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“Se considerarmos o quanto a nossa música é esquisita, estamos indo muito bem”, diz guitarrista do Grizzly Bear

Cultuada no universo indie, banda vem ao Brasil para duas apresentações, em São Paulo, 3, e no Rio de Janeiro, 5

Pedro Antunes Publicado em 01/02/2013, às 11h14 - Atualizado às 20h08

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Grizzly Bear - Patryce Bak / Divulgação
Grizzly Bear - Patryce Bak / Divulgação

Daniel Rossen e Ed Droste dividem voz, guitarra e composições no Grizzly Bear, banda vinda do Brooklyn, Nova York. Justamente por isso, a última frase de Rossen na entrevista à Rolling Stone Brasil soa tão honesta e verdadeira – ele sabe do que está falando: “Se considerarmos o quanto a nossa música é esquisita, estamos indo muito bem”, disse o músico ao telefone. E não há nada de errado com isso, principalmente em dias em que a esquisitice deixou de ser pejorativa e ganhou status de termômetro cool.

Mas o que é esquisito, na visão da Rossen, é impecável para outros: vocais dobrados, harmonias delicadas de folk aliadas a pedais de efeitos viajantes, texturas encharcadas de notas longas e psicodélicas. E tudo ganhou mais força com Shields, quarto álbum do grupo, bombardeado de elogios por todos os lados, dada a sua fofura amarga e aprisionadora: é fácil se perder em devaneios ouvindo alguma das dez faixas. Em 2006, por exemplo, Jonny Greenwood, guitarrista do Radiohead, disse que o Grizzly Bear era a sua banda favorita.

É com Shields que o grupo desembarca no Brasil pela primeira vez, para apresentações em São Paulo, no Cine Joia, neste domingo, 3, dentro do projeto Popload Gig, e no Rio de Janeiro, no Circo Voador, na terça, 5, graças à iniciativa de crowndfunding do grupo Queremos.

Adoráveis losers

A falta de autoestima do Grizzly Bear é o que os deixa tão adoráveis. Antes de firmar o contrato para as duas apresentações por aqui, durante as negociações para a turnê na América Latina, a banda reclamou da falta de apoio dos produtores de shows locais, utilizando o Twitter oficial: “Nós realmente queremos ir, mas por alguma razão as pessoas por trás das casas de show e festivais não estão convencidos de que vale a pena. A única maneira de mudar isso é dizer ao Lollapalooza Chile que nós compensamos ou façam um produtor local saber que vocês nos querem aí... até agora, só o México e a Argentina se provaram fortes o suficiente. Mas a gente adoraria passar por Peru, Chile, Brasil... todos os países da América Central e América do Sul”, dizia o texto.

Rossen não dá bola para a reclamação cheia de carência. “Não costumo seguir o nosso Twitter”, diz ele, que mostrava uma confusão em meio às risadas sobre a situação. “Mas não deveria ser nada. Talvez uma daquelas brincadeiras da web. Mas, de qualquer forma, estamos indo, não é mesmo?”, completou.

Shields transforma-se nos shows ao vivo da banda. Como se fosse um O Médico e o Monstro musical, livro clássico do escocês Robert Louis Stevenson, a sonoridade ganha imponência e agressividade. “É um bom show de rock and roll”, afirmou o músico, sem modéstia. “Nosso som fica mais alto, mais dinâmico que nos discos. Com muita luz”, garantiu. A ideia é tocar praticamente Shields na íntegra, mas sem esquecer o resto da discografia da banda – Horn of Plenty (2004), Yellow House (2006) e Veckatimest (2009). “Tentamos tocar duas músicas de cada álbum também.”

O último disco soa nitidamente diferente dos demais e, embora Rossen não saiba explicar exatamente o que levou a isso, os fatos se explicam por si só. Depois da turnê de Veckatimest, em 2010, o grupo debandou, cada um foi para um canto. Rossen, por exemplo, começou a trabalhar novas músicas, inicialmente previstas para o novo álbum do Grizzly Bear, mas que acabaram reunidas em um EP solo, Silent Hour/Golden Mine. Já o baixista Chris Taylor fundou um selo, o Terriblem Records, e deu continuidade ao seu trabalho como produtor (ele assina o disco Forget, do Twin Shadow) e com o seu projeto próprio, CANT.

Longa gestação do disco

No reencontro, já em 2011, as engrenagens pareciam enferrujadas. “Nesse disco trabalhamos mais duro do que em qualquer outro”, explicou ele. Primeiro, a banda tentou gravar em Marfa, no Texas. Todos chegaram com ideias de músicas, mas as gravações não foram como esperado e eles decidiram voltar para a litorânea Cape Cod, em Massachusetts. E, lá, as coisas funcionaram. Das primeiras sessões texanas, apenas “Sleeping Ute” e “Yet Again” sobreviveram. “O material que juntamos não fazia sentido porque o fizemos separadamente. Tentamos até perceber que o único jeito deste disco dar certo era fazendo as músicas juntos, sem competição de compositores”, contou Rossen, que divide as letras com Droste, que criou o Grizzly Bear, em 2002, como um projeto próprio. “Foi uma forma desafiadora de escrever, e foi divertido na maior parte das vezes.”.

O próprio disco parece contar essa história. “Sleeping Ute”, que abre o álbum, é uma composição de Rossen que existe desde 2010. Ao passar das faixas, a colaboração cresce até “Sun In Your Eyes”, escolhida para encerrar o trabalho. “É também uma das minhas músicas favoritas porque todos colocaram a mão nela. Tem o dedo de todos lá. E foi uma música que ninguém acreditava que se tornaria real. Começamos com ela em janeiro e ela só foi ganhar uma letra e melodia em maio [de 2012]”, relembrou

Apesar da boa receptividade, o álbum não foi indicado a principal premiação da música, o Grammy. Ed Droste, chateado, desabafou no Twitter com Justin Vernon, do Bon Iver, que tem duas estatuetas da premiação na sua estante. “Não sei como você conseguiu”, escreveu ele para Vernon. “Qual é o seu segredo?” Já Rossen faz o tipo pés-no-chão da dupla criativa da banda. E é daí que surge o título deste texto: “Acho que o mundo do Grammy é muito diferente do nosso. Eles não incluem muita gente. É o quanto mais você vende e, com isso, só artistas com contratos com grandes gravadoras conseguem”, disse. “Todos querem reconhecimento, é compreensível ficar chateado, mas precisamos ser realistas e seguir em frente. Aproveite o que você tem. Se considerarmos o quanto a nossa música é esquisita, estamos indo muito bem”, afirmou ainda, orgulhoso com o próprio discurso. “É ótimo poder ir para o Brasil.”

Grizzly Bear no Brasil

São Paulo

Domingo, dia 3 de fevereiro, às 22h

Local: Cine Joia - Praça Carlos Gomes, 82 - Liberdade

Ingressos: de R$ 180 (inteira) a R$ 90 (meia)