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Rio das Ostras Jazz & Blues Festival reúne cerca de 30 mil pessoas nas duas últimas noites

Christian Scott, Vernon Reid, Will Calhoun, Scott Henderson, Lucky Peterson e Tamara Peterson ganharam o público com ótimos shows

ANTÔNIO DO AMARAL ROCHA, DE RIO DAS OSTRAS Publicado em 04/06/2013, às 13h47 - Atualizado às 18h57

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Christian Scott no palco Costazul  - Cezar Fernandes/Divulgação
Christian Scott no palco Costazul - Cezar Fernandes/Divulgação

Os dois últimos dias do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival, em 31 de maio e 1º de junho, reservaram ainda mais surpresas para o público, estimado em 30 mil pessoas por dia.

Léo Gandelman e tributo a Celso Blues Boy marcam os dois primeiros dias do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival

As pessoas lotaram o espaço Costazul, ao ar livre, agora totalmente renovado e recapeado com placas de plástico de material reciclado. Na sexta, 31, o baixista Arthur Maia e sua banda abriram os trabalhos do palco Costazul com um show correto, tendo a responsabilidade de agradar a um público cheio de expectativas. Maia já emprestou o som de seu baixo fretless para nomes importantes da música brasileira e internacional, entre eles Jorge Ben Jor, Gilberto Gil, Ney Matogrosso, Milton Nascimento, Pat Metheny, Carlos Santana e George Benson. Neste show, o músico se deu ao luxo até de cantar, apesar de não se declarar cantor, e vocalizou seus temas suingados e de forte acento black usando o baixo como instrumento solo. O baixista mirim Pipoquinha, que causou assombro na edição de 2009 deste mesmo festival, deu uma canja.

Clique na foto acima para ver uma galeria com imagens do festival.

Aos 30 anos, o jovem trompetista Christian Scott (foto) foi a segunda atração da noite e mostrou que segue de perto as suas grandes influências, John Coltrane e Miles Davis. “Miles é Deus”, declarou à reportagem da Rolling Stone Brasil, nos bastidores. Apresentando-se com uma “banda-baby”, todos com menos de 30 anos – Braxton Cook (sax alto modificado), Lawrence Fields (teclados), Luques Curtis (baixo acústico) e Corey Fonville (bateria) –, Scott, com trompete desenhado por ele próprio, foi o artista que trouxe o jazz mais “tradicional” ao evento, mas ainda assim com ares contemporâneos e inovadores na forma. Fez cinco temas em 50 minutos (“Klu Klux Police Department” foi o mais significativo deles), dando espaço para todos os companheiros brilharem em solos.

Vernon Reid & Masque, com participação da cantora Maya Azucena, vieram logo em seguida. Tocando uma guitarra totalmente distorcida, anárquica e com solos rápidos em temas de R&B e funk, Vernon, que toca no Living Colour, deixou o público em suspenso e fez uma perfeita fusão com os teclados de Leon Gruenbaun, o baixo de Steve Jenkins e a bateria de Chad Joseph. Nesta apresentação, Azucena foi se entregando totalmente nos momentos em que esteve no palco, apesar de a guitarra de Vernon precisar ter o volume abaixado para não encobrir a voz da cantora.

O baixista Stanley Clarke fechou a noite, repetindo o desempenho eletrizante que já havia acontecido no dia anterior, no palco da Praia da Tartaruga. Foi a oportunidade que ele teve de ser ouvido por um público maior e confirmar a sua genialidade e carisma.

No anfiteatro da Praia do Iriry, no sábado, 1º de junho, Léo Gandelman, acompanhado por Charlie Hunter (guitarra/ baixo), Renato Massa (bateria), Serginho Trombone (trombone) e Frank Colón (percussionista norte-americano radicado no Brasil), repetiu o show que já havia feito no palco Costazul no dia 30, quinta-feira. Bem mais à vontade e sem a pressão do horário rígido, Léo fez uma apresentação mais alongada e com maior interação com a plateia. Na tarde do mesmo dia, Christian Scott repetiu o seu curto, mas energético e envolvente show na Praia da Tartaruga, assistido por cerca de 10 mil pessoas.

