Primeira noite do festival independente, que completa 15 anos, foi marcada por diversos estilos musicais
Recife está repleta de curiosos e admiradores de seu tradicional carnaval. A temperatura está alta e a empolgação dos visitantes e de quem mora na cidade mais ainda. Uma leve brisa à noite até tenta quebrar a sensação de estufa, mas não chega ao ponto de tornar o clima, digamos, fresco. Mas é carnaval e certamente ninguém está preocupado ou se sentindo em demasia incomodado com o suor. Ao andar pelas ruas recifenses, se você não encontrar alguém completamente trajado de fantasias carnavalescas, vai ao menos achar simples adereços em grande parte das cabeças.
Os 15 verões do festival Rec-Beat estão sendo comemorados neste ambiente tradicional de festa, até o próximo dia 16, no Cais da Alfândega. A primeira noite, neste sábado, 13, deu uma grande prévia do que deve ser o resto da maratona musical: plural e animada. Contando no line-up com os pernambucanos do Radistae e Zé Manoel, o mineiro Renegado, o baiano Lucas Santtana e os colombianos do Puerto Candelária, o Rec-Beat misturou elementos que vão da surf music até o jazz com cúmbia. Saiba abaixo como foram os shows.
Radistae (PE)
A noite teve início, às 20h20, com a apresentação da banda instrumental pernambucana Radistae. Ainda não havia muita gente reunida no espaço onde estava localizado o palco. Contudo, o quarteto formado por Gabriel Melo (guitarra), Yuri Queiroga (guitarra), Chico Tchê (baixo) e Pernalonga (bateria), que se somou a um trio de metais durante a apresentação, ao executar sua sonoridade que segue o estilo da surf music sessentista, conseguiu garantir a animação dos poucos presentes. As guitarras reverberadas e o som, em um dos momentos do show, que representava o vai e vem das ondas, reforçavam ainda mais o clima surfista, que não deixa de estar relacionado à praiana Recife - mesmo que o péssimo odor do rio Capibaribe (localizado ao lado do palco) insistisse em lembrar das questões de poluição da cidade. Todavia, se a apresentação corria bem, um imprevisto encerrou a noite do Radistae. Por conta da queda do gerador de som, o grupo teve de interromper o show e, por causa do horário, não conseguiu finalizar o que havia começado.
Zé Manoel (PE)
Problemas sonoros resolvidos, era o momento de mudar o estilo musical - do rock surfista à música popular brasileira, cheia de influências de grandes nomes de sua história. Era a apresentação de Zé Manoel. O músico de Petrolina trouxe ao palco baixo acústico, percussão, flauta transversal, bateria e piano elétrico. Juntos, os instrumentos mostraram, em diversas faixas, referências a ritmos como choro, maracatu, baião e samba, entre outros. Algumas faixas tinham clima mais praiano que outras, e um dos exemplos desse tipo de influência foi dado quando convocou a cantora Érica Maria, de Roraima, para executar dois clássicos de Dorival Caymmi, "Rosa Morena"e "Vatapá". A postura de Zé é tranquila e segura (assim como sua música), tanto a ponto de se permitir, em pleno carnaval, cantar a mais intimista "Valsa da Ilusão", que recebeu aplausos do público antes mesmo de seu término. A apresentação foi encerrada com a positiva "Saraivadas de Felicidade", que conta com aspectos musicais do maracatu e do baião.
Renegado (MG)
Renegado representou o hip hop na primeira noite do Rec-Beat. Contando com baixo, guitarra, bateria e um DJ, o rapper mineiro mostrou suingue e, não diferente das atrações anteriores, também trouxe uma mistura de estilos. Suas músicas traziam batidas de rap, samba, reggae, música cubana e rock. O som de Renegado e banda atingiu a plateia a ponto de alguns até tentarem se arriscar em passos de break - sem sucesso, já que ou o chão de paralelepípedos prejudicava ou o grau etílico dos indivíduos impossibilitava a realização, com equilíbrio, de movimentos mais radicais. Mas tudo bem, é carnaval. A apresentação teve até espaço para uma versão hip hop, cheia de scratches, de um dos hits cantados por Roberto Carlos (a letra é de Tim Maia), "Não Vou Ficar".
Lucas Santtana (BA)
Jogos de luzes intensos acompanharam os trechos mais pesados das músicas de Lucas Santtana. O baiano trouxe ao evento seu rock, que traz um pé no dub e, em outras composições, no samba, colocando na mesma panela cavaquinho, guitarra, sampler e sintetizador. A banda abriu o show com "Cira Regina e Nana", na metade realizou sua versão para "Faixa Amarela", conhecida Brasil afora na voz de Zeca Pagodinho, e encerrou com "Positive Vibrations", clássico de Bob Marley, que foi acompanhada em forma de dança por grande parte do público. Talvez sua faixa mais conhecida, "Lycra Limão" também integrou o set list. As instrumentais marcaram presença da mesma forma - "Awo Dub" foi uma delas - trazendo um clima de psicodelia e experimentações ao festival.
Puerto Candelária (Colômbia)
Em uma noite com estéticas musicais diversificadas, não era de se estranhar que um grupo como o Puerto Candelária estivesse com o papel de encerrar a série de cinco shows programados para o sábado, 13. Os colombianos não só mostraram um som de qualidade, como souberam entreter o público. O interessante é que o estilo da banda não é o mais familiar para os que estavam presentes, já que talentosamente fazem uma espécie de ponte entre o jazz e a cúmbia, ritmo típico da Colômbia - além de outras sonoridades latinas, como salsa e merengue. Ao longo da noite, compostos de vestimentas que intensificavam ainda mais o estereótipo de grupos latinos, os integrantes brincaram com o público (com direito a coros engraçados como "Noite legal! Carnaval legal! Brasil legal! Vocês legal! [sic]"), executaram suas canções (entre elas "Vuelta Canela", "Muerta" e até uma versão inusitada para "Ghostbusters", de Ray Parker Jr.) e mostraram que, no quesito rebolado, Beyoncé e Carla Perez ainda têm muito o que aprender.