Senador Marcos do Val mencionou técnicas do filme 'Golpe Duplo' como estratégia para manipular narrativas políticas
Um dos detalhes mais inusitados do relatório da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe no final do governo de Jair Bolsonaro foi a menção a um filme estrelado por Will Smith. Durante as investigações sobre as ações do senador Marcos do Val (Podemos-ES), mensagens revelaram que o parlamentar utilizou técnicas descritas no filme Golpe Duplo (2015), protagonizado pelo ator americano, para embasar suas estratégias políticas.
No longa, o personagem de Will Smith, um golpista profissional, utiliza manipulação psicológica para enganar suas vítimas. Segundo a PF, Do Val mencionou essas técnicas em mensagens enviadas à deputada Carla Zambelli (PL-SP), afirmando ter usado uma "estratégia de manipulação no contexto de influência subliminar" para promover a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
Eu usei uma estratégia chamada ‘Reação de Goche’. Depois leia sobre isso. Já foi mostrado no filme Golpe Duplo com Will Smith. O que ele fez no filme sobre o número 55, eu usei nas entrevistas a palavra principal CPMI”, escreveu o senador.
No filme, o personagem de Will Smith "programa" mentalmente uma pessoa para escolher o número 55, e Do Val teria adaptado isso em suas declarações públicas.
A referência ao filme surge em um momento crítico do inquérito, que investiga como integrantes próximos ao ex-presidente Bolsonaro tentaram alterar as narrativas sobre um plano criminoso que incluía gravar o ministro Alexandre de Moraes, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com a PF, Do Val "atuou no interesse da organização criminosa com o objetivo de dificultar e embaraçar os procedimentos investigatórios".
Em fevereiro de 2023, Do Val revelou à revista Veja que o ex-deputado Daniel Silveira havia pedido para gravar uma conversa com Moraes. A gravação seria usada para tentar anular o resultado das eleições de 2022. No entanto, pouco depois, o senador alterou sua versão, negando a participação do ex-presidente Bolsonaro no plano. A PF acredita que essa mudança de discurso foi parte de uma estratégia para confundir as investigações e proteger aliados.
O relatório também aponta que a trama ocorreu em dezembro de 2022, período em que a organização criminosa estava ajustando os últimos detalhes de um decreto golpista. Para a polícia, as ações de Do Val e de outros integrantes tinham como objetivo desviar o foco das investigações e dificultar a apuração dos fatos.