O ator fala sobre sua biografia, que chega às livrarias para revelar detalhes da vida, da carreira e da doença que encarou
Desde agosto do ano passado, tanto foi repetido que a vida de Reynaldo Gianecchini daria um livro que isso de fato acabou acontecendo. A história do ator poderia virar uma bela adaptação para a ficção, mas rendeu uma obra biográfica igualmente intrigante, que conta uma vida cheia de coincidências, acasos, sortes que viraram azares e azares que viraram sortes. Acaba de chegar às livrarias Giane – Vida, Arte e Luta, do jornalista Guilherme Fiúza (autor de Meu Nome não é Johnny). O livro, apesar do título, consegue escapar daquele modelo de histórias de superação, e narra uma trama não linear daquelas de ler de uma vez só – e às vezes esquecer que aquele personagem com passagens surreais é o cara que atualmente faz o Nando da novela Guerra dos Sexos.
O sempre reservado Giane, como é conhecido, contou em entrevista à Rolling Stone Brasil que o livro, de alguma forma, foi um jeito de conseguir contar sua vida, sempre alvo de especulações, nos termos dele. “É uma forma de contar o que vale a pena. Eu aceitei fazer esse livro por causa do Guilherme Fiúza, que é um jornalista que eu admiro muito. Ele tem uma forma de contar muito bacana, sem fazer livro de autoajuda e sem tentar me pintar como super-herói”, diz Gianecchini. “Se fosse para a história ser inspiradora, como as pessoas queriam que fosse, seria por tudo que ela é – pelo jeito que ela é contada, com bom humor, sem ficar só falando da doença.”
A doença a que ele se refere, é, claro, o linfoma não-Hodgkin, rara e agressiva forma de câncer com a qual Gianecchini foi diagnosticado no já citado mês de agosto de 2011. Após 38 anos vivendo uma vida rica em experiências, todas relatadas pela pena de Fiúza, o ator nascido na cidade de Birigui, interior de São Paulo, se viu diante da possibilidade de morrer – e como é sempre o caso nessa situação, o desafio de superar o câncer foi um divisor de águas para ele de tal forma que o tornou elegível para uma rica biografia com apenas 40 anos de idade.
“Eu fui muito honesto, falei minha vida inteira para ele”, diz sobre o autor. “Mas eu sabia que ele ia contar com muita elegância a história e ficar nos fatos que são relevantes, que fazem uma história bonita. O livro é cheio de imagens muito fortes e isso é mérito dele como escritor”, elogia o ator, que define as sessões de entrevista como terapêuticas – apesar da ausência de uma característica essencial do processo terapêutico, que é o sigilo. “Conforme eu falava, me vinham cheiros, me vinham imagens das quais eu já tinha esquecido, fiz algumas ligações que talvez não tivesse feito antes na vida”, relembra. “Nenhum tema foi difícil. A parte de que eu menos queria falar era a doença, porque tinha acabado de me livrar dela e ia ter que reviver tudo. Foi a parte que achei que poderia ser mais chatinha... e nem foi, também. Foi legal repassar tudo e analisar as coisas friamente.”
“Realmente me entreguei. E tinha a prerrogativa depois de aprovar ou não. E quando li, aprovei absolutamente tudo, não pedi para tirar nada. A ideia era essa mesmo, mostrar os meus defeitos, as irritações, coisas politicamente incorretas”, continua Giane. “Também não tive nenhum momento de ‘aí não vamos entrar’ durante as entrevistas. Falei de absolutamente tudo. Mas uma preocupação nossa foi de não expor ninguém que faz parte da minha história, seria muito deselegante. E não entrar nos detalhes que não são importantes.”
De fato, bem pouca coisa ficou de fora. Estão lá seus tempos de excessos (tanto de “quase-perversão”, quanto de uma fase “quase-assexuada”), a briga com o empresário, que segundo a imprensa de fofocas, poderia ter tido um caso com Giane, o casamento com Marília Gabriela, a jornalista imponente que ele via, encantado, ainda na infância, no TV Mulher. Ele não se acanha nem mesmo ao falar a respeito do notório boato de que seria homossexual e que, na verdade, seu casamento com Gabi serviria para encobrir o romance dele com o filho mais novo dela. “Essa questão da fofoca nunca foi um peso para mim. Acho tão absurdas certas histórias que vão andando sozinhas, sem a minha participação... essa história, particularmente, é quase algo de que a gente ria, de tão absurda. Nunca atrapalhou nossa vida, nem deixou a gente chateado”, conta o ator. “A verdade é uma só e a gente vivia uma verdade linda. Quem nos conhecia sabia. Não ficávamos preocupados com o que as pessoas iam pensar de uma história tão absurda que alguém inventou.” Trazer o assunto à tona novamente com o livro é algo que não preocupa Reynaldo Gianecchini: “É importante mostrar também o tanto que você é sacaneado e é minha postura não ficar negando mentira na imprensa porque senão não ia fazer mais nada. Não acho que vá alimentar mais e acho que esse livro não alimenta nada nesse sentido. A ideia não é alimentar fofoquinha nem entrar em detalhes polêmicos ou dúbios, que gerem uma curiosidade desnecessária.”
Dono de 40 anos intensos e expostos, primeiro para lentes de fotógrafos, depois a câmeras e plateias, o modelo e ator define suas muitas experiências, viagens pelo mundo e aventuras pouco convencionais: “A vida é assim para todo mundo que tem coragem. É cheia de possibilidades para todo mundo, o que falta às vezes é coragem de se abrir para o mundo, bancar, em vez de ficar no confortável. Nunca me senti bem no ‘ok’, sempre quis ver mais, testar mais. Sempre fui muito corajoso, essa é a diferença. Porque você vai dar muita cabeçada, mas vai aprender. Quem não quer dar cabeçada fica no confortável e tem uma vida menos rica.”
As mulheres de Giane
As mulheres que apoiaram Reynaldo Gianecchini durante o tratamento – e na vida – têm destaque ao longo de todo o livro. Dentre elas, Giane faz questão de destacar desde a amiga de infância, Marilza, que o ajudou a conquistar seus primeiros amores, até a ex-esposa, Marília Gabriela, passando pela amiga Cláudia Raia, que fez de tudo, até brigar com o hospital para diminuir uma conta referente a uma cirurgia. Leia abaixo o que o ator falou sobre o significado de algumas dessas mulheres para dele.
Heloísa - “Minha mãe sempre foi uma grande parceira. Sempre foi muito minha amiga, sempre tivemos um diálogo gostoso e fomos próximos. Não foi a doença que aproximou a gente. Ela nos aproximou fisicamente, porque morávamos longe, nos víamos menos. Mas ainda assim, compartilhava muito minha vida com ela.”
Cláudia Raia - “A Cláudia foi o símbolo absoluto da amizade. Ela foi a primeira pessoa com quem tive contato, porque eu ia fazer Cabaret e ela teria que arrumar outra pessoa. E desde que ela soube, montou acampamento no hospital, ia todos os dias. Foi aquela amizade incondicional. Foi muito bacana colocar as pessoas no lugar certo, que você imaginava que elas mereceriam – na prateleira certa, de amiga-irmã de alma.”
Marília Gabriela - “A Marília é um grande amor da minha vida. Não tinha dúvida de que seria assim para o resto da vida. O nível que a gente teve de relação foi para o resto da vida. Embora o casamento tenha acabado, sempre tive a certeza de que o amor estava ali, muito presente. E que o cuidado um pelo outro existia. É muito bacana confirmar tudo isso.”