À noite, no palco Costazul, o baterista Will Calhoun, também do Living Colour, que passou por Rio das Ostras na edição passada, e o saxofonista Donald Harrison fizeram o primeiro show, acompanhados de Mark Cary (piano e teclados) e Charnet Moffett (baixo). Calhoun se revezou na bateria e na percussão e abriu com o tema “Afro Blue”, de John Coltrane. Fez uso de instrumentos percussivos, um deles inspirado em uma viagem a Recife, onde se encantou com o maracatu. Usou também um instrumento percussivo eletrônico, em loop, e flauta em outro momento. Ele deu bastante espaço para o pianista Marc Cary e para o baixista Moffett, que explorou bastante arco e efeitos. A figura algo messiânica de Calhum, vestido de bata e calça branca, com seus longos cabelos trançados, atiçou a possibilidade de uma apresentação do Living Colour, já que Vernon Reid também estava presente no festival. Mas, infelizmente, isso acabou não acontecendo.

Scott Henderson, acompanhado do baixo de Travis Carlton e da bateria de Alan Hertz, fez o show mais rock and roll do evento. Henderson é um guitarrista da linhagem de Jimmy Page, Jeff Beck e Jimi Hendrix, e é no blues rock encorpado que ele se apoia. Em alguns momentos, pareceu tocar apenas para si próprio, de costas para a plateia, em uma viagem introspectiva, sem que isso parecesse desrespeito. Tal atitude justifica-se pela sua genialidade como instrumentista. O show do Scott Henderson Trio foi de tirar o fôlego e será lembrado como um dos mais eletrizantes da edição 2013 do festival.

Mas o line-up pareceu mesmo ter privilegiado os baixistas. Tanto que o show seguinte daquela noite teve a presença de três baixistas no palco. A Victor Wooten Band é formada por Victor Wooten (baixo de quatro cordas), Steve Bailey (baixo de seis cordas, teclado e trombone), Anthony Welington (baixo de cinco cordas), Dave Welsch (teclado e trompete), Derrico Watson (bateria) e Krystal Peterson (vocal). O som da banda tem bastante balanço e a voz agudíssima da loira Krystal fez o contraponto perfeito, enquanto ela cantava músicas de Steve Wonder, Michael Jackson e mais clássicos da música negra norte-americana. A cantora esteve perfeitamente integrada a essa massa sonora inusitada. O momento arrepiante do show foi o solo com o uso de harmônicos de Wooten para o tema gospel “Amazing Grace”, eternizado na voz de Aretha Franklin.

E, como aconteceu em todas as edições, o Rio das Ostras Jazz & Blues Festival programou uma atração arrebatadora para o último show, apesar de o artista escolhido ter se apresentado anteriormente no palco menor da Lagoa do Iriry, na quinta, 31. O escalado foi o guitarrista/ organista Lucky Peterson, de 48 anos, que já foi menino prodígio (gravou seu primeiro disco aos 5) e a cantora Tamara Peterson. A banda conta ainda com Tim Waites (baixo), Raul Valdes (bateria) e Sean Kellerman (guitarra). A primeira parte do show se apoiou na figura carismática de Lucky, que fez verdadeiras estripulias no órgão e na guitarra cantando blues, soul, R&B e rock and roll. Durante 20 minutos ele tocou no meio da multidão, dando um trabalho extra para a equipe de apoio.

Depois de ser bastante fotografado pela plateia, Lucky voltou ao palco e chamou Tamara. A partir daí, quem assistia pôde se esbaldar com a presença, a voz e a sensualidade da cantora. Foi o show mais longo de todo o festival, com duração recorde de 2 horas e 45 minutos. Perto das 4h da manhã, o público de 30 mil pessoas começou a se dispersar – e a julgar pelos comentários, muitos marmanjos devem ter torcido para ter uma manhã de sonhos com Tamara.