Mesmo com tumulto e problemas técnicos, norte-americanos fizeram apresentação energética, caótica e barulhenta no festival
A espera valeu a pena: o Rage Against the Machine fez um grande show no festival SWU Music & Arts, em Itu, interior de São Paulo. Headliners da primeira noite da maratona musical (que continua no domingo, 10, e na segunda, 11), os norte-americanos lidaram com diversos problemas - do som à tentativa de invasão da área Vip - mas conseguiram fazer aquela que foi a melhor e mais energética apresentação da noite.
Idolatrados por uma legião de roqueiros que, engajados como a banda ou não, se identificam de alguma forma com as letras de protesto, os integrantes subiram ao palco às 22h20, 15 minutos depois do previsto. Quando as luzes se apagaram e a estrela vermelha, símbolo do grupo, surgiu no telão ao fundo do palco, ao som de uma sirene, a banda iniciou os acordes de "Testify", do terceiro e último disco de inéditas da carreira, Battle of Los Angeles, de 1999. Mesmo depois de a banda ter se separado e de tanto tempo sem inéditas, o show não perde força: a guitarra de Tom Morello é a síntese da desorganização/caos urbano, enquanto que o baixo de Tim Commerford é uma bomba constante nos ouvidos.
Ao menos quando as caixas funcionam. Durante dois momentos do show, o som simplesmente parou de funcionar - enquanto a banda, com as caixas e os fones de retorno, não percebeu o problema e seguiu tocando como se nada estivesse acontecendo. Uma falha inadmissível para um festival deste porte, ainda mais na principal atração da noite. Na segunda parada, que durou cerca de três minutos, o público vaiou e bradou palavrões destinados ao SWU, antes que o vocalista Zack de La Rocha voltasse fazendo versos freestyle até que o som se ajeitasse. Mas não foi só: depois da música "Know Your Enemy", o show teve de ser paralisado por conta da pressão do público da pista normal sobre as grades da pista Vip.
Um dos alambrados que separava parte da pista geral, localizado na porção do lado direito do espaço, caiu. De acordo com o bombeiro Marcelo Silva, o ocorrido se deu devido ao excesso de gente na área e ao consequente "empurra-empurra". O público que se encontrava na frente da divisória começou a recuar e a estrutura não aguentou. A queda da grade de ferro feriu algumas pessoas, que foram encaminhadas aos postos médicos situados nas extremidades da arena. Ainda não foi divulgado pela organização o número oficial de feridos, mas estima-se, após pesquisa em quatro tendas médicas, que cerca de 30 pessoas acabaram se machucando.
A paralização durou cerca de cinco minutos - depois, o grupo voltou com "Bulls On Parade". Dedicando "People of the Sun" para "o povo corajoso do MST", pedindo punhos fechados para o alto e dizendo obrigado em português, Zack fez rap, cantou e deixou a mensagem de "ódio ao sistema" que é o cerne da banda. A fúria das letras sai em forma de pulos do público, que, como um só corpo, foi abaixo com faixas como "Guerrilla Radio" e "Bullet in the Head", enquanto Morello, Commeford e De La Rocha pulavam e batiam os pés como loucos tentando escapar de uma camisa de força.
Mas nada se compara à vibração do local durante a execução da última música do setlist, no bis. "Killing in the Name", talvez o maior hit da banda, levou a uma espécie de catarse geral. O show terminou às 23h45 - deixando o público, que liberou todos os demônios ao som pesado (e, por vezes, perturbador) da banda, descansar para o segundo dia de shows, do qual farão parte Joss Stone, Sublime With Rome e Kings of Leon, entre outros.