O álbum psicodélico de Leno, até então sucesso da Jovem Guarda, foi produzido por Raul Seixas e censurado pelo regime militar; reedição traz fotos inéditas da parceria
Lançado em 1970, durante a fase mais chumbada da ditadura militar, o álbum Vida e Obra de Johnny McCartney, de Leno, ganhou neste mês reedição pelo selo norte-americano Lion.
Hoje elevado ao status de hype, o disco, a princípio, tinha tudo para dar errado. E deu. Gileno Azevedo, sucesso da Jovem Guarda nos anos 1960 como metade da dupla Leno e Lilian (perita em dublagens de hits internacionais da época), deu uma guinada na trajetória musical "certinha" e compôs um álbum carregado em psicodelia, recheado de letras contestadoras. Tudo depois de conhecer Raul Seixas, o ainda pouco conhecido músico que chegara à CBS, mesma gravadora do potiguar Leno, por meio de Jerry Adriani.
Em Vida e Obra de Johnny McCartney, produzido por Raul (que também se revezou nos postos de compositor, arranjador e backing vocal), o músico buscou um divisor de águas. O mar, no entanto, não estava para "peixes revolucionários" - não dois anos depois do AI-5, que instaurou a fase mais pesada do regime, em 1968. Como se não bastasse o veto da censura à metade das canções, a CBS - à espera de algo bem mais leve de um dos artistas mais pop que tinha no catálogo - acabou deixando o lançamento de lado. Pouco depois, o artista descobriria que a fita master havia sido destruída.
Fim da linha. Ou quase: em 1994, um pesquisador descobriu a tape original e o álbum - que teve participação das bandas de rock A Bolha e Los Shakers, esta do Uruguai - é enfim lançado, em edição limitada. Neste mês, o selo Lion aderiu à causa de Leno e preparou uma reedição de Vida e Obra de Johnny McCartney. O disco vem acompanhado de livreto de 24 páginas com fotos inéditas de Leno (que cedeu a tape original para remasterização) e Raul.
Pouco depois de Johnny McCartney, Raul gravaria seu segundo LP, Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, em parceria com o compositor capixaba Sérgio Sampaio, a cantora paulista Miriam Batucada e o ator e dançarino Edy Star.
A reedição custa R$ 50 e foi idealizada por Frederico Cesquim, único revendedor do título no Brasil, por meio do Record Collector. Há previsão, ainda, de uma edição espeial em vinil, com encarte e capa dupla, para os Estados Unidos.
Leno apresentará o repertório de Johnny McCartney na Virada Cultural, no palco Toca Raul, homenagem aos 20 anos de morte do músico baiano. Confira a programação completa do palco aqui.