Saga X-Men se mantém interessante no cinema mesmo com vilão fora de forma
Em X-Men: Apocalipse, são as tramas paralelas que valem a pena
Maria Clara Mendonça
Publicado em 20/05/2016, às 14h57 - Atualizado às 15h07X-Men já era uma série de quadrinhos bilionária mesmo antes de chegar às mãos do diretor megalomaníaco Bryan Singer. Uma das tramas mais complexas da Marvel, a saga mutante envolvia diversidade de gênero, raça, crenças e nacionalidades desde as primeiras edições. Isso tudo além de ter um líder que usa cadeira de rodas e vilões complexos, como Magneto e o próprio Apocalipse, apresentado no novo filme da franquia, que estreou nesta quinta, 19.
Em X-Men: Apocalipse, a nona parte da franquia, vamos para a o Egito antes de Cristo, onde o todo-poderoso mutante En Sabah Nur (Oscar Isaac) é traído e soterrado por uma pirâmide que desaba. Corta para 1983, quando ele é despertado e resolve reunir todos os mutantes que consegue com a intenção de promover o apocalipse. Mas o Professor Charles Xavier (McAvoy) e seus estudantes não vão deixar o vilão correr solto com seu plano maligno.
Singer acerta em resgatar muitas referências dos quadrinhos e da própria animação da Fox, que hoje detém os direitos dos filmes dos heróis. Mesmo que as cenas no Cérebro (a máquina que o professor Xavier usa para amplificar os poderes e encontrar mutantes pelo mundo) não sejam as mais inéditas, ainda há frescor. A apresentação da base de treinamento, assim como sequências em Cairo, Berlim e Auschwitz, dão ao filme a variedade visual, cultural e linguística que tornam as HQs tão interessantes.
Alguns personagens ganharam profundidade e adicionaram mais personalidade à trama, como Noturno (Kodi Smit-McPhee), desajustado e cristão, e Mercúrio (Evan Peters), que ajuda a dar o tom de nostalgia oitentista que o filme pede (já que a história acontece em 1983) e está em uma das cenas mais divertidas. Como Jean Grey, Sophie Turner mostra que é muito mais do que Sansa Stark (de Game of Thrones), ainda que não tenha desenvolvido o potencial completo da heroína ruiva. Já atores como James McAvoy, Michael Fassbender (Magneto) e Jennifer Lawrence (Mística) criam unidade para a história, mesmo que em alguns momentos os diálogos dos personagens soem como um grande déjà vu.
As discussões dos X-Men em relação ao que é ser humano, o que é normal, o que é mortal, levam a história de Singer um pouco além das sagas de Capitão América e Batman vs Superman, que finalizam na tão batida destruição de Nova York e trazem personagens de potencial superficializados, que não se desenvolvem muito além dos superpoderes. Aqui, apesar de grand finale ser o conflito, com seus efeitos especiais daqueles que não deixam piscar, são o miolo e as tramas paralelas que realmente valem a pena.
Atenção: pode conter spoilers
O longa levanta questões como: você apagaria as memórias de quem você ama se pudesse? Se existisse a possibilidade desenvolver um poder ao máximo, usaria isso para o bem ou para o mal? Mas aí chega o vilão e mesmo, que a apresentação seja contundente e desperte a curiosidade do que está por vir, o fechamento não é dos melhores. Pensando que Apocalipse é o mutante mais velho do mundo, com quatro cavaleiros, cinco séculos de história, raízes no Egito antigo e a capacidade de absorver poderes, seria de se imaginar que o sujeito aguentaria pelo menos meia hora de briga.
A necessidade de criar o tão passado desfecho binário do bem contra o mal acaba “matando” o personagem antes da hora. Mesmo que saibamos que a morte não é o fim no universo Marvel, ele poderia ter se desenvolvido de uma forma mais intrigante, afinal, é apenas um mutante inteligente o suficiente para usar todas as habilidades na Terra em benefício próprio. Ele não poderia ganhar essa briga, já que sabemos que o filme terá sequências? Algo semelhante ocorre com Magneto. Mesmo com a humanidade impressa nos olhos azuis de Fassbender e protagonizando uma das cenas de angústia e dor mais intensas do filme, o personagem também carece de um desenvolvimento melhor, com um desfecho menos previsível. No mais, valem a pena os cinco minutos de Wolverine, que enriquece a trama situando a saga no tempo e espaço dos personagens.