambos os estilos musicais com os quais mais se identifica.
Em entrevista à Rolling Stone Brasil, a artista acrescentou sobre o pop no Brasil: "É um cenário que cresce cada dia mais, né? Hoje, o pop é um dos gêneros mais ouvidos do país. Me sinto muito honrada por fazer parte desta nova geração ao lado de tantos artistas incríveis como Lexa, Anitta, Mc Rebecca, e tantas outras."
Conheça "Devagarinho":
Como o nome sugere, a música pop norte-americana foi criada com o objetivo de comercialização e venda em larga escala, para que fosse capaz de alcançar o máximo número de ouvintes possível, de todas as classes sociais.
Desse modo, o pop surge como um estilo comercial que pretende alcançar o máximo de público, indo na contramão de gêneros como o clássico/erudito e o rock. Para isso, são utilizadas fórmulas melódicas simples combinadas com refrões de fácil reprodução e memorização, muitas vezes repetidos em diversos momentos de uma canção. Assim, as faixas são vendidas rapidamente e se tornam populares em uma velocidade surpreendente.
“Em primeiro lugar, a música pop norte-americana possui todo um aparato comercial e industrial que faz dela um produto com excelente potencial de venda e exportação. O mercado musical norte-americano ainda é o maior do mundo, tanto em ritmo de venda quanto em relevância. E isso certamente influencia o consumo musical no Brasil”, disse Felipe.
“Não deve ser esquecido o processo de ‘americanização’ da sociedade brasileira, que avança com brutal força, e colabora para o aumento do consumo de música internacional, especialmente de língua inglesa, no Brasil”, completou.
Vale lembrar que o estilo cresceu a ponto de se tornar um fenômeno sócio-cultural muito além da música. Agora, abrange consumo, moda, imagem e arte, como afirmou Felipe no livro Aspectos Gerais da Cultura Pop.
O jornalista contou que o pop internacional chegou ao Brasil de “forma mais intensa e avassaladora” com o início dos videoclipes e, principalmente mais tarde, com a vinda da MTV para o Brasil na década de 1990. Ele afirmou como a emissora “teve papel fundamental na veiculação mais ampliada do produto pop internacional em nosso país.”
Sobre a exportação, complementou: “A partir da década de 1980, a performance e a estética da espetacularização firmaram-se como linguagem principal da música pop e rock. Claro que isso tem relação com o nascimento da MTV norte-americana. O espetáculo é uma estética que dialoga mais facilmente com públicos diversificados, de diferentes localidades, culturas e backgrounds. A imagem tornou-se tão importante quanto a música, e o pop ainda hoje se alimenta dessa herança.”
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“O cenário pop nacional faz amplo uso dessa linguagem. Na década de 1990 houve ensaios tímidos de se apropriar dessa linguagem (Sandy e Júnior, por exemplo), mas acredito que os maiores expoentes na atualidade sejam a cantora Anittae os grupos de sertanejo universitário”, concluiu.
Com o cenário fidelizado aqui no Brasil a partir do forte prestígio da MTV no país, o espaço para as divas pop só cresceram. De uma maneira muito mais híbrida do que o estilo norte-americano, porém. Ao chegar ao país, inclusive, a pop music se reinventou e foi recriada com as nossas variadas culturas locais.
No entanto, ser uma referência da música pop e se encaixar no contexto nacional não é uma tarefa fácil. Giulia Be contou: "Tive medo da palavra pop star por um tempo. Essa palavra vinha com um peso. Na minha cabeça, você precisava usar certas roupas ou fazer certas coisas, ter uma aparência específica. Na medida em que minha música foi se desenvolvendo, eu encontrei o meu tipo de pop star. Eu não quero ser parecida com ninguém, mas quero mostrar meu próprio caminho dentro disso."
O pesquisador também falou sobre a responsabilidade da música pop como uma ferramenta de comunicação. “A música e a cultura pop vão encontrando meios, linguagem e estéticas para dialogar e estabelecer novas conexões com seu público. Certamente, a interação com a música pop no Brasil, nacional ou internacional, se dá de formas distintas”, explicou.
A figura da diva pop se estabelece exatamente dessa questão da linguagem acerca do estilo. Principalmente porque o estilo é “um potente dispositivo cultural de identificação, especialmente entre a parcela mais jovem. Ainda é capaz de influenciar hábitos de consumo e estabelecer tendências”, de acordo com o pesquisador.
Felipe concluiu: "Independentemente da linguagem utilizada pelo artista, não podemos esquecer que a música pop, para além de seu papel como entretenimento, deve produzir entusiasmo no seu público, deve impressioná-lo e, ao mesmo tempo, mobilizá-lo. Música é arte, ainda que produzida em um formato comercial. E, como arte, a música é sobre o despertar de emoções, seja uma bela canção de amor ou uma boa batida dançante. Enquanto a música pop puder continuar reinventando-se para produzir em seu público emoções, ela continuará subsistindo no cenário musical."
