Ícone do jazz e do R&B foi vítima de câncer no fígado; "Hit the Road Jack", "Unchain My Heart" e “Georgia On My Mind" fazem parte do legado do artista
"O único gênio verdadeiro" do mercado musical: essa era a definição dada por Frank Sinatra a Ray Charles. O ícone do jazz e do R&B faleceu há exatos cinco anos, em 10 de junho de 2004, aos 73 anos, vítima de câncer de fígado.
Natural de Greenville, na Flórida, Ray perdeu a visão aos sete anos de idade, devido a uma doença não diagnosticada. Logo após o incidente, o garoto se tornou aluno de uma escola especial para cegos e surdos, no mesmo Estado, onde desenvolveu as habilidades musicais que mais tarde o tornariam mundialmente famoso.
Por meio do rádio, nos anos 40, o instrumentista teve o primeiro contato com o jazz e o blues. Ray, então, passou a integrar diversas bandas do gênero, essencialmente como pianista. Em 1947, Ray rumou para Seattle, a fim de montar um grupo próprio. Lá, ele conseguiu seu primeiro contrato com a Swing Time Records - "Confession Blues" foi a primeira faixa do músico lançada no mercado. Cinco anos depois, a então iniciante Atlantic Records, incluiu o cantor em sua lista de artistas - posteriormente composta por outros jazzistas de peso, a exemplo de Charles Mingus e John Coltrane.
Com "I Got A Woman", de 1954, Ray ganhou a atenção do público norte-americano, atravessando depois as fronteiras geográficas e alcançando o restante do mundo. Na sequência do sucesso do artista, vieram os hits "número-um" das paradas "This Little Girl of Mine", "Lonely Avenue", "Mary Ann" e "Drown in My Own Tears". O primeiro álbum do músico, homônimo, acabou sendo lançado apenas em 1957 (o disco foi relançado em 1962 sob o título Hallelujah I Love Her So).
Um acordo mais lucrativo com a ABC Records deu fim à parceira com a Atlantic em 1959. Foi com a nova gravadora que Ray lançou o aclamado Modern Sounds in Country and Western Music, em 1962, além de outras faixas emblemáticas, entre elas "Hit the Road Jack" (1959), "Unchain My Heart" (1961) e "Georgia On My Mind" (1960), que se tornou o hino oficial do Estado da Geórgia em 1979.
Ray também se envolveu com participações em filmes e séries, a partir de 1961, depois de aparecer no filme Swingin' Along. O lado "ator" do cantor ganhou destaque na participação no filme Os Irmãos Cara de Pau, em 1980.
A agitada carreira do pianista manteve o ritmo também depois da virada do século. Frequentes apresentações em grandes eventos, como no Blues Passions Cognac Festival, na França, e no concerto em prol da paz, no Coliseu, em Roma, (ambos em 2002), fizeram parte da agenda de Ray. Quatro discos foram lançados entre o 2000 e 2004, sendo que os álbuns póstumos de estúdio Genius & Friends e Ray Sings, Basie Swings, foram disponibilizados em 2005 e 2006, respectivamente.
Pouco depois do falecimento do artista, a cinebiografia Ray chegou aos cinemas com Jamie Foxx no papel de protagonista. O filme foi dirigido por Taylor Hackford e contou com o acompanhamento do cantor durante todo o processo de produção. No entanto, o verdadeiro Ray não pôde assistir à premiere do filme, realizada em outubro de 2004. O resultado final rendeu a Foxx o Oscar de melhor ator pela performance.