Banda mostrou garra e repertório diferente na performance da noite deste sábado, 27
Depois de uma performance contagiante na última quarta, 24, os Rolling Stones voltaram ao estádio Morumbi ainda mais descontraídos para a segunda e última apresentação na capital paulista, realizada neste sábado, 27. No geral, esta performance da Olé Tour foi mais cheia de energia do que o show realizado no meio da semana.
Precisamente às 21h, logo depois que o vídeo de abertura foi exibido nos telões, a banda entrou ao som de “Jumpin' Jack Flash”, durante a qual Keith Richards teve a oportunidade de mostrar seu antológico e ardido riff. “It’s Only Rock and Roll” (But I Like It)”, homenagem ao mentor Chuck Berry e uma declaração de princípios da banda sobre o poder do rock and roll, como de hábito, teve o refrão cantado a plenos pulmões pelo enorme público. “Tumbling Dice”, de Exile on Main St. (1972) e “Out of Control”, single de Bridges To Babylon (1997), também foram bem recebidas. Na sequência, "All Down the Line", um dos destaques de Exile on Main St., ganhou uma versão bem animada.
Depois, foi a vez da canção escolhida pelos fãs em votação via internet. Na quarta, 24, a selecionada tinha sido “Bitch”. No sábado, 27, a honra ficou com "She's a Rainbow", canção do álbum psicodélico Their Satanic Majesties Request (1967). Ficou claro que grupo a executou no improviso, já que é uma música difícil de ser reproduzida ao vivo. "Agora vamos tocar uma romântica", disse Mick Jagger antes dos Stones executarem a magnífica "Wild Horses", balada de Sticky Fingers (1971). “Paint It Black”, hit que nos anos 1960 era realçado pela cítara de Brian Jones, agora ganha um versão elétrica e um pouco mais lenta, mas segue levantando o clima do show.
“Honky Tonk Women” também foi outro sucesso recebido com enorme entusiasmo. "Desculpe se estou meio devagar hoje, acho que comi muitas coxinhas", falou Jagger com um jeito sarcástico e com um português bem aceitável. O cantor, então, apresentou os músicos de apoio: os vocalistas Bernard Fowler e Sasha Allen, os saxofonistas Karl Denson e Tim Ries, os tecladistas Matt Clifford e Chuck Leavell e o virtuoso baixista Darryl Jones, que está com eles desde 1993. Em seguida, foi a vez de Jagger chamar os outros Stones. O guitarrista Ron Wood e o sempre discreto e encabulado baterista Charlie Watts foram saudados com muito carinho e calor. Mas Jagger, que estava bem venenoso, sacaneou os colegas: chamou Wood de "Rogério Ceni" e Watts de "rainha da bossa nova e rainha da bateria". Foi sério apenas quando trouxe de volta Keith Richards. Nada se comparou à recepção dada ao velho Keef. Enquanto o público bradava “Keith, Keith, Keith!”, o guitarrista agradeceu com seu jeito folclórico e inimitável. "Obrigado, mas tenho um show para fazer", falou. Nessa hora, Jagger rumou para os bastidores para tomar um fôlego e Richards assumiu o vocal. Este, na quarta, 24, tinha usado o momento para interpretar “You Got the Silver” e a marca registrada “Happy”. Desta vez, ele ficou com o blues "Slipping Away" e "Before They Make Me Run", de Some Girls (1978).
Jagger retornou e a banda inteira engatou “Midnight Rambler”, um dos destaques do álbum Let it Bleed (1969). A canção longa e teatral foi inspirada em Albert de Salvo, o infame Estrangulador de Boston, e Jagger encarnou o serial killer fazendo caretas, andando na ponta dos pés e se espreitando como o se estivesse prestes a arrombar a porta da casa de alguma pobre vítima. Com Jagger arrasando na gaita, a banda entrou no groove e no blues, que começou lento, foi ganhando velocidade até chegar a um clímax arrebatador.
O grupo saltou no tempo e abandonou as más vibrações do fim da década de 1970, pulando para a atmosfera hedonista de Nova York na época da disco music. Era a hora da dançante “Miss You”, hit de Some Girls mais um grande momento de Jagger, que entrou tocando guitarra e depois rebolou e agitou todo mundo. Quem brilhou foi o baixista Darryl Jones, cujo instrumento pulsava com um groove matador.
A arrepiante “Gimme Shelter”, canção que definiu com força o final melancólico que teve os anos 1960, é sempre interpretada com gosto pelos Stones. Richards e Wood conjuraram riffs ameaçadores e Jagger cantou de forma dramática a letra sobre apocalipse e guerra. Agora que Lisa Fischer não está mais na banda, quem divide os vocais com Jagger é a bela Sasha Allen. Ela foi para a passarela que invadia pista e cantou o verso “Rape, murder, it’s just a shot away” como se o mundo estivesse mesmo acabando. A letra fala de uma tempestade que arrasa a vida do protagonista da canção. Curiosamente, a chuva começou a cair forte logo que a música começou. Se não foi uma tempestade, pelo menos deixou o público desconfortável. Já Jagger e Sasha não se importaram e cantaram no meio da água, deixando tudo mais irônico e real. Logo que a canção terminou, a chuva também desapareceu. Foi um grande momento da apresentação.
Esse instante catártico deixou a plateia sem ar, mas todo mundo se recompôs para entrar no clima de festa proporcionado por “Start me Up”, grande sucesso de Tattoo You (1981), uma canção sob medida para já deixar os fãs excitados. Quando o som de batuques (pré-gravados, por sinal) começou a ecoar no estádio, um tom de ameaça e de perigo tomou conta do ar. Chegava a hora de “Sympathy for the Devil”, canção que por muito tempo deixou os músicos ingleses com a pecha de “satanistas”. Assim, quando apareceram nos telões imagens do capeta e de outras coisas demoníacas, muitos se lembraram dos motivos pelos quais os Stones foram considerados a banda mais perigosa do planeta. Jagger, então, assumiu novamente o lado teatral para dar a vida a Lúcifer.
A farra seguiu com “Brown Sugar”, na qual os Stones não abandonaram o groove eletrizante por um instante sequer e o Morumbi inteiro caiu na dança. Depois de sair do palco por alguns minutos, os Stones retornaram para o bis com a sempre pungente “You Can't Always Get What You Want”, que assim como na primeira apresentação em São Paulo, esta semana, recebeu o acompanhamento da Sampa Coral. Quando o riff de “(I Can't Get No) Satisfaction” começou a ser executado por Keith Richards, o estádio praticamente chacoalhou.
Mais de 50 anos depois, o controvertido hit de 1965 ainda causa enorme comoção. Mas a canção tradicionalmente também anuncia o fim das apresentações dos britânicos. Depois de 2h20 de puro rock, a banda deixou o palco. Jagger, cujo domínio do português é cada vez melhor, foi novamente um mestre de cerimônias perfeito e um frontman insuperável. Woods e Watts se mostraram extremamente coesos e musicais e Richards esteve mais alerta do que na primeira apresentação. Os Rolling Stones encerram a turnê brasileira no dia 2 de março no Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre.
Rolling Stones no Brasil
Porto Alegre
2 de março (quarta), às 21h
Estádio Beira-Rio - Av. Padre Cacique, 891
Informações: www.ticketsforfun.com.br e premier.ticketsforfun.com.br