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Rolling Stones fazem chover clássicos em Porto Alegre

Na despedida do grupo do Brasil, a tempestade que se abateu na cidade não esfriou os ânimos da banda nem do público

Por Cristiano Bastos Publicado em 03/03/2016, às 08h38 - Atualizado às 13h56

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Rolling Stones durante show no estádio Beira Rio, em Porto Alegre - Duda Bairros/Divulgação
Rolling Stones durante show no estádio Beira Rio, em Porto Alegre - Duda Bairros/Divulgação

Uma grande expectativa pairava nos ares da quente e abafada Porto Alegre na última quarta, 2, afinal, seria a primeira vez (talvez a última) que a cidade veria o show daquela que é uma das grandes bandas de rock todos os tempos e, sem dúvida, a maior em atividade – os Rolling Stones. Cerca de 50 mil pessoas foram ao estádio Beira-Rio acompanhar o derradeiro show da etapa brasileira da turnê Olé, que também passou por Rio de Janeiro e São Paulo (primeiro na quarta, 24, e depois no sábado, 27). Não tem como não ficar espantado com o fato de que, aos 54 anos de Rolling Stones, Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts seguem, além da credibilidade intacta, com um fulgor “juvenil” de dar inveja a muita gente nova. O profissionalismo, um dos indiscutíveis predicados da banda, também continua inabalável. Na capital gaúcha, os Stones deram um espetáculo inesquecível, de música e carisma, que será recordado por gerações.

Ao longo de pouco mais de duas horas de espetáculo, os Stones desfilaram 18 músicas de seu comprido repertório e, debaixo de copiosa água vertida dos céus, deixaram bem claro que “mau tempo” é uma palavra que não existe no vocabulário da banda. Mesmo inteiramente molhados, não teve sequer um momento em que não pareceram estar felizes por dividir o mesmo palco após tantas décadas juntos. Realmente admirável.

Foi só Keith Richards surgir no palco, pontualmente às 21h, e desferir os riff inicial de “Jumpin’ Jack Flash”, que a chuva começou a cair impiedosamente sobre público e banda. Mas nada que o envolvente ritmo de “It’s Only Rock’n’Roll (But i Like It)”, que veio a seguir, não tenha feito todo mundo superar com imensa satisfação o molhado contratempo. Foi quando Jagger ganhou o público de vez lançando mão do legítimo “gauchês”: "Olá, Porto Alegre. E aí gurizada?"

Após uma arrebatadora interpretação de “Tumbling Dice”, canção retirada do álbum duplo Exile on Main St. (1972), seguida de “Out of Control”, pinçada de Bridges to Babylon (1997), foi o momento de revelar aos gaúchos a canção vencedora na votação promovida pela banda nas redes sociais. Os acordes iniciais, ao piano, de “Let’s Spend the Night Together”, a escolhida e um dos maiores hits da história da banda – presente no longínquo Between the Buttons (1967) –, pôs o estádio inteiro a dançar na chuva. Surpresa maior, logo em seguida, foi a pop-psicodélica “Ruby Tuesday”, da mesma época de “Let’s Spend the Night Together”, que ainda não havia sido executada na turnê. Foi um verdadeiro presente dos Stones; o público retribuiu entoando em coro seus pungentes versos.

Depois do poderio roqueiro de “Paint It Black” e “Honky Tonk Women”, veio o célebre momento – um dos mais esperados da noite – em que Keith Richards assume, com sua roufenha voz, os vocais e canta dois de seus temas. Extremante simpático e sorridente, Richards, acompanhado de Ron Wood, interpretou a bluesy e belamente melancólica “You Got the Silver”. E também “Before They Make Me Run", do álbum Some Girls (1978), que, apesar do alegre embalo de sua melodia, carrega em versos como “this another goodbye to another good friend” a tristeza pela perda de queridos amigos para as garras da heroína – caso do músico Gram Parsons.

Ao retomar a linha de frente, Jagger voltou a brincar em bom gauchês. "Ouvi dizer que aqui estão as gurias mais bonitas do Brasil. É verdade, guris?"

Um dos ápices da noite, com certeza, foi a execução do alongado blues “Midnight Rambler”, este do álbum Let It Bleed (1969), conduzido de maneira épica pela banda. Levando chuva na cabeça, a dupla de guitarristas alternava-se em rascantes duelos de guitarra. Foi a hora em que Ron Wood, guiado pela firme batida de Charlie Watts, tirou faíscas de seu instrumento.

Em seguida, a matadora sequência formada pela trinca “Miss You” (quando o baixista Darryl Jones, cheio do groove, esbaldou-se na levada disco), “Gimme Shelter” (em que Jagger, vestido em uma capa preta, fez um invocado dueto vocal com a excelente vocalista Sasha Allen) e a bubblegum “Start Me Up”. Dançando debaixo da torrencial chuva – que não deu descanso um minuto sequer – tal qual Fred Astaire, Jagger deu um “banho” de empolgação no público. O Beira-Rio inteiro caiu no balanço levado por sua voz e pelos passos de dança toda particular. Foi bonito de se ver.

Enquanto o telão exibia demoníacas alegorias, começou a soar a introdução de “Sympathy for the Devil”, uma das mais esperadas nos shows dos Stones, cujo refrão a turba entoou em uníssono. Outro refrão também gritado em alto e bom som pela multidão foi o da dançante “Brown Sugar”, do álbum Sticky Fingers (1971), que finalizou a apresentação. No bis, como igualmente aconteceu nos shows realizados nas outras capitais brasileiras, teve “You Can’t Always Get what You Want”, desta vez com participação de 24 integrantes do Coral da PUC-RS, e, como não poderia deixar de ser, “(I Can’t Get No) Satisfaction”. Todo mundo voltou para casa molhado da cabeça aos pés, mas certamente feliz e, principalmente, muito satisfeito. Próxima parada: Lima, no Peru.