Lou Barlow, líder do grupo, esteve no Brasil em 2010, com o Dinosaur Jr., grupo do qual é baixista
A cabeleira cacheada de Lou Barlow cobria todo o rosto do guitarrista e líder do Sebadoh nesta apresentação de estreia em solo brasileiro, na noite de domingo, 20, no Sesc Pompeia, em São Paulo. Escondia o rosto e os olhos, emoldurados por óculos que parecem ter saído diretamente de algum seriado de televisão dos anos 1980, mas, por outro lado, ele abria o coração com uma performance ao melhor estilo de tudo que a estética lo-fi representa - que ele ajuda a difundir há 27 anos.
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Solos grandiosos, pirotecnias e perambulações pelo palco não fazem parte do repertório do show de uma banda como como o Sebadoh – ainda bem. Mesmo que se mostrem simpáticos no palco, Barlow, Jason Loewenstein (baixo, guitarra e também voz) e Bob D'Amico (bateria) são adeptos da música como conexão entre público e banda. Não por acaso, surpresos com os pedidos dos fãs mais exaltados postados na fila do gargarejo, eles comemoraram as escolhas como gol em final de campeonato.
“‘My Drugs’?”, disse Barlow, com dúvida. “Ninguém nunca pediu essa música!” E assim o grupo executou a faixa lançada no EP Secret, de 2012. O mesmo se repetiu ao fim do show, quando toda a programação foi jogada para as cucuias e passaram a perguntar a opinião do público sobre qual faixa deveria ser tocada.
Os acordes dissonantes, voz e melodias tortas e uma bateria insanamente acelerada fazem sentido na linguagem do Sebadoh. Desde 1986, Barlow e companhia ajudaram a fomentar um movimento lo-fi, ou seja, baixa fidelidade, no qual as imperfeições são benvindas e trazem um sentimento de sinceridade às canções. Pavement e Guided By Voices, entre outros, também figuram nesse movimento que gravava os próprios discos em casa, de forma quase artesanal, que hoje tem filhos como The Cribs, Kurt Ville, Wavves e Best Coast, entre tantos outros.
Sebadoh é antipop na essência, mas a Choperia do Sesc, localizada na zona oeste paulistana, estava com os ingressos esgotados – nesta segunda, 21, o grupo repete a dose, no mesmo local. No palco, o trio representa tudo aquilo que foi chamado de indie antes do termo se espalhar e ser banalizado.
É como “Gimme Indie Rock”, terceira canção executada na noite, e certamente um hino para a maioria dos presentes ali. A letra, em primeira pessoa, conta o caso de um jovem que começou a ouvir rock indie em 1983, já cansado do hardcore e começando a fumar maconha. Sonic Youth, Stooges e Hüsker Dü são citados como influência.
“Esse é o nosso primeiro show aqui”, diz Barlow, ainda tímido, ao microfone. Ao longo da performance, ele e Loewenstein vão se mostrando mais à vontade, a medida que trocam de posição e instrumentos. Com Loewenstein nos vocais e guitarra, aliás, o show ganha ainda mais peso, com mais potência e agressividade. Já um dos melhores momentos de Barlow nos vocais ficou com “I Will”, faixa lindíssima do álbum Defend Yourself (2013) que marca o retorno do grupo. O disco anterior havia sido The Sebadoh, lançado em 1999.
Juntamente com “Soul and Fire”, de Bubble and Scrape (1993), e “State of Mine”, também do disco mais recente, Barlow expurga as dores amorosas com versos agridoces. “Tem tanta gente aqui!”, diz ele, em outro momento. “Estou nervoso.”
Foram quase 30 músicas, em uma sequência interrompida apenas para que os músicos afinarem – ou, neste caso, desafinarem – os instrumentos. Lá pela vigésima terceira canção da noite, Barlow começa a conversar mais com o público presente. Depois da zilionésima vez que alguém pediu por “Vampire”, lançada pelo grupo no EP Rocking The Forest, de 1992, ele confessou que eles não sabiam tocar aquela música, mas que a mostrariam no dia seguinte, no segundo show. “Vocês estarão aqui amanhã?”, perguntou ele, esboçando um leve sorriso após a resposta positiva.
“License to Confuse”, “Ocean” e “The Freed Pig” vieram para atender aos pedidos dos fãs e receberam uma resposta bastante positiva do público na Choperia. “Normalmente, tocamos por três horas, então isso é esquisito para a gente”, disse Barlow ao anunciar que a performance estava chegando ao fim após uma hora e meia. “New Worship” e “Brand New Love” encerraram as atividades às 20h45. Mas como as luzes não se acenderam totalmente, o público esperou.
Em menos de cinco minutos, o trio estava de volta ao palco, rindo. “Enganaram a gente!” Às 20h56, eles finalizam o show com “Willing To Wait”, uma balada do sexto disco do grupo, Harmacy (1993), a canção que mais se aproximou do pop na apresentação – e, ainda assim, essencial e espetacularmente indie.
O Sebadoh faz mais cinco shows no Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Cataguases e Maringá, entre os dias 20 e 30 de abril). Para saber mais da turnê, acesse o site oficial da banda (aqui).