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Rock in Rio 2017 - sem glúten, açúcar ou lactose e a festa do orgânico: os pedidos dos artistas e os perrengues para quem cuida dos camarins

Anna Mota Publicado em 16/09/2017, às 19h38 - Atualizado às 23h37

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Roger Daltrey e Pete Townshend em show do The Who no Hyde Park, em Londres - AP
Roger Daltrey e Pete Townshend em show do The Who no Hyde Park, em Londres - AP

“Não é glamour, só é para quem vê de fora”, crava Ingrid Berger, responsável pelo backstage e pela coordenação dos camarins do Rock in Rio. Ela mesma já se deixou levar por essa ilusão. “Há muitos anos eu morava na Europa e fui ver um show do The Who. Namorava um jornalista que tinha acesso ao backstage. Tinha uma tenda gigante, helicópteros chegando, só gente bonita, taças de champanhe.... Fiquei meio ‘caraca, que mundo é esse? Adoraria estar nele’. Anos depois, estou aqui fazendo a tenda”, ela relembra. Mas a realidade que encontrou é de resolver perrengues.

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“No Rock in Rio fazemos tudo com o maior cuidado e dedicação. O festival preza pelo acabamento, pela qualidade do material, o conforto das pessoas. Os artistas sabem que sempre estarão em um ambiente em que todo mundo terá muito cuidado com tudo. Faço esse trabalho com muito carinho desde 2011, em Lisboa, Madri e Las Vegas também. Trabalho em outros festivais, mas o Rock in Rio é minha paixão.”

Hoje, Ingrid lida com o “mundo ideal” em termos de como acomodar os famosos antes dos shows na Cidade do Rock, mas nem sempre foi assim. “Em 2001 e 2011, por exemplo, os camarins ficavam fora da Cidade. Imagina o trabalho de colocar todo mundo dentro do carro para levar para o show? Depois tinha que trazer de volta. Nisso, o cara esquecia uma calça ou sapato e tinha que atravessar a avenida e passar no meio do público para chegar atrás do palco. Este ano, estou muito, muito feliz. Como isso aqui é tudo novo e partimos do zero, conseguimos fazer toda a estrutura viável para um show. Tem catering, camarim e sala de produção logo atrás do palco. Esse é o mapa perfeito para um festival. Acompanhei tudo desde a arquiteta fazendo a planta, estudamos bastante”, diz ela, que comanda uma equipe de 12 pessoas, mais voluntários.

Se parece pouca gente para cuidar de tanta coisa, é porque é mesmo, conforme ela garante. Mas tem dado certo, até porque idos são os tempos dos famosos pedidos por centena de toalhas brancas. “Tem bandas que são mais exigentes. Os móveis têm que ser todos pretos, eles querem que a gente forre todas as paredes. Já o outro quer tudo branco. Este ano não aconteceu isso, mas com o Paul McCartney, por exemplo, não pode ter nenhum material sintético ou de origem animal no camarim dele, tem que ser tudo de tecido”, relembra. “Tem outros que tomam águas especiais, muitos querem comida vegetariana ou vegana. Há produtos que são bem comuns nos Estados Unidos ou na Europa e que não existem aqui, mas não é coisa de outro mundo. Bolacha Oreo, ursinho Haribo, carne seca, dá para comprar. Tem alguns casos que são mais difíceis mesmo, precisa correr atrás. Para o DJ Steve Aoki você tem que comprar um barco inflável e bolo para ele jogar na cara das pessoas”, ri. Mas em geral, os tempos são outros, e Ingrid garante que as bandas estão bem mais “conscientes” e pedem, por exemplo, uma quantidade de bebida alcoólica significativamente menor. Este ano, conforme foi noticiado amplamente, só o The Who pediu um pouco mais de bebida. “Mudou o comportamento. Artistas mais velhos, como o Aerosmith e os próprios Stones eram outra coisa quando tinham 20 anos a menos, a mudança foi radical. Eles precisam se cuidar, não são mais jovens”, diz, contando que recebe muitos pedidos que lembram menu de restaurante de academia: arroz integral, peito de frango grelhado, saladinha e suco prensado. “Pedem muito orgânico e todo mundo é alérgico. Ninguém mais come glúten, farinha, açúcar branco”, lista. “Como você acha que um Mick Jagger ia correr três horas no palco se ficasse se entupindo de batata frita?”, brinca. “E as bandas jovens estão no mesmo caminho, super saudáveis. É para onde o mundo está caminhando.”

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