O Rei subiu ao palco na noite desta terça-feira, 30, na primeira de dez apresentações com ingressos esgotados
Um novato brigando contra gigantes experientes. Ainda assim, o mais novo levou a melhor. Esta batalha quase bíblica, entre Davi contra vários Golias, deu-se na noite desta terça-feira, 30, no Espaço das Américas, localizado na Barra Funda, em São Paulo. Foi a potência das vozes dos três mil presentes que elevou “Esse Cara Sou Eu” acima de outros hits românticos do cantor, exibidos em série na apresentação que abriu a turnê de dez datas em São Paulo.
A força do Rei é evidente. O espaço esteve lotado de cabeças, em grande parte grisalhas, acomodadas em mesas. O mesmo deve se repetir nas outras datas da temporada, já que todos os 30 mil ingressos disponíveis para os shows já foram vendidos. Imbatível, o hitmaker segue em forma.
E Roberto está mais ousado do que de costume. Ele, famoso por manter o roteiro das performances inalterado, dá um espaço considerável para as duas canções inéditas que foram lançadas no EP do ano passado. O sucesso delas, claro, é um reflexo de uma série de acertos mercadológicos.
“Esse Cara Sou Eu”, que dá nome ao extended play, é a canção dos protagonistas da atual novela das 9 da TV Globo, Salve Jorge. Enquanto a outra, “Furdúncio”, é um funk melody criado com o auxílio do DJ Batutinha. Com a adição de “A Mulher Que Eu Amo” e “A Volta”, canções dele, mas nunca antes gravadas em seus discos, o EP vendeu um milhão de cópias em três semanas, no fim de 2012.
Cantando para um público predominantemente feminino – se não eram maioria, elas eram as mais barulhentas, sem dúvida –, o Rei não desaponta e traz canções conhecidíssimas e carregadas daquele romantismo que ele, como poucos, sabe fazer.
Com um atraso de 36 minutos, às 22h06, a banda dele, formada por sopros, duas guitarras, baixo, bateria, percussão e piano, subiu ao palco sozinha. A partida foi dada com um pout-pourri chamado, no set-list, de “karaokê de abertura”. O público, ainda tímido, sussurra versos de “Como é Grande o Meu Amor Por Você” e “É Preciso Saber Viver”. Logo o volume sobe e torna-se uma ovação. Lá estava ele, o Rei, com seu indefectível terno azul-marinho e uma despojada camiseta, também azul, mas mais clara.
“Emoções”, “Eu Te Amo, Te Amo, Te Amo” e “Além do Horizonte” fazem seu papel de iniciar o transe hipnótico conduzido por Roberto Carlos. Depois disso, ele, já com o jogo ganho, faz o seu papel e dá o espetáculo. Conta histórias divertidas, sobre o cão Axaxá, que lhe inspirou para cantar “O Portão”, aquela cujo animal lhe “sorri latindo”, ou sobre a forma que ele encontrou para cantar o sexo, sem que fosse censurado pelo moralismo da época pós-Jovem Guarda. Após esta, ele deu início à sequência quente, com “A Proposta”, “Seu Corpo”, “Café da Manhã”, “Os Seus Botões”, “Falando Sério” e “O Côncavo e o Convexo”.
Mas Roberto é um safado puritano. Para ele, até o sexo é baseado no amor romântico e eterno, longe das simples tentações carnais. Isso sem falar nos momentos religiosos da apresentação, com as clássicas “Nossa Senhora” e “Jesus Cristo”, e da homenagem à mãe, já falecida, em “Lady Laura”. “Cantar essa música agora traz um sentimento diferente”, diz ele, antes de intepretá-la.
Outro momento de ousadia foi com “Fera Ferida”, que ganhou novos arranjos sob o comando do DJ Memê. “Nunca achei que fosse cantar nesse ritmo”, afirma ele, antes de engatar nos famosos versos de um coração machucado revestidos com uma batida dance.
A performance chegou ao fim com a tradicional distribuição de flores, rosas vermelhas e brancas, dadas para as fãs que, já tendo decorado o enredo do show, se dirigiram à frente do palco no momento exato.
Entre tantos clássicos, “Esse Cara Sou Eu” se agigantou no Espaço das Américas. Uma evidência que o público fiel ao Rei está sedento por novidades. Por enquanto, estão previstos os lançamentos de Reimixed, álbum de remixes, e Roberto Carlos Rock Symphony, que pretende unir o veterano no palco com roqueiros brasileiros. Nada do prometido disco de inéditas. Sem dúvida, mais canções novas trariam um novo vigor ao Rei – ainda que seja impossível discutir a sua capacidade de manter as velhas conhecidas em alto nível.