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A mão que balança o rock

No primeiro dia da SPFW, Iggor Cavalera estremece a Galeria do Rock no desfile de sua grife, que teve Paulo Miklos como modelo; na plateia, Dinho Ouro Preto prevê retorno aos palcos para março

Por Anna Virginia Balloussier Publicado em 18/01/2010, às 15h06

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Iggor Cavalera tocou bateria durante o desfile de sua marca de roupas, a Cavalera - Pedro Amora
Iggor Cavalera tocou bateria durante o desfile de sua marca de roupas, a Cavalera - Pedro Amora

Não somos cientistas para medir a força que Iggor Cavalera emprega em cada pancadão que dá na bateria. Mas dá para arriscar um palpite: imagine um pratão de amendoim pintado em uma parede, e um elefante faminto correndo a 100 km/h em direção a ela. Basta dizer que você não gostaria de colocar sua cabeça entre executor (no caso, as mãos pesadas do ex-baterista do Sepultura) e alvo.

Depois de enfrentar cabeludos batendo cabeça em seus shows, Iggor encarou um público bem diferente daquele a que está acostumado - foi o criador da trilha do desfile da Cavalera, grife que abriu a São Paulo Fashion Week no domingo, 17, por volta das 11h30. A cenografia vinha in natura para a cena roqueira paulistana: a Galeria do Rock, cantão no centro da cidade que reúne diferentes tribos do gênero.

Jogados 15 anos, Iggor fundou a Cavalera em parceria com Alberto Hiar, o Turco Loco, e, ao menos em termos estéticos, não fez muito mais pela marca do que emprestar nome e cara de mau. Agora, no desfile que marcou a volta da Cavalera às raízes, como se a vida de cada roqueiro poser dependesse disso, o irmão de Max Cavalera pesou a mão, apresentando a sonoridade de seu projeto prioritário no momento, o Mixhell, na companhia de Laima Leyton, sua mulher. Rock pesado se fundiu a elementos do eletro, com direito à entrada de "Sweet Child O' Mine", o clássico do Guns N' Roses. Para quem estava a menos de dez metros, havia o sério risco de o cérebro virar mingau, tamanha a potência do som.

Banquinhos de papelão, com a águia-símbolo da Cavalera, circundavam o quarto andar da galeria - um prédio de 1963, que há muito tinha deixado de atrair a nata hype da cidade. Iggor, que nunca foi rato da Galeria ("quando moleque eu vinha só de vez em quando, comprar uns discos aí"), deu seu pitaco sobre o que viu na passarela: "Bacana. Mas faltou sexo, né?".

O mote da coleção era, afinal, "sexo, moda e rock 'n' roll", versão mais certinha do lema pelo qual viveram - e morreram - grandes estrelas do gênero, como Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison, estampadas em uma peça da coleção. Mais uma vez, a Cavalera compensou a coleção menos conceitual (a diretriz da marca é assumidamente comercial, focada na moda jovem urbana) com pequenas surpresinhas para o público, estilo Kinder Ovo, com brinde que supera produto.

Em temporadas passadas, alguns dos cenários foram o Minhocão e o rio Tietê. Dessa vez, como a Galeria do Rock voltou à moda, e a moda à Galeria do Rock, os modelos que apresentavam as roupas de Igor de Barros e Fabiano Grassi dividiram espaço com "nativos" da Galeria: um esquisitão com lente de contato que coloria a parte branca do olho, outro garoto que, em um mundo mais realista que o da moda, só chegaria perto de uma modelo acessando o site da Elite ou Ford Models, o casal de namoradinhos cujo rapaz lembrava um integrante perdido do Strike, duas louraças que insinuavam um algo-a-mais entre elas e terminaram fazendo sanduíche com... Paulo Miklos.

A primeira vez de um homem

Um beijinho da loura 1 (na bochecha e só, porque a Cavalera é rock, mas rock de família), depois outro, da loura 2. Não à toa o vocalista do Titãs mantinha este sorriso permanente em sua estreia na passarela, como se lhe tivessem pregado com tachas os dois cantos da boca.

Para entrar em ação, Miklos - que é também ator, em filmes como O Invasor e É Proibido Fumar - passou por uma espécie de "lava-rápido fashion": chegou lá com jeans gasto, camisa da Cavalera das antigas e tênis na fila do INSS, mas foi à passarela com coletinho estiloso, pisante com lantejoulas e, claro, os dois adereços platinados e com vestido cujo comprimento evidenciava a crise de identidade entre cumprir seu papel ou se assumir como blusa.

Entre os convidados da Cavalera estava Dinho Ouro Preto, puxando para fora da camisa aquilo que, em suas palavras, "salvou a vida": um escapulário. O "amém" de Dinho é a boa recuperação, após estadia prolongada no hospital, fins de 2009, por conta de um acidente no palco. "Não tô como eu era antes, mas já toco, canto", disse o líder do Capital Inicial. A previsão de volta aos palcos, avisa, é março.