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Sem homenagear Youthanasia, Megadeth faz show eficiente em São Paulo

O grupo se apresentou no Espaço das Américas no último domingo, 4

Gustavo Silva Publicado em 05/05/2014, às 13h27 - Atualizado às 19h43

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Megadeth no Espaço das Américas, no último domingo, 4 - Marcos Cesar de Almeida/Divulgação
Megadeth no Espaço das Américas, no último domingo, 4 - Marcos Cesar de Almeida/Divulgação

Em uma certa cena do filme O Lado Bom da Vida, o problemático protagonista interpretado por Bradley Cooper é presenteado com um iPod usado (“32 Gigas, 7 mil músicas”) recheado de canções de nomes como Stranglers, Sex Pistols, The Clash e do musical West Side Story (“me tranquiliza”, justifica o outro personagem em cena, na pele do ator John Ortiz). O diálogo segue com o ex-dono do aparelho: “Mas quando estou nervoso, algo bem comum nesses dias, me tranco na garagem com Metallica e Megadeth”. O homem encarnado por Ortiz dá um grito silencioso, faz caras e bocas. “Eu começo a destruir tudo, machuco minha mão...”. “Isso é coisa de louco”, Cooper intervém, no que o outro lado conclui: “É, mas faz com que eu me sinta melhor”.

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A mesma cena é usada para introduzir “Sweating Bullets”, uma das várias músicas executadas na passagem mais recente do Megadeth no Brasil – a 14ª, de acordo com seu líder, Dave Mustaine -, ainda que também seja útil para resumir o espírito da apresentação de uma hora e meia que a banda realizou em São Paulo no último domingo, 4, no Espaço das Américas.

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A nova turnê do grupo pela América do Sul havia sido anunciada como uma celebração dos 20 anos do lançamento de Youthanasia, na qual o álbum seria executado na íntegra tal como seus predecessores (Rust in Peace, de 1990, e Countdown to Extinction, de 1992) em anos passados. Em um momento digo de Sessão da Tarde, Mustaine teve que vir a público de última hora para desmentir a informação do que, aparentemente, foi uma confusão do barulho com uma banda de altos agitos.

O trabalho mais recente do Megadeth, o mediano Super Collider, não tem carisma para turnês fora do escopo de divulgação – algo que Mustaine deve reconhecer internamente, já que a única menção ao vivo do disco é a execução de “Kingmaker” e a decoração dos bumbos da bateria de Shawn Drover. No fim das contas, o quarteto americano voltou ao Brasil apenas para dar uma aula daquilo que seus conterrâneos (geográficos e também semelhantes em estilo) do Exodus sabiamente deixaram registrados em disco: “Good Friendly Violent Fun” (“uma boa e amigável diversão violenta”).

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A base do show foi a mais previsível possível. Todas as músicas que o grupo executou em sua última passagem pelo Brasil, quando abriu, em outubro passado as apresentações do Black Sabbath, estiveram no setlist. Até mesmo as (boas) projeções exibidas em um telão central e dois laterais que cobriam os equipamentos foram reaproveitadas. As menções-surpresa ao disco Youthanasia ficaram a cargo da faixa-título e “The Killing Road”, recepcionadas pelo público em geral de forma protocolar, além de “A Tout le Monde” e “Reckoning Day”, constantes nos shows do Megadeth. De surpresas, a dobradinha “Dawn Patrol” e “Poison Was the Cure” (ambas de Rust in Peace), momento no qual o baixista David Ellefson é a figura-chave, e “Set the World Afire” (de So Far, So Good... So What?, de 1988), primeira canção escrita por Mustaine em seu período pós-expulsão do Metallica.

Há um quê de loucura em sair de casa e desembolsar um bom dinheiro para escutar “Symphony of Destruction”, “Peace Sells” (com direito a intervenção no palco de Vic Rattlehead, mascote do Megadeth) e o encerramento “Holy Wars” exatamente da mesma forma e execução de sempre. Por outro lado é nesse porto seguro que está a força do Megadeth. É como se o personagem de Ortiz deixasse a tela e se juntasse às rodas de pogo (que se formaram constantemente) para começar a destruir tudo e voltar para a vida real com alguns hematomas e um pescoço travado – um mal do qual o parceiro de Mustaine nas guitarras, o excelente Chris Broderick, deve sofrer constantemente, tamanha a energia que apresenta no palco. Mas, no fim, é isso o que faz o fã se sentir melhor – e poucas bandas sabem a melhor forma de canalizar tal sentimento como o Megadeth.