Giulia Be afirmou sobre a música dela: "Antes de ser cantora, compositora, sou uma contadora de histórias. Gosto de entender a emoção do outro e desenvolver uma letra a partir de um sentimento. [...] Mais do que combinar ritmos, acredito que a minha música é focada na linguagem, na forma de se comunicar com o público. Antes de realmente começar a fazer música, estudei muito para aprender a me desenvolver como compositora."
“Eu buscava referências variadas, que iam desde música sertaneja a rap. E tentei achar alguma mescla nesse caminho. Procuro aquele elemento ‘chiclete’, que vários sertanejos têm, mas ao mesmo tempo mantendo um toque refrescante de um ‘flow’. A maioria das faixas do EP soltatem essa pegada”, concluiu.
Conheça "se essa vida fosse um filme", de Giulia Be:
O que é ser diva pop? Para Felipe, a titulação atualmente está relacionada mais com "a mística gerada sobre a imagem de si mesma do que em relação à longevidade da obra artística e das cifras de vendas acumulada durante a carreira."
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O comunicador completou: “Vejo o conceito de ‘diva’ ser aplicado às artistas internacionais que possuem uma capacidade de imprimir uma imagem e uma atitude próprias em suas músicas, clipes e performances. Não se trata apenas de voz e carisma, mas, colocando em termos bem rasteiros, da capacidade de impressionar e de comunicar a partir dessa impressão. São aristas cuja imagem, por si só, é capaz de ‘make a statement’. Vale lembrar que desde a década de 1980 a voz deixou de ser um atributo fundamental para a indústria musical e deu lugar à estética do espetáculo.”
Não há uma regra ou fórmula para uma artista ser entendida como diva pop. Madonna‘consolidou’ essa tendência há muito tempo. Contudo, é claro, esse estilo foi modificado, experimentado por novas cantoras, se ramificou e existem diversos “modelos” de celebridades que se encaixam no conceito.
Luísa Sonza contou: "Para mim, ser uma diva pop é fazer o que você mais ama que é trabalhar e criar dentro deste universo artístico musical, ser autêntica, e não parar de trabalhar. E é isto que tenho tentando fazer todos os dias."
Giulia acrescentou: "Ser uma pop star é basicamente você cantar sua música e ter pessoas apaixonadas pelo teu trabalho. Eu acredito que, cada vez mais, o pop muda. Junto com ele, o termo pop star se renova, se reinventa. Billie Eilish é uma pop star, Rosália é uma pop star. E são artistas que encontraram o caminho delas, são completamente diferentes da imagem tradicional que nós estamos acostumados. E eu estou buscando o meu caminho."
Com um conceito modificado a partir das novas experimentações, e bem mais aberto para a pluralidade dentro do estilo musical do pop, o Brasil e as divas pop nacionais exploram estes vários sons dentro do gênero, que sofre alterações a partir das culturas locais de cada estado ou região.
Se o pop ganhou tanto reconhecimento nos últimos anos, isso aconteceu por conta do fenômeno Anitta.
Antes dela, porém, Ivete Sangalo foi um marco no cenário nacional. A artista apresentou ritmos nordestinos e afro-brasileiros, como o axé, combinados à música pop mainstream. Desde então, se tornou uma das principais cantoras - certamente é uma grande diva do país.
Claudia Leitte também é um dos destaques entre as cantoras brasileiras. A artista iniciou a carreira solo com o single de estreia "Exttravasa", que rapidamente se tornou um hit nacional, e o principal sucesso do carnaval de 2008 . Ao longo da trajetória solo, soma vários hits como "Baldin de Gelo", "Taquitá", entre muitos outros.
Logo no início da década, em 2012, um nome que ganhou atenção no cenário musical nacional foi a Ludmilla - uma das principais cantoras do país hoje, que com tamanho sucesso, conta com um público também internacional muito grande. A artista, porém, transcende o pop e explora variadas sonoridades brasileiras como pagode, funk e outros.
Em 2017, o single "Pesadão", de IZA, em parceria com Marcelo Falcão, marca o início da carreira incrível e brilhante da cantora no Brasil. Desde o início, a artista apresentou um pop original, recriado a partir da musicalidade nacional.
Além delas, outras cantoras também se destacam como divas nacionais. São elas: Manu Gavassi, Giulia Be, Luísa Sonza, Lexa, Carol Biazin e mais. Vale lembrar que cada uma com suas particularidades, influências musicais e sonoridades originais.
As drag queens também somam o movimento pop aqui no Brasil. São elas: Gloria Groove, Pabllo Vittar, Aretuza Lovi e mais.